As comportas da Usina de Manso foram abertas devido ao excesso de chuvas, o que deve provocar, nas próximas horas, inundação em vários bairros e comunidades ribeirinhas, na Capital, Várzea Grande, Santo Antonio de Leverger e, principalmente, Barão de Melgaço.
No decorrer deste domingo, o nível da lâmina dágua, na região do Porto, em Cuiabá, subiu cerca de 1 metro.
A Defesa Civil orienta os moradores das áreas de risco a procurar abrigo na casa de parentes.
Uma das ¨justificativas¨ para a construção da hridrelétrica ¨de uso multiplo¨ no rio Manso -- o principal formador do Cuiabá -- foi a de ¨evitar¨ enchentes e ¨acabar¨ com o drama de desabrigados na Capital e na Baixada Cuiabana.
Mais informações e comentários sobre a farsa da Usina dos Mansos -- aquela que produz o megawatt mais caro da história do universo -- na edição de amanhã.
Recuerdos de Chacororé:
(...) E agora que o volume de água no rio Cuiabá passou a ser ¨regularizado¨ por um burocrata a serviço de Furnas, através das comportas da Usina dos Mansos, aí é que a lebre vai pestear de vez.
Falar em Manso, além de turbinar algumas empreiteiras, entre os ¨múltiplos usos¨ da usina oficialmente construída para ¨regularizar¨ as águas do rio Cuiabá está a de gerar tranqüilidade e perenizar a esperteza de todos aqueles que, ao longo dos anos, invadiram áreas proibidas no trecho compreendido entre o Parque de Exposição e o bairro Praieirinho.
Pra quem não sabe, logo depois da grande enchente de 1974, a Defesa Civil delimitou a área em que estaria proibida qualquer tipo de construção, devido às enchentes cíclicas. Na ocasião, todos moradores do antigo Bairro do Terceiro foram removidos para o atual Novo Terceiro.
Não demorou muito para aparecer na área de alagação um loteamento espiritual - o atual bairro Praeirinho - e, depois dele, uma série de outros empreendimentos imobiliários e construída toda sorte de edificações - residenciais e comerciais.
Pode até ser que quem comprou lotes, construiu sua casa ou instalou outros empreendimentos naquele trecho, não soubesse de que se tratava de uma área proibida para edificações.
Mas quem vendeu sabia perfeitamente o que estava fazendo. Inclusive os prefeitos e governadores que desde então se sucederam nos Palácios Alencastro e Paiaguás, que não só autorizaram a ocupação da área proibida como facilitaram as coisas, implantando obras e serviços de infra-estrutura, entre as quais a hoje valorizadíssima Avenida Beira-Rio.
Nesse contexto, a usina de Manso veio a calhar. Improvisou-se uma ¨justificativa ecológica¨ --- a ¨regularização das enchentes¨ - e uma nova embalagem para a obra, o tal ¨uso múltiplo¨ e todos serão felizes para sempre.
Assim, quem comprou e construiu de boa fé na área proibida fica livre de prejuízos futuros provocados pelas enchentes; premia-se a esperteza de quem vendeu e livra-se a cara dos governantes que permitiram, facilitaram e até -- direta ou indiretamente -- se beneficiaram do arreglo.
Quanto às conseqüências nefastas que a conveniente -- e bota conveniente nisso! -- ¨regularização das enchentes¨ vai provocar nos pantanais de Santo Antonio de Leverger, Barão de Melgaço, Mimoso e Poconé, já é outra história.
SuperSiteGood, 27 de dezembro de 2000 -- lá se vão mais de cinco anos -- pleno auge das comemorações alusivas à conclusão das obras da Usina dos Mansos.