Resta saber quem pagou 26/07/2019
- Wilson Lima - ISTOÉ
Desde o inÃcio de junho, o Brasil vive um clima de instabilidade institucional em razão do vazamento de mensagens que foram surrupiadas dos celulares dos procuradores da República de Curitiba.
Elas revelaram conversas sigilosas mantidas entre eles e o ministro da Justiça, Sergio Moro – o que motivou a PolÃcia Federal a desenvolver uma profunda investigação sobre quem as teria hackeado.
Pudera. Os policiais identificaram na violação o propósito de desgastar o então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba – que condenou o ex-presidente Lula à prisão – e consequentemente desmoralizar a Lava Jato.
Por ora, as conclusões das investigações são por si só alarmantes.
A PF confirma que há fortes indÃcios de que Walter Delgatti Neto queria mesmo obter vantagens financeiras com a venda do produto dos vazamentos dos telefones de Moro.
Outros detalhes da organização criminosa desmantelada na “Operação Spoofing†em São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto, onde foram presos os hackers, reforçaram as suspeitas dos agentes federais.
Com o casal Gustavo Santos e Suellem Priscila de Oliveira a PF apreendeu R$ 100 mil em dinheiro vivo.
Ocorre que Gustavo, um DJ, e sua mulher não poderiam apresentar uma movimentação dessa magnitude.
Somadas, suas rendas mensais não chegam a R$ 5 mil.
Os suspeitos justificaram a fortuna movimentada alegando, por meio de seus advogados, que trabalhavam com o mercado de bitcoin, onde obtiveram elevados lucros.
Mesmo assim os ganhos financeiros são considerados atÃpicos, segundo a PF.
A defesa de Gustavo Santos seguiu na mesma toada: assegurou que ele amealhou dinheiro com jogos de vÃdeo game e investiu os recursos em moedas virtuais.
A versão sincronizada não colou.
Pesa contra eles ainda o fato de todos, sem exceção, já terem experimentado dissabores na polÃcia.
Isso reforça a tese da PF de que os hackers presos seriam apenas os executores do crime e não os mentores intelectuais da violação dos aparelhos das autoridades.
Claro que, hoje, as suspeitas convergem para Gleen Greenwald, do site The Intercept, que teria recebido o material das mãos do hacker, segundo o depoimento do próprio, e divulgado o material.
Resta saber se Greenwald pagou pelas mensagens do Telegram e se foi realmente ele o cabeça da operação criminosa.
Quando os diálogos vieram à tona, o jornalista americano jurou ter recebido o material de uma “fonte anônimaâ€.
Golpe primário
Os criminosos pareciam bem instruÃdos. Ao todo, os investigadores detectaram que o grupo realizou 5,6 mil ligações dos aparelhos das vÃtimas.
Foi o caso de Sergio Moro que recebeu telefonemas do seu próprio celular.
O erro dos hackers, segundo os agentes da PF, foi terem cometido um “golpe primárioâ€: usaram os computadores nos endereços de IPs registrados nas companhias de celular deles mesmos.
A forma como os criminosos conseguiram entrar nos celulares das autoridades acendeu a luz de alerta. Em todos os casos, eles capturaram o código de acesso do Telegram Web para conseguir acessar as mensagens nos celulares dos hackeados, com a clonagem pura e simples dos aparelhos.
Uma tática relativamente simples, mas que possibilitou aos hackers alcançarem os dados das autoridades.