capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 24/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.944.179 pageviews  

Críticas Construtivas Se todo governante quer, por quê não?!!!

TEMA LIVRE : Pra Seu Governo

Outras colunas do Tema Livre

O seqüestro de Bolívar
16/12/2006- Demétrio Magnoli*

Simón Bolívar, o Libertador (1783-1830), morreu em Santa Marta, na Colômbia, e seus restos mortais foram transferidos para Caracas, 12 anos depois.

Embora reverenciado como herói por toda a América Hispânica, a sua figura ocupa um lugar especial na Venezuela. É esse lugar que explica a apropriação de seu nome e de seu legado por Hugo Chávez.

Homem de seu tempo, ávido leitor de Montesquieu e Adam Smith, Bolívar inspirava-se na Revolução Americana e defendia a razão, a liberdade, a ordem e o livre mercado. Visionário, lutou até o fim pela unidade da América Hispânica, tomando como modelo a grande República da América do Norte.

A ¨revolução bolivariana¨ de Chávez, antiliberal e antiamericana, seqüestra a herança do Libertador e oculta as suas próprias fontes ideológicas.

O chavismo bebe em águas contemporâneas que escorrem do pensamento do historiador venezuelano Federico Brito Figueroa (1921-2000), autor de uma narrativa étnica do passado do país, e do cientista político argentino Norberto Ceresole (1943-2003), personagem controvertido que ingressou na política pelo peronismo de esquerda e, em 1987, ajudou a articular a rebelião militar de Aldo Rico e seus ¨carapintadas¨ contra os processos de violações de direitos humanos na Argentina.

Ceresole tornou-se conselheiro do grupo militar de Chávez pouco depois do frustrado golpe de 1992 e freqüentou o círculo presidencial até o final de 1999.

Ele desfrutou a amizade e compartilhou as idéias de Robert Faurisson, o pai intelectual da negação do Holocausto, e de Roger Garaudy, o intelectual francês que tentou conciliar comunismo e catolicismo até se converter ao Islã e, com financiamento iraniano, se entregar à difusão militante do anti-semitismo.

A visita de Chávez a Teerã, a proclamação de uma aliança ideológica com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad e a inauguração de um escritório da Jihad Islâmica em Caracas são tributos do presidente venezuelano à influência duradoura do amigo argentino.

Os jovens de esquerda que aplaudem Chávez no Fórum Social Mundial não sabem o que fazem.

Recobrir o chavismo com a capa elástica do conceito de populismo é prestar homenagem à letargia intelectual.

Nos manuais de ciência política, populistas são os líderes que identificam uma relação de dominação do povo por uma elite tradicional e pregam uma ampla intervenção do Estado em benefício do povo.

A definição aceita quase tudo, dos tribunos da plebe em Roma a Mussolini, Chávez e Lula.

Mas, na História da América Latina, o populismo é uma adaptação do sistema político à modernização industrial, uma transição crítica na qual o líder populista conserva a ordem social em meio ao turbilhão da mudança.

Esse líder, que discursa para o povo de dia e confabula com os poderosos à noite, prende os movimentos sociais nas malhas do Estado, mas promove reformas verdadeiras e estimula um desenvolvimento industrial autônomo.

O ¨momento populista¨, que produziu Vargas e Perón, esgotou-se com a globalização. Só o estilo populista está presente no chavismo, pois a Venezuela ¨bolivariana¨, na contramão da retórica oficial, conhece um evidente processo de desindustrialização e petrifica as características petroleiras e rentistas da sua economia.

Sob o influxo da alta estrutural dos preços do petróleo, o regime optou pelo caminho mais fácil, apostando na apropriação estatal das rendas oferecidas por uma ¨economia de porto¨ que experimenta os prazeres de uma explosão de importações combinados com os de uma bolha inflacionária.

A economia de mercado subsiste nos interstícios de um capitalismo petroleiro de Estado que oferece lucros exuberantes para as altas finanças e os importadores.

Os muito ricos votaram em Chávez, assim como a massa dos pobres, assistidos pelas ¨missões¨, que são programas de redistribuição clientelística de rendas do petróleo.

Chávez é fruto do colapso da ordem na Venezuela, decorrente da falência histórica de uma elite dirigente rentista.

A sua ¨revolução bolivariana¨ consolidou-se na seqüência do locaute na estatal de petróleo PDVSA e da tentativa de golpe de Estado de 2002, os cantos de cisne da elite derrotada.

O regime eliminou a fronteira que separa Estado de governo, estabelecendo a supremacia do Executivo e bombardeando a independência do Parlamento e do Judiciário.

O chavismo, como movimento político, articula em torno do caudilho uma coleção disparatada de grupos que abrange semifascistas, reformistas moderados, castristas e até uma esquerda trotskista.

A unidade do movimento repousa sobre o controle estatal das exportações e depende, crucialmente, da manutenção do atual nível de preços do petróleo.

No plano interno, as prioridades imediatas do chavismo são a formação de um partido unificado e a aprovação da reeleição ilimitada, algo que romperia o quadro precariamente democrático no qual ainda se move o país.

No plano externo, Chávez busca deslocar o Brasil do centro da cena política.

De frente para o Caribe, mas situada na América do Sul, a Venezuela interpreta a si mesma como a plataforma geopolítica de construção da unidade da América Latina.

A Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), que tomaria forma a partir de um eixo energético comandado pela Venezuela (¨Petroamérica¨), é um projeto de múltiplas faces: comércio administrado, integração militar e programas sociais comuns.

A Venezuela entrou no Mercosul para implodi-lo e erguer, sobre os seus escombros, a ¨Pátria Grande¨ chavista.

¨O Mercosul, ou o reformamos e fazemos um novo Mercosul ou também se acabará. Não é um instrumento adequado para a era em que estamos vivendo. Vamos enterrar nossos mortos, irmãos.¨

Pronunciadas diante de um Lula patético, as palavras de Chávez evidenciam o sentido da política externa venezuelana e a natureza da armadilha em que se enredou, voluntariamente, o Brasil.

...

*Demétrio Magnoli é jornalista, sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: magnoli@ajato.com.br


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques