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TEMA LIVRE : Pra Seu Governo

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Adeus, hexa
25/05/2006- Guilherme Fiuza

O lateral Roberto Carlos foi levar sua camisa autografada ao presidente Lula antes de viajar para a Copa da Alemanha. Não há o menor vestígio de humildade no comportamento dos jogadores da seleção brasileira.

Antigamente, o beija-mão palaciano era restrito ao momento da volta, quando os guerreiros iam buscar sua condecoração após a batalha. Agora, a batalha é um detalhe.

Já tem muito brasileiro dizendo que não basta ganhar a Copa, é preciso “dar espetáculo”. E lá vão os Globe Trotters verde-amarelos para a Alemanha com a receita perfeita para a derrota.

Os brasileiros são assim mesmo. Oscilam da auto-piedade mais miserável à arrogância mais histérica.

Lula é o exemplar-síntese desse caráter. Poucos meses atrás, bombardeado pelo escândalo do mensalão, mal conseguia levantar da cama para governar.

A imprensa queria saber quando o governo ia acordar, mas não se ouvia uma palavra do presidente sobre qualquer assunto. Mas o povo esqueceu o mensalão, as pesquisas de opinião embalaram a campanha da reeleição e Lula saiu por aí falando categoricamente sobre tudo.

Sua última pérola foi dizer que “infelizmente a lei neste país” impede a programação de gastos públicos a menos de seis meses da eleição.

Seria chocante, absurda, surrealista uma declaração dessas vinda do chefe da nação, bombardeando a maior conquista recente da administração pública no Brasil –- a responsabilidade fiscal.

Seria de fato ultrajante, se a opinião pública não fosse dócil aos delírios de grandeza de quem está circunstancialmente por cima. Da depressão profunda, Lula passou à onipotência desvairada, a ponto de se considerar acima da lei. E o povo aplaude: ninguém segura esse presidente, ninguém segura o escrete canarinho, conosco ninguém pode.

No terreno da política, esses são os ingredientes perfeitos para o autoritarismo (ver jornada venezuelana). Mas nenhum brasileiro se sentirá às vésperas de uma guinada autoritária quando se está às vésperas de uma Copa do Mundo. E no terreno do futebol, a empáfia e a onipotência são os ingredientes perfeitos para o fracasso.

Milionários e entediados, os jogadores da seleção brasileira pediram, pela primeira vez, para ficarem concentrados em quartos individuais. Nada daquele clima de colégio interno, tendo que conviver com as cuecas e os roncos do companheiro de time. São todos celebridades, donos de fundações, produtos comerciais altamente rentáveis, verdadeiras ONGs ambulantes.

Não faz sentido para suas excelências passarem a vida se deslocando em helicópteros e jatinhos e, na hora da Copa, ter que se meter num acampamento de escoteiro. Mas seus empresários e relações públicas já contornaram esse contratempo.

Cafu, o pior lateral direito de uma seleção brasileira campeã, é candidato à sua quarta final de Copa do Mundo. O recorde é de fato impressionante, mas só interessa ao próprio Cafu, à família do Cafu, à ONG do Cafu e aos almanaques esportivos.

A permanência dele e de Roberto Carlos, o que foi beijar a mão de Lula antes da hora, no time que vai à Copa é um mistério insondável.

Não jogam nada em seus times há muito tempo, não precisam conquistar mais nada esportiva ou financeiramente, e não largam o osso. São titulares da panelinha vitalícia da CBF.

Carlos Alberto Parreira, o técnico, é outro que está empanturrado. Já ganhou Copa, já ganhou dinheiro, já ganhou o mundo. Tudo o que quer é administrar o seu sossego. Palavras bem medidas, convocação de jogadores sem polêmicas, escalação do time como o povo quer. Como se sabe, o povo, assim como o Pelé, entende muito pouco de futebol.

Mas essa seleção blasé está convencida de que vai à Alemanha para um desfile de celebridades. Por isso, até o metódico Parreira cedeu à tentação populista de montar um time fashion.

A seleção que vai à Copa está pessimamente escalada. Os laterais Cafu e Roberto Carlos não correm mais atrás de ninguém, e no meio-campo há um único jogador de marcação, o igualmente ancião Emerson. Os dois zagueiros devem estar em pânico. Dali para frente, só malabaristas.

