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TEMA LIVRE : Kleber Lima
Acerca do equívoco
21/09/2005
Novamente a revista Veja (edição do último domingo, 18) destila todo o seu reacionarismo para tentar aproveitar a crise política provocada pelos medíocres do PT para atacar a esquerda, em particular, e o socialismo, em geral.
São dois os pressupostos da revista:
1) o equívoco primordial do PT foi ter nascido empunhando a bandeira socialista, em 1980, quando esse sistema já estaria carcomido pelo tempo e a história; e
2) o equívoco secundário, resultante do primeiro, foi transformar Lula no operário-símbolo dessa luta de conquista do poder, como recurso tático de acumulação de forças dentro do campo democrático para construir,a posteriori, um processo revolucionário.
É muita bobagem vendida num único texto. Sobre o equívoco socialista (que significa, na verdade de Veja, e a eternização do capitalismo), Francis Fukuyama o fez com muito mais propriedade nos anos 90, sob o título de seu famoso livro “O fim da história e o último homem”, e não prosperou. Porque é demais para a cabeça de qualquer pessoa com um nível de informação elementar a idéia de que o capitalismo - a sociedade de mercado, a concentração de renda, a exclusão social e a vulgarização da vida – possa ser o último estágio de evolução da organização social e econômica da humanidade.
Já quanto ao equívoco de Lula como vetor da causa socialista no Brasil, sou forçado a concordar. O problema dessa gente mal intencionada da direita ou a serviço dela (e mesmo de setores tidos de esquerda, mas desonestos intelectualmente) é que sempre pegam um dado verdadeiro para construir uma premissa falsa. É a isso que chamam de falso silogismo ou simplesmente sofisma.
Lula, de fato, nunca foi socialista ou revolucionário. No máximo, foi um grande líder de massas, com um carisma extraordinário, e com uma vocação nata para a liderança sindical. Ponto. A sua transformação em agente revolucionário deve ser creditada na conta dos intelectuais heterodoxos que sempre acreditaram na revolução sem sangue, pelas vias pacíficas. O resultado é o que estamos vendo.
Mas, daí a classificar todo o escândalo do mensalão como arquétipo do revolucionário ou do socialista são outros quinhentos. A corrupção em escala é, antes de tudo, uma chaga capitalista, fruto da deploração dos valores éticos da humanidade, da lógica do lucro a qualquer custo e da visão patrimonialista, anti-republicana, de tornar o bem público propriedade privada. O grande erro dos “companheiros” do mensalão foi se deixar afetar por esse vício burguês, construindo eles próprios seu sofisma de acumulação de forças para a revolução.
Mas, esteja certo, caro leitor, o socialismo já sofreu reveses piores na história e nem por isso morreu. E por uma razão simples: não se mata uma utopia! O melhor retrato dessa crise, creiam, é a agonia do capitalismo moribundo que produz miséria, exclusão, fome, violência, guerras, abala instituições, valores, moral, ética, na tentativa hercúlea de manter-se vivo.
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*Kléber Lima é jornalista em Cuiabá/MT -- E-mail: kleberlima@terra.com.br
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Comentários dos Leitores
Os textos dos leitores são apresentados na ordem decrescente de data. As opiniões aqui reproduzidas não expressam necessariamente a opinião do site, sendo de responsabilidade de seus autores.
Comentário de Montezuma Cruz (montezuma.cruz@ig.com.br) Em 21/09/2005, 11h21 |
Ser Jornalista |
Ser jornalista
Luís Nassif
Foi um telefonema de minha filha, quase no final da noite de quinta-feira que me alertou para a data. Naquele 1º de setembro completava 35 anos de jornalismo. Estava chegando de Brasília, na fila do táxi do aeroporto de Congonhas e quase imediatamente me vi transportado para o Largo da Concórdia, no Braz. Tinha vindo para São Paulo, passei no vestibular para Comunicações, e fui morar com meus avós na Vila Maria. Acordava às cinco da manhã, pegava o ônibus até o Largo da Concórdia e, de lá, para a USP. Na volta, parava na Avenida Paulista onde havia uma condução que levava até o prédio da Editora Abril, na Marginal Tietê.
Consegui o estágio por indicação do Luiz Fernando Mercadante, grande jornalista político, depois editor consagrado da revista Realidade, que no começo de vida foi casado com minha tia Zélia.
A revista Veja tinha sido criada três anos antes por Mino Carta e um grupo dos melhores jornalistas do país, muitos deles vindos do Jornal da Tarde, outra notável criação de Mino.
Naquele dia 1º de setembro de 1970, a revista pela primeira vez abria vagas para novos estagiários. Entramos eu, a Ângela Ziroldo e o Dailor Varela, sob as ordens do chefe de reportagem Talvani Guedes.
A Abril tinha fama de ser a melhor empregadora da imprensa. De fato, Victor Civita havia criado um ambiente interno, nas diversas redações, que facilitava enormemente a criatividade. Pela primeira vez, tentava-se implantar o modelo norte-americano de editoras, com revistas segmentadas, padrões gráficos requintados, enorme rigor no acabamento e pouca profundidade nas matérias -para poder pegar um público mais amplo.
Realidade ainda era uma redação de peso, mas naqueles três anos, Mino havia convertido a Veja no veículo de maior prestígio do país. Trabalhar na Veja equivalia, na época, a trabalhar hoje na Globo. Éramos todos inteligentes, brilhantes, mordazes, dos editores aos boys.
