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TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande
Psari Me Kolokythia
07/11/2006
Sempre que se juntam em torno da mesa de um botequim exemplares da fauna urbana circulante na nossa modesta paróquia, o que mais se consome é peixe recheado com abobrinhas.
O peixe é sólido, as abobrinhas são voláteis e sonoras e o líquido varia, com incidência maior para a cerveja bem gelada, que ninguém é de ferro pra resistir a essa temperatura de desmembrar lagartixa sem uma ajuda tão aprazível.
A discussão corria acalorada (com 40º no lombo não podia ser de outra forma, temos que convir), quando Ditirambo olhou desafiador para o fundo do seu copo e mandou de trivela:
-- Vou propor ao Rolf que passe a nos servir um prato que represente a síntese dessa nossa irmandade!
Antes que algum desavisado comece a caçoar do nosso companheiro de copo e de cruz, achando, inclusive, que o suplicante seria chegado em práticas mui difundidas entre os antigos gregos, é de bom alvitre avisar que Ditirambo era assim mesmo, um tanto defasado mas de bom coração. E ótimo de copo e garfo.
Com o ouvido mais afiado que língua de colunável, Rolf, o dono do Covil onde nos reuníamos, aproximou-se interessado. Ditirambo, conseguindo a atenção dispensada, obrigado, partiu pro ataque direto:
-- Chama-se Psari Me Kolokythia, bando de ignorantes, esse prato grego de raro sabor e que concentra nossas potencialidades primevas, resumindo essa efeméride a que nos transportamos quase todo santo dia!
Maciste até nem se importava com esse negócio de ignorante, mas a tal da efeméride pegou mal em seus ouvidos trôpegos. Com três piscadas e uma cusparada de desnortear sabiá em pleno vôo, começou a se levantar da mesa em atitude que não colocava em dúvida suas intenções belicosas. Vavá, sempre atento e variações estranhas de pressão e temperatura no sacrossanto ambiente freqüentado pela galera, se adiantou aos funestos acontecimentos com firmeza e diplomacia:
-- Pó pará aí, ô Vingador da Lixeira! Se tu não entende linguagem de gente e quer logo partir pra ignorância, melhor saber primeiro o tipo sangüíneo da vítima e suas impressões digitais...
A intervenção de Vavá tinha operado, ao menos, um momentâneo estupor paralisante na matilha. Maciste olhou pra Ditirambo que olhou pra Vavá que sentiu saudades de Jajá que nem estava por perto. Rolf, sentindo cheiro de velório no ambiente, deu um murro na mesa e bradou:
- Vam´explicar logo de que merda tão falando aqui ou boto todo mundo pra fora sem beber e sem comer!
A ameaça não chegava a abalar as estruturas da comunidade ali presente, mas serviu pra Ditirambo entender que corria risco de levar alguns sopapos se não desse logo as tais explicações cabíveis. E partiu para a transparência:
-- Calma, amigos, perdão Maciste, deixa eu explicar: ``psari me kolokythia`` é um prato muito saboroso da culinária grega, e que pretendo sugerir ao amigo Rolf preparar para todos, com o meu modesto porém sincero patrocínio, além de mais uma rodada desse alentado suco de cevada que nos enobrece a alma!
Palmas, aplausos, abraços. Estava desvendado o mistério, serenados os ânimos e assanhada a gula da moçada. Agora só restava aguardar pra saber o que viria a ser a tal ´´Psari Me Kolokythia``. Todos irão lamber os beiços!
...
*Serafim Praia Grande é ¨sócio-atreta¨ da Equipe Olímpica do Saite Bão
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