E não será sequer um time forte na armação de jogadas, porque o tal quadrado mágico –- Ronaldinho, Kaká, Ronaldo e Adriano -– é todo de atacantes corredores, com pouquíssimo expediente no departamento de planejamento e articulação do jogo. Um time visivelmente desequilibrado e vulnerável.

Mas quem vai querer desafinar o oba-oba?

Ronaldo, que não joga há muito tempo, reapareceu com pinta de halterofilista. A Copa de 2002 ele já ganhou com um futebol minimalista, jogando a la Romário, um Fenômeno nada exuberante. Agora aos 30 anos está sisudo, suscetível, levemente magoado com as cobranças (dos tempos de exaltação ninguém reclama).

Ronaldinho Gaúcho é gênio, mas sua genialidade apareceu jogando num time, não num desfile de celebridades. E é um dos mais vulneráveis aos pedidos do povo para que a seleção “dê espetáculo”, por sua ainda não domesticada vocação circense.

Futebol não é circo, nem desfile de moda.

A história mostra que futebol bonito é futebol eficiente -– basta lembrar de Zico, Rivelino, Maradona e Pelé. Jogadores magistrais, mas que jamais se afastaram um milímetro da objetividade. Sempre buscaram o caminho mais direto para o gol, e o espetacular estava tão somente nas formas que encontravam para abrir esse caminho.

Mas o Brasil pentacampeão está empanturrado. A taça não basta. Quer ver Robinho pedalando de marcha-à-ré, Roberto Carlos dando salto mortal, Ronaldinho olhando para um lado e tocando para o outro. Parreira Fashion Week.

Está pronta a crônica do desastre.



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Comentários dos Leitores
Os textos dos leitores são apresentados na ordem decrescente de data. As opiniões aqui reproduzidas não expressam necessariamente a opinião do site, sendo de responsabilidade de seus autores.

Comentário de rodrigo (superalonso1971@hotmail.com)
Em 01/07/2006, 21h30
medra
Cadê o futebol?

O que é o futebol para o Brasil? Ópio? Mania? Modo de vida? Excesso? Vício?

Futebol no Brasil é tudo e nada disso ao mesmo tempo, por que se limita aos 90 minutos de jogo. Mas uma coisa é certa: é paixão, com todas suas nuances cômicas e trágicas.

Brasil x França, estádio de Frankfurth, 01/07/206: O que vimos? O pior do futebol brasileiro: egocentrismo, soberba, preguiça e negligência. O culpado? Todos, em especial o dito “treinador” Parreira, ícone de um sistema de gestão ultrapassado, que não aceita mudanças e, sobretudo, coloca interesses de imagem e uma suposta “história” sobre a qualidade técnica dos jogadores.

Pois é, Zidane deitou e rolou sobre um bando de deslumbrados: O que este Argelino tem de especial, que entorpece os brasileiros? Vi, com absoluto descontentamento, jogadores abraçarem o adversário, como se nada estivesse acontecendo. Ninguém “chegou junto” do sujeito pra mostrar que é que manda.

Não me interessa fair play. Não estou dizendo também que devíamos pisar no pescoço de algum francês. Mas tá valendo a copa, pô !!! Vamos botar raça nessa m...

Mas o que digo é lógica de torcedor e os intelectuais do futebol têm outras respostas. O que me dá certo alento é que o que vimos não foi o futebol brasileiro. Foi o futebol praticado por brasileiros que trabalham na Europa.

O que agora prego é utopia, mas a seleção brasileira deveria ser formada por jogadores que trabalham no Brasil. Não mais me interessa ter o “melhor jogador do mundo”, eleito na Europa, sabendo que, aqui no Brasil, jogando essa “bolinha”, ele não passaria de mero coadjuvante. Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Káká e Adriano, se estivessem jogando no Brasil, Já estavam no banco. É sim, por simples motivos: soberba, ou empáfia, ou arrogância. Não fosse pelo patrocínio, eles não estariam jogando.

Resta-nos agora o Brasileirão e a final da Copa do Brasil. E ainda temos que o grande karma brasileiro: a medalha de ouro no futebol, nas próximas Olimpíadas.

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