Em breve, os focas nos unimos em uma amizade que permaneceu por toda a vida - embora raramente nos encontremos. Foi lá que conheci os gaúchos, Geraldo Hasse, Jorge Escosteguy, Hélio Gama e Paulo Totti (secretário de Redação que me arrumou a vaga na Economia), com o estilo franco e direto do sul; a mordacidade típica da bancada mineira, com Geraldo Mayrink, Nirlando Beirão, Fernando Morais e Humberto Werneck; as brigas dos potiguares Talvani Guedes da Fonseca, e seus irmãos Jaílson e Roberto, mais o Dailor; os cariocas Tinhorão, Luiz Garcia, Paulo Henrique Amorim e Elio Gaspari; os paulistanos Sérgio Pompeu, Emílio Matsumoto, José Roberto Guzzo e Tão Gomes Pinto; a erudição de Léo Gilson Ribeiro, a fidalguia da bancada internacional, com Dorrit Harazim, Roberto Pompeu de Toledo e Ricardo Setti, mais a simpatia provocadora do Palhares.
Sobre todos pairava a figura de Mino, tão admirado que ser chamado à sua sala equivalia a uma promoção.
Bem público
Passamos por grandes e boas. Foi lá que acompanhamos, primeiro, a celebração do "milagre", depois, o início da reação contra a ditadura. Aliás, outro dia, no clube que freqüentamos, o Mino lembrou-me de uma cena que protagonizei - e, pouco depois, o Juca Kfouri também me lembrou do episódio.
No início da resistência contra a ditadura, houve um grande evento no Teatro Ruth Escobar, uma mesa de debates com a presença de Mino Carta, Ruy Mesquita, Raymundo Pereira (do jornal Movimento, para quem mandava todas as matérias que não conseguia emplacar na Veja) e o ex-ministro Severo Gomes.
O primeiro encontro foi proibido pela ditadura. Marcou-se um segundo, teatro apinhado, lá pelas tantas, Ruy Mesquita fez um vigoroso discurso contra a ditadura, mas disse temer menos as ditaduras de direita, porque duravam menos, e dava como exemplo a ditadura do Chile -que, em sua opinião, terminaria em breve. No atrevimento dos meus 26 ou 27 anos, pedi a palavra e o desafiei: "Acho que o senhor está errado: vai durar muito". Ele rebateu e fui mais atrevido ainda: "O senhor quer apostar?" E ele: "Apostar o quê?" E eu, na maior cara de pau: "Um emprego no seu jornal". Nessa idade, a gente é muito atrevido mesmo.
Depois, foi a convivência com o pessoal do Jornal da Tarde, mais tarde a experiência inesquecível de participar, por alguns meses, de reuniões diárias com seu Frias, na Folha, o prêmio de ter podido conviver com ele e seu João Saad, da Bandeirantes, a experiência de dar um salto no escuro para poder montar minha empresa, pela absoluta incapacidade de tratar com chefias convencionais.
Nesses anos todos, freqüentei muitos ambientes, o da música, o dos empresários, o da academia, os ambientes políticos, os econômicos. Mas não me arrependi nem um pouco quando, aos 13 anos, enfrentei meu pai e anunciei: "Quero ser jornalista".
Nasci jornalista. Vou morrer jornalista. E lutar até o último dia pelos valores que elevaram nossa profissão à condição de bem público, até mesmo em brigas inúteis pelos valores que dona Tereza me ensinou desde cedo, quando se tornou a primeira pessoa a me sonhar jornalista. |
Comentário de talvani guedes da fonseca (tguedesdafonseca@yahoo.com.br) Em 21/09/2005, 10h03 |
É a CIA, Kleber |
Veja, leia-se CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos que Osama Bin Laden humilhou, num "rock" magistral derrubou duas torres, cheque-mate no imperialismo, início de sucessivas guerras, mortes. Trabalhei lá, estou na foto dos empregados de "seu" Victor, um homem de bem, meu amigo, na edição número um, cuja capa é a luta da foice contra o martelo, numa época em que ninguém pensava em queda de nada, nem de muros ou de impérios. Era a CIA quem falava, quem fala nessa "reportagem" e tem razão ao menos numa coisa, o Pt acabou, e nem de esquerda essa "coisa" oportunista é. Quanto ao socialismo, calma, companheiro: é uma necessidade de Estado ou o Brasil continuará ameaçado em sua cultura, soberania, no dever de dar à população o melhor, e não aos patrões ou credores internacional, e ao direito de cada um de nós de desejar ardentemente uma Pátria melhor para nossos filhos, e esta virá, inevitavelmente,
porque o capitalismo exauriu-se, e, por não ter Pátria, tenta destruir a nossa. Robert Civita, que é na realidade Roberto, apesar de pronunciar o próprio nome com sotaque, jamais será um brasileiro nato, e o General Geisel, coitado, que dizia ser perigoso permitir a imprensa, a comunicação de massas, em mãos de brasileiros naturalizados. Bom, era um ditador, no entanto, na realidade, do Pt, o verdadeiro criador.
As elites estratégicas brasileiras há tempo não se guiam por esse pasquim recheado de publicidade. Acalme-se, Kleber.
Veja não vale nada. |
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