Golpes em aeroporto e ostentação fake nas redes: o histórico de Vermelho 28/07/2019
- João Pedroso de Campos, Eduardo Gonçalves, Leonardo Lellis - Veja.com
Vermelho e o irmão, Wisllen Francisco Delgatti, o “Vermelhinhoâ€, 28 anos, foram criados pela avó OtÃlia, 82 anos, desde crianças, quando a mãe deles, Silvana, separou-se do pai, Valter, e se casou com outro homem.
Vermelho e Vermelhinho não têm contato com a mãe. O pai de ambos morreu em novembro de 2018, aos 56 anos, de infarto.
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Hoje famoso em todo o Brasil por ter hackeado figuras importantes da República, Vermelho já era figura notória nas delegacias de PolÃcia Civil de Araraquara por sua extensa ficha criminal.
Pessoas próximas a Delgatti observam uma curiosidade: a dificuldade de encontrar algo em seu nome, uma vez que patrimônio como carros, casas e contratos de aluguel ficam sob propriedade, ao menos oficial, de outras pessoas, não raro do próprio irmão Wisllen.
Segundo conhecidos, Delgatti gostava de ostentar — mas não tinha cacife para tanto.
Os carros de luxo que dirigia eram, em sua maioria, veÃculos danificados por batidas. Todos arrematados de leilão ou diretamente comprados em oficinas.
Walter Delgatti Neto tinha o costume de dar festas de arromba no apartamento onde morava em uma região nobre da cidade, próxima ao estádio da Fonte Luminosa, e se divertia esvaziando extintores de incêndio do condomÃnio, segundo um morador.
A avó, OtÃlia, disse que vive da aposentadoria como tecelã e de uma pensão.
Em maio de 2017, já dono de uma ficha corrida de acusações, Vermelho foi à delegacia registrar um boletim de ocorrência por