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TEMA LIVRE : Talvani Guedes da Fonseca

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Esquerda, volver
16/12/2005

O presidente messiânico não é mais novidade, logo passará sem entrar como queria, para a História, como Lech Walessa ou Felipe Gonçalez, na Polônia e Espanha, por ¨entregarem¨ as chaves dos cofres nacionais para que fossem dados os primeiros passos em direção à desestruturação do socialismo de estado soviético e ao início do liberalismo ou em nome das lutas contra ditaduras impostas pelos Estados Unidos na Ásia, África e América Latina, sobretudo, quando as equivocadas esquerdas adotaram essa nova ¨bandeira¨ revolucionária, questão muito discutível que basicamente interessava e só interessa ao imperialismo e a um público muito pequeno, restrito, formado por investidores ansiosos e prontos para investir contra um Estado que tanto custou ao povo brasileiro, ajudado a ser destruído por Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, exatamente quem o metalúrgico não devia seguir, e fê-lo.

Foi duro assistir nas duas últimas décadas as ¨esquerdas¨ social democrática e operária fascinarem-se pela tolerância liberal, o assistencialismo à miséria ou em prol do ¨capitalismo democrático¨.

Em crescente proximidade com os interesses e objetivos imperialistas presas a antigas formas de suspeita e desconfiança, tidas como corretas, as duas ¨esquerdas¨ brasileiras confundiam ¨liberdade política¨ com liberalismo, uma tese difícil de ser defendida por inadequadamente discutida, mais complexa do que se pensa, mas, para ambas, identificar com liberdade a palavra ¨liberal¨ pareceu-lhes suficiente, porque não percebiam a afinidade de objetivos existente entre elas e os Estados Unidos, e de forma incompreensível, não se davam conta do velho ditado de que nunca se deve ficar ao lado dos fortes, contra os fracos, porque não existe piedade para o mais fraco, segundo as leis da natureza.

Limitadas pelos parcos conhecimentos e concepções idealistas e românticas de uma época manchada de sangue do valoroso Guevara, as esquerdas se perderam nos próprios labirintos que criaram, e se a direita, unida, permitia-lhe participação no complô contra as ditaduras que ela mesma apoiara, estava mais do que claro que não lhe seria permitido partilhar da vitória, se houvesse alguma, pois a democracia que queria e desejava o imperialismo norte-americano, configurada simbolicamente na saída dos militares decidida por Ernesto Geisel e conduzida por João Figueiredo, jamais seria a mesma almejada pelas ¨esquerdas¨: o choque das idéias, as insatisfações constantes intensificaram-se, as contradições de ¨princípios imutáveis¨ e ultrapassados da moral pequeno-burguesa, também, e tinham valor de dogma, pareciam mais importantes do que o país, infelizmente.

Sistematicamente vendo tudo por lentes distorcidas e sem qualquer proposta concreta, num estranho servilismo as ¨esquerdas¨ preferiram negar a existência de condições objetivas para a ação, reduziram a luta política a simples reflexo das condições econômicas e agiram e agem na mesma perspectiva adotada pelo capitalismo financeiro, contra o Estado brasileiro e era tanto o absurdo que, para não macular a pureza da música popular tradicional brasileira, chegou-se a não se admitir sequer o uso da guitarra elétrica.

Cúmplices e quase sinônimos da direita, enganadas pelas aparências, as esquerdas permaneceram avessas aos militares, tornaram-se coadjuvantes, confundiram com aliado ideológico o imperialismo e comungaram com cinismo de uma perigosa intimidade que punha em risco o país e tinha que dar nisso, no ¨governo do PT¨, de ¨esquerdas¨ que falavam do Brasil como algo inacessível, que pertencia somente aos militares, e tendo-o nas mãos, o que fazem?

Destroem-no, por incompetência, improbidade e má-fé.

A impressão reinante era de que para voltar a pertencer ao povo, a condição primordial seria derrotar ou destruir os militares, posição de absoluto ilusionismo, idealista, que imobilizava e tolhia qualquer ação, simplesmente por ser impossível de realizar-se. Resumida ao movimento estudantil e dividida em facções, em busca de alívio para a falta de perspectiva histórica, iludida também com soluções fáceis, apoiada por parte da intelectualidade, sobretudo sociólogos e economistas, durante anos na ditadura as esquerdas tateavam como quem não enxergava, misturavam suas interpretações anacrônicas ao conservadorismo, e por isso tinha que dar nisso que está aí, o ¨nove dedos¨ fazendo tudo exatamente contra ao que pregou durante 25 anos, o tempo que ¨enganou¨ o povo em nome de um partido que seria dos trabalhadores.

E agora quer respeito?

Por quê?

Por que destrói o país a cada dia que passa em Brasília?

Em combate aberto e pronta a na primeira oportunidade demolir o Estado e substitui-lo pela livre iniciativa, sem querer, mas eficientemente, tudo em nome da vã esperança de que juntos poderiam derrubar a ditadura, cada vez mais aturdidas com a falta de teorias que pudessem explicar a dinâmica da história, as esquerdas caminharam no mesmo rumo e foram na mesma direção ideológica do liberalismo.

O messiânico e FHC são gêmeos idênticos, que parecem esquecidos de tudo o que aprenderam e aceitam praticamente como dogma as idéias mais reacionárias, confunde com liberdade e direitos humanos, veste-as com as novas roupagens fornecidas por Marshall Mcluhan, o teórico da ¨aldeia global¨, e defendiam, com certeza sem perceber o absurdo, as mais novas teses da direita e das grandes corporações internacionais, principalmente do capitalismo financeiro que há anos englobava mundo afora países e mais países, independente de suas fronteiras, a transformar nações em mercados.

...

*Talvani Guedes da Fonseca é jornalista, poeta e escritor norte-rio-grandense.


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Comentários dos Leitores
Os textos dos leitores são apresentados na ordem decrescente de data. As opiniões aqui reproduzidas não expressam necessariamente a opinião do site, sendo de responsabilidade de seus autores.

Comentário de tag (tguedesdafonseca@yahoo.com.br)
Em 16/12/2005, 08h58
Nada disso, seria traição
Ao povo brasileiro, a parte que votou nele, para ir até o último dia do mandato, ser derrotado ao tentar reeleger-se e nunca mais
essa tragédia da picaretagem ideológica
se repita.
Vivemos numa democracia, apesar da CIA.

Comentário de Leitor de MT (leitormt@lettera.es)
Em 16/12/2005, 07h56
Avião, presa fácil
Aviões são presas fáceis para moradores de proximidades da cabeceira de aeroportos, ainda mais quando são malucos armados. Um simples tiro numa asa de avião, durante a decolagem, é suficiente pra mudar o destino de um país.

Eis a dica.

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