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TEMA LIVRE : Ronaldo de Castro
CPI dos Ladrões Públicos
13/06/2001- Ronaldo de Castro*
Em meio à enxurrada de CPIs no Congresso, só superada pela hemorragia de MPs do Planalto tucanizado, na tentativa ainda fracassada, até agora, de criação e instalação no Senado da CPI do Peculato ou dos Ladrões Públicos, vulgo CPI da Corrupção, o que mais estarrece a nação não é a dificuldade de obtenção do número de assinaturas exigidas pelo regimento interno para formalizar a medida, mas o empenho explícito, declarado e descarado para impedi-la por parte do governo, do partido do governo e do próprio presidente da República em carne viva, e ainda mais sob alegação fútil, burlesca à jocosidade. Aí tem, claro.
Nem o outro Fernando, o Collor das Alagoas, que renunciou ao mandato e não tinha a propalada cultura do Fernando da vez -- o tal FHC -- desceu a ignomínia de rasgar o livrinho (a Constituição) assim com tanta sem-cerimônia e impolidez, como fosse este um país de jagunços, à margem da lei.
O outro Fernando, o do PC Farias, parece tinha pelo menos um mínino de dignidade se comparado ao Fernando de hoje, o do Eduardo Jorge.
Será que o Fernando de plantão, esse da cátedra universitária, não sabe que o poder político-administrativo formal, à semelhança do cetro de Netuno, é constituído de um tridente com três chuços interdependentes (daí o “tri” de “tridente”) -- Executivo, Legislativo, Judiciário --, sendo vedada a interferência de um sobre qualquer outro (ou outros)?
Nesta circunstância, o açodamento autoritário do atual Fernando, que não é o Beira Mar -- é pior --, só poderia resultar mesmo na repreensão no discurso de posse do novo presidente do Judiciário nacional (STF) e nas porradas que tem levado de um Congresso frouxo, sim, mas nem sempre domesticável e/ou subornável.
De nossa parte, ratificamos à exatidão o que já dissemos em Suelto Pastoral anterior no “site” clickmt; o governo FHC acabou aí, tá mortinho da silva, faltando apenas a urna mortuária da renúncia ou do “impeachment” presidencial.
No respeitante a Mato Grosso, nessa pendenga o mais triste, mas nada estranhável, é a não aposição de assinatura de nenhum senador deste Estado na CPI dos Ladrões Públicos.
Mas deu a lógica, que ladrão não pega ladrão e, afinal, dos três representantes mato-grossenses no Senado, os dois senadores que não são do partido do governo -- o outro o é -- pertencem a partidos aliados do governo (PFL e PMDB). Portanto não podem ser favoráveis à CPI do Peculato, que o chefe não quer.
Aqui, algumas colocações e considerações pertinentes:
1 – Jânio Quadros e Collor foram forçados à renúncia não pelo que fizeram e sim pelo que se negaram a fazer, ou seja, não se submeteram ao Congresso na concessão de vantagens, propinas, liberação de verbas orçamentárias no interesse de senadores e deputados e outras quizumbas do gênero.
Já FHC devia renunciar por motivo diametralmente oposto, isto é, por excessiva submissão ao Congresso para obtenção de leis e decretos, inclusive o da própria reeleição, para entrega de mão beijada do patrimônio nacional à agiotagem internacional via privatização e/ou liquidação de empresas e bancos, estatais e privadas;
2 – Repita-se: normal e natural não tenham os senadores por Mato Grosso assinado o requerimento para criação da CPI dos Ladrões Públicos;
3 - O senador esperto A.P.B. Neto, com nascimento político na antiga Árena (é ou não é, porra?), é hoje (até quando?) do PSDB e “faz o que o senhor mandar”. Fez o que devia fazer ou não fazer e vai sofrer na carne graves conseqüências não pela posição diante da CPI dos Ladrões, que é normalíssima, mas pelo pronunciamento afoito e gratuito, num exibicionismo macabro, na sessão em que ACM formalizou a renuncia ao mandato senatorial (felizmente depois que o renunciante se retirou do Plenário).
De toda forma, deve saber o esperto senador A.P.B. Neto quem e o que é ACM (FHC o sabe) e que, como tribuno, continua o bom radialista de sempre e não é nenhum Rui, Montalverne, Lacerda, Vieira de Melo, Dom Aquino, Zé Feliciano e patativas outras de carteirinha; espera-se saiba também que bancadas de peso, no Congresso, são as de São Paulo e do Nordeste (esta, ainda sob ACM, não duvide), diante das quais a de Mato Grosso é o que é, ou seja, o nada, interessando a FHC, como a todo presidente, o apoio de bancadas regionais fortes, não a figura isolada ou a atuação individual de um único senador, por mais brilhante, puxa-saco ou bobó;
4 - Quanto ao senador Carlos Mão-de-Pilão Bezerra, o cargo que ocupa, como A.P.B. Neto e Jonas Pinheiro, é federal, foi eleito por Mato Grosso mas é senador do Brasil e o PMDB nacional apoia FHC, embora aqui no Estado possa não ser governo e até fazer oposição parcial ou pederasta ao governo tucano do barbudinho varapau.
O PMDB pode dar cacetada aqui, mas lá em Brasília o Mão-de-Pilão é tão governo ao ponto de ser reconduzido à presidência da Comissão Mista de Orçamento (exatamente onde se faz a começão).
Explica-se até por isso não tenha assinado a CPI do Peculato, medida que iria (ou vai) terminar dando com os cornos todo mundo sabe no lombo de quem (com a palavra Eduardo Jorge, o PC Farias de FHC, entre outros).
5 - No tocante ao senador Jonas Pinheiro, homem simples, afável, embaixador plenipotenciário de Santo Antonio do Leverger (aqui, mais uma impropriedade toponímica do legislativo estadual, a exemplo de Chapada “dos” Guimarães. Por que não “de” Leverger?), coleguinha de A.P.B. Neto na saudosa Arena, diligencia direto no Senado a liberação de verbas de fundos de investimento (vide FCO) ao empresariado rural que o lastreia nas campanhas eleitorais e é mais do que natural não assine o pedido da CPI dos ladrões Públicos.
Afinal (e só isso basta), é do PFL agregado ao governo do PSDB, esse PFL tão sósia da finada Arena, PFL que ama o governo, qualquer governo, tem gosto pelo poder e em meio à desgraça da crise nacional desencadeada por FIHC – é isso aí -- permanece espartanamente muito mais chegado a uma saladinha na base de “escargots” antecedendo o “menu’ principal de caviar do mar Negro com camarão e lagosta do mar Báltico, tudo regado com um bom “beaujolais nouvaux”.
Enfim, o PFL é o PFL, lá e aqui. E tudo quanto desejam partidos como PMDB e PPS é ser na prática um PFL gordo, saudável, cheiroso. Mas terão ainda muito que aprender.
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