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TEMA LIVRE : Kleber Lima

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Jacy mostra o caminho
07/12/2005

Há um ditado oriental segundo o qual “as palavras convencem, mas os exemplos arrastam”. Vejam como ele se aplica ao caso de Cuiabá. O prefeito Wilson Santos se enrolou todo na relação com os movimentos sociais que se colocaram contrários aos aumentos da passagem de ônibus e do IPTU. Xingou, rosnou e cocoricou. Achou que a sociedade era obrigada a aceitar suas propostas pelo simples fato de que ele as estava propondo. Algo como Dom Divino, que não comporta contestação.

Errou enquanto agiu dessa maneira porque desprezou um fator básico da política: o convencimento. O mesmo convencimento que ele soube utilizar com maestria para se eleger. Afinal, foi no debate renhido de idéias e conceitos que Wilson Santos se tornou prefeito, numa das disputas mais emocionantes que já testemunhei.

Mas, uma vez eleito começou a tomar decisões de gabinete. A maioria delas pode ser sim decidida no sétimo andar do Alencastro. Mas, algumas não, precisam ser decididas na discussão pública para que tenham o efeito desejado, ou para que não acabem sendo distorcidas pela percepção da galera.

Muitos jornalistas e analistas já tinham apontado para essa perda do elo popular da administração que se propunha popular. Ninguém do Alencastro, contudo, deu ouvidos. Aliás, é muito comum o governante e seu séqüito ficarem indiferentes ao clamor das ruas. Pensam que sabem tudo e que agradar ao chefe é mais importante que saber ler a crítica.

Mas, para sorte da administração municipal a vice-prefeita Jacy Proença assumiu o cargo na hora certa, a tempo de contornar a crise e apontar para o caminho do diálogo. A situação me fez lembrar o ex-senador Márcio Lacerda, em 1995, no auge da primeira grande crise do governo Dante de Oliveira no Estado.

Mesmo afônico – porque havia feito uma delicada cirurgia nas cordas vocais que lhe deixaria seqüelas para o resto da vida -, o então vice-governador Márcio Lacerda assumiu o comando do Estado quando Dante de Oliveira sofreu uma “diverticulite aguda” no meio de uma séria crise do governo com os poderes constituídos e com a sociedade.

Como repórter, acompanhei a solução dada por Lacerda. Primeiro, chamou os poderes para uma conversa séria, franca e amistosa. Fez o mesmo com a sociedade civil, servidores, imprensa. Quando Dante voltou, algumas semanas depois, encontrou os ânimos serenados, e iniciou uma nova página de seu governo.

O que se espera de Wilson Santos é que, embora tenha se esquecido dessa passagem do governo Dante - do qual fez parte como apoiador -, que não perca o exemplo da professora Jacy Proença, que deu uma aula de política na sua substituição legal. Adotar o diálogo como princípio de governo participativo e transparente poderá ajudá-lo muito a evitar novas crises no futuro, já que ainda tem mais três anos pela frente até a próxima eleição. Ler mais os jornais, sobretudo aqueles textos que não lhe parecem muito amistosos à primeira vista, também não faria mal algum.

...

*Kleber Lima é jornalista em Cuiabá/MT - E-mail: kleberlima@terra.com.br


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