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TEMA LIVRE : Talvani Guedes da Fonseca
Quem tem medo de Karl? -- II
16/11/2005
O ¨fantasma¨ ou espectro do comunismo assombrava a Europa e o Manifesto contestou todos os estigmas que as classes poderosas e influentes jogavam sobre ele, Karl.
Alguns desses estigmas são bastante atuais, e a resposta está no Manifesto:
Os comunistas querem acabar com toda a propriedade, inclusive a pessoal!
Karl e Engels queriam abolir a propriedade burguesa, capitalista, porque, para os socialistas, a apropriação pessoal dos frutos do trabalho e aqueles bens indispensáveis à vida humana eram, são intocáveis: ¨O comunismo não retira a ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, tira apenas o poder de escravizar o trabalho de outrem.
Como uma família pode viver com o salário mínimo, pai e mãe desempregados e uma moradia sem fornecimento de água e sem luz, educação, ela própria, um comércio, uma atividade lucrativa.
¨Para o burguês”, dizia Karl, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção e ao ouvir dizer que os instrumento de produção serão postos em comum, ele conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres, mas, o burguês não desconfia que se trata precisamente de dar à mulher outro papel que o de simples instrumento de produção.¨
A nova compreensão da mulher vem daí, não de nenhum, movimento feminista, e, aliás, é isso que faz os machistas negarem o marxismo.
A parte III, denominada ¨Literatura Socialista e Comunista¨ faz fortes críticas às diferentes correntes socialistas da época.
A conclusão do Manifesto, a ¨Posição dos Comunistas Diante dos Diferentes Partidos de Oposição¨ é um relato das táticas adotadas naquele momento pelos comunistas, na França, na Suíça, na Polônia e na Alemanha.
Em homenagem a Karl, o que posso dizer? Que o socialismo é uma obra de arte de solidariedade humana, a verdadeira arte de reconstrução do ser humano, que vem do inconsciente, única maneira de haver liberdade total, e é nesse aspecto que os fins justificam os meios.
A produção capitalista é resultado da combinação dos meios de produção, que se compõem de ferramentas, máquinas e matéria-prima e do trabalho humano, numa acumulação contínua de capital.
Quem determina o valor do que é produzido é a força de trabalho socialmente necessária para a produção de cada coisa, cada mercadoria, ou seja, a produção cria os objetos que correspondem às necessidades na acumulação capitalista, o trabalho é que produz os valores superiores aos dos salários, é a fonte dos lucros. Marx chamou esse diferencial de mais valia, a diferença entre o valor daquilo que o trabalhador produz e o que ele recebe, a “plus”valia que fica com o capitalista; é o lucro, conceito básico do sistema capitalista, e nada mais é do que a extração da mais valia, o trabalho não pago da classe trabalhadora no processo de produção, e há muito mais que isso a ser combatido, como a propriedade privada, principalmente, que as religiões e a Igreja católica aprovam, e o desejo do lucro, princípio acima da ética, porque no capitalismo é-se aquilo que mostra ser-se, não o que se é, de fato; as pessoas são medidas pelo que têm, não pelo que são, e da mesma forma que o sistema de lucros e juros só provoca desigualdade, ainda assim, a Igreja é capitalista e pecadora, e, por legitimar a proteção sagrada ao direito de propriedade, o Vaticano nunca impediu nem impedirá aos seus seguidores a acumulação de bens mundanos.
Tem até um banco, Banco do Espírito Santo.
Não é à toa, a Igreja Católica é a única que tem ´status´ de observador permanente na ONU, porque é um Estado¨.
Como pode uma Igreja tão rica ficar ao lado dos pobres?
Dá para confiar?
A Igreja católica possui bilhões de dólares em imóveis, espalhados pelo mundo, sem falar nos tesouros do Vaticano. Dá para acreditar em padre, bispo, cardeal, diante de tamanha hipocrisia?
O ´santo´ padre, representante de d(eu)s na terra, é um grande capitalista, e não adianta apelar à moral nem à ética cristã ou às normas teológicas de São Tomás de Aquino. O santo padre sabe que o dinheiro é a causa das desigualdades entre as sociedades, que afasta ou aproxima as pessoas, o santo padre depende dos interesses em jogo, ele sabe que a riqueza é produto da organização social, política e econômica, assim como sabe que o dinheiro foi inventado, talvez, pela própria igreja, para equacionar de maneira eficaz a medida da riqueza, a compra, a mercadoria, tanto quanto sabe que o valor embutido no dinheiro é o valor do trabalho humano, do que é produzido pelo esforço e concentração do homem.
Eu sei que tem muita gente boa nas religiões em busca de mudanças por intermédio da fé, mas, o dinheiro é o mal, quem tem quer tirar de quem não tem, e quem não tem quer tirá-lo de quem tem, porque no capitalismo a felicidade de um decorre da infelicidade de muitos.
Para que vale o dinheiro, se ele causa tanta dor?
Apesar dos Gorbachovs, Reagans, Tatchers, do operário anticomunista, de nove dedos, a obra de Karl segue sendo o instrumento fundamental para a compreensão do mundo, um século e meio depois de ser escrita.
Ao examinar as condições materiais da existência, Karl aplicou a dialética à História e provou que toda a história tem sido uma história de lutas de classe, de lutas entre as classes exploradas e as classes exploradoras, entre as classes dominantes e as classes dominadas, que a produção é sempre social e sempre resulta de um desenvolvimento histórico. Por exemplo, a sociedade primitiva tinha o senhor e o escravo e desse conflito ele elaborou uma síntese que, ao ser negada, transforma-se numa nova tese, que é a própria sociedade capitalista, a qual fundamenta-se também na mesma dualidade de senhor e escravo, só que sob os nomes de capital e trabalho.
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*Talvani Guedes da Fonseca é jornalista e escritor norte-rio-grandense.
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