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TEMA LIVRE : Talvani Guedes da Fonseca
Quem tem medo de Karl? -- V
19/11/2005
Karl amou a humanidade tanto quanto dizem que Cristo a amou. Em defesa dos pobres e desprotegidos, viveu com a ajuda de Engels, mas a vida toda sofreu, para explicar cientificamente cada coisa, da religião, da família, do Estado e da propriedade privada.
Quando começou a escrever seus manuscritos econômicos e filosóficos ainda não tinha 26 anos.
Para poder chegar à essência da existência humana, através do que parece ser apenas uma função matemática, elaborada a partir de dois fatores, a existência do explorador e do explorado, é claro que teve a ajuda de Engels.
Karl passou fome, a filha de um ano morreu porque ele não tinha dinheiro para comprar remédio e nem um caixão para sepultá-la. Outros dois filhos também morreram pelo mesmo motivo, embora o operariado só tivesse tomado conhecimento e aceito suas idéias como corretas, após sua morte, ele deu a vida pela humanidade.
Mesmo na miséria, levou 25 anos, os últimos da sua vida, escrevendo Das Kapital, do qual, quando morreu, em 1883, só viu publicado o primeiro dos três volumes. Sei que é difícil de ler, mas, para conhecer as teorias marxistas sobre valor e mais valia, acumulação, exploração, expropriação, enfim, a essência do sistema que dia que dia a dia aniquila o nosso futuro, o capitalismo.
Todos deviam ler Das Kapital, sobretudo os jovens, que é a quem cabe construir o futuro.
Não só Das Kapital, mas todos os livros de Marx, desde Trabalho Assalariado e Capital a Salário, Preço e Lucro, sem esquecer uma linha, uma vírgula e ponto do Manifesto, que ele escreveu com Engels. Pouca gente contribuiu tanto para a compreensão da humanidade quanto Karl. Tudo o que ele escreveu merece ser estudado e discutido, porque nunca perderá a atualidade.
Suas idéias influenciaram e influenciarão os movimentos sociais no mundo inteiro. Enquanto existir o capitalismo, uma classe social vai explorar a outra e é desta luta que advirá a grande mudança.
Até lá, Karl viverá.
E depois, muito depois, reinará para todo o sempre, até a consumação do mundo.
Karl viu o ser como trabalho, associou-o à máquina como uma peça no processo de produção, um complemento vivo que, no entanto, não comanda a máquina nem pode submetê-la a seu ritmo e ao contrário, submete-se a ela.
Obedece a ela e ao seu ritmo, torna-se escravo da máquina, que pertence ao capitalista, que a explora e é quem a manipula, tanto pode ser a máquina como uma mesa de escritório, qualquer coisa que implique em salário porque o capitalista compra trabalho e vende mercadoria ou serviço.
Isso é a mais valia. Da mesma forma que o capitalista compra a máquina, também compra o trabalho. O ser humano é uma mercadoria do próprio ser humano, é um homem que explora outro homem, mas quem produz mercadoria é outra mercadoria. Literalmente, o ser humano não vale nada. É o dinheiro que manda e quem tem dinheiro tem poder. O capital só é fiel a si mesmo e ao seu filho predileto, o juro.
Quem tem dinheiro?
Os bancos, e a rentabilidade dos bancos sempre sobe, independente de inflação ou qualquer outro fator.
O banqueiro prefere favorecer a especulação financeira em detrimento da atividade produtiva porque não tem que dar satisfações aos demais setores da engrenagem, tudo é negócio, beber é negócio, enxergar, ter saúde, e sempre alguém ganha dinheiro na exploração da água, da luz, do telefone, do hospital, da farmácia, do transporte.
...
*Talvani Guedes da Fonseca é jornalista e escritor norte-rio-grandense.
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Comentários dos Leitores
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Comentário de mederovsk (donquixote@estadao.com.br) Em 19/11/2005, 17h55 |
colorado |
"Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é".
conhece a frase acima, ô Talvani?
E viva o Colorado!!!!! |
Comentário de Tag (tguedesdafonseca@yahoo.com.br) Em 19/11/2005, 07h08 |
Calma, cara pálida! |
Corintiano? Nunca! Torço contra tudo o que o messiânico torce, principalmente, esse timinho aí, que vai morrer na praia do Beira-Rio, único time do mundo a inspirar-se no hino comunista,
a Internacional.
Fora isso, obrigado, é bom receber comentário desse nível. |
Comentário de Alexandre Slhessarenko (slhessarenko@terra.com.br) Em 19/11/2005, 06h31 |
Completo de razão, caro Talvani... |
A mola propulsora do Capitalismo é, sempre foi e será a mais valia (lucro) e nem mesmo os conceitos fundamentais do "materialismo histórico" e do "materialismo dialéctico" podem superar a NECESSIDADE humana, talvez subestimada pelo fantástico e iluminado Karl...
A melancolia, talvez, um dia possa nos desligar desse mundo de visionários, para tomarmos parte no grêmio daqueles que - mas chegados às realidades da vida - consideram este mundo como ele realmente é.
Enfim, um belo artigo.
Saudações corintianas,
Alexandre Slhessarenko
São Paulo-SP |
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