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TEMA LIVRE : Leonardo Boff
Relatório da CIA: a idiotização do poder
31/08/2006
Há poucas semanas me ocupei com três livros apavorantes. O primeiro do astrônomo inglês Martin Rees, Hora final, o desastre ambiental ameaça o futuro da Humanidade, o segundo do astrofísico e médico James Lovelock, formulador da teoria da Terra como superorganismo vivo, Gaia, A vingança de Gaia e o terceiro O relatório da CIA: como será o mundo em 2020. Os dois primeiros assustam porque nos chamam atenção para a sistemática violência que nossa cultura hoje mundializada, com seu nivel e produção e consumo, perpreta contra a Terra, os ecossistemas, em fim, contra a vida. Podemos discordar de seu pessimismo de base, como se estivéssemos na ¨ultima hora¨(Rees) ou ¨em estado de coma¨(Lovelock). Mas os dados que aduzem são objetivos e merecem ser tomados a sério para não chegarmos tarde demais na busca de saidas. Em ambos se nota amor à vida, preocupação com a Terra e cuidado para com o ser humano.
Totalmente diferente é o terceiro livro ¨Relatório da CIA¨, fruto das análises dos considerados ¨25 maiores especialistas de uma variada gama de disciplinas¨ e dos três maiores ¨futuristas¨, além de outras fontes de informação. Neles se vê o que é a cegueira do pensamento único, o que implica a crença de que não há alternativa para o sistema imperante e o materialismo mais crasso da decadente cultura ocidentalóide-norte-americana. Aqui nos defrontamos com a completa idiotização do poder.Como diriam os alemães, estes tais especialistas são rotundos ¨Fachidioten¨, idiotas especializados. Só sabem de poder.Eles não sabem nada de Terra, de ecologia, de ecossistemas, de limites de sustentabilidade da natureza. Estas palavras nem ocorrem em todo o livro.
Eles parecem verdadeiros ETs: nem dá para imaginar em que planeta vivem, pois não se fala de nada daquilo que é importante e indispensável para viver: ter um pouco de comida garantida para todos, um pouco de água potável, um ar sofrivelmente respirável e uma solidariedade mínima para salvar nosso senso de humanidade. Tudo isso não existe no livro. E se, por acaso, entra é apenas na sua relevância econômica. Especialmente inexistem as populações humanas, os bilhões de famintos e sedentos, os sindicatos, os movimentos sociais, os grupos de resistência mundial, os altermundialistas e os que lutam por um outra humanidade.
O que existe então? Vontade de poder, de mais poder e somente de poder, econômico, militar, político e tecnológico. Trata-se fundamentalmente de elencar os riscos e desafios que a potência imperial, os EUA, deverá enfrentar até os anos 2020 e que cenários possíveis são discerníveis. Os temas quase obssessivos que retornam a todo o momento é a emergência da China e da India como potências mundiais que conferirão um rosto asiático à globalização, o terrorismo islâmico, as armas nucleares, biológicas e químicas acessíveis a pequenos grupos, as pandemias como a AIDS e o envelhecimento crescente dos paises centrais e a queda de sua população. Finalmente, apesar de todas as ameaças, permanecerá a hegemonia norte-americana.
Estes futurólogos infundem medo e precisamos estar atentos às estratégias que traçam pois podem nos levar, irresistivelmente, ao pior dos cenários para o planeta Terra. Lembrei-me do salmo 2 das Escrituras:¨os senhores da Terra conspiram, unidos. Mas ri-se Aquele que habita os céus¨ pois Ele sabe quão frágil é seu poder de plasmar e conduzir a história.
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Leonardo Boff é teólogo
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