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TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande
A arte de fazer escolhas
10/09/2006
Escolher é uma arte. Não digo nem escolher bem ou mal, simplesmente escolher, estar espremido naquela dúvida angustiante, diante dos dilemas que nos foram colocados desde a infância. Isto ou aquilo? Aquela ou esta? A obrigação de levar vantagem, sair ganhando, passar à frente de alguém. Dá pânico, dor-de-barriga, espinhela caída, dordólho e quebranto. Caganeira, então, de esguicho.
Aprendi sozinho, na escola da vida que o Lula não freqüentou, que melhor do que ficar em cima do muro, tremendo de insegurança, é assumir logo uma postura, encarar um lado da encruzilhado e ir firme em frente. Não era a melhor opção? Fôda-se! Nem sempre a melhor escolha à direita de quem entra é o banheiro feminino, se me entendem.
O raio paralisante da dúvida é pior do que uma bela escorregada ao meio-dia, diante da platéia jubilosa, doida pra vaiar o palhaço. Muitas vezes os palhaços estão na platéia, não se esqueça. Faça que nem o bebum da anedota, tussiu, cuspiu, escorregou, caiu, levantou e sumiu. Escafêda-se gloriosamente, se não puder sair de mansinho, fingindo-se de paisagem.
Lembro de um amigo que, no meio de uma redação de jornal apinhada de gente, borrou-se. Aquela coisa inesperada que acontece com qualquer um, um segundo de distração e a válvula te engana, aí é o caos. Raciocinou rápido resolveu reverter a situação a seu favor. Levantou-se aos berros acusando alguém pelo cheiro nauseabundo que impregnava o ambiente e saiu colérico da sala. Espanto geral, olhares de culpa, paralisia cerebral em bloco. Ele pegou o carro, foi em casa, tomou um belo banho, desinfetou o veículo e retornou ungido pela graça divina. Ninguém disse nada.
Observando alguns programas políticos sou assolado pelo fantasma da dúvida atroz: matar ou morrer? Votar nulo, branco, cor-de-rosa (tem várias opções na telinha), no menos ladrão, no alopradinho que se acha engraçado, no idiota que repete o que mandam sem idéia do que trata o assunto ou fazer o salamê-minguê na frente da urna e deixar por conta da roleta da vida. Dúvida cruel.
Nunca, em tempo algum, me vi exposto a tanta sengracêira audio-visual, a tantas idiotices profanando os pavilhões auriculares e a tanta aberração cênica executada por punks primatas de periferias diversas. Seria cômico se não fosse trágico, um verdadeiro campeonato de cuspe à distância na cara do eleitor. Não se salva ninguém.
Pra ficar na instância federal, menos ofensiva a tiro curto e com retaliações mais distantes da teoria das probabilidades, não dá pra encarar nosso ilustre meia-língua de dentadura nova e botox nas bochechas dizendo generalidades como se estivesse revelando as palavras do Messias. Por outros lados, temos o picolé-de-chuchu alquimista cada dias mais mal-acompanhado (principalmente na terrinha gloriosa), a freirinha-histérica vestida de Antonio Conselheiro com sua ira (tá boa?) santa, o Pai da Educação e os menos aquinhoados, nem por isso deixando de concorrer ao prêmio de Canastrões da Mídia e seus 15 segundos de fama efêmera.
E ainda querem que se leve isso a sério. Começo a acreditar que o Cunha Bueno tinha razão em querer a volta da Monarquia. Bobos-da-Corte, pelo menos, nunca iria faltar. Vai assinar a ficha de inscrição aí, mano?
...
*Serafim Praia Grande é ¨sócio-atreta¨ so Saite Bão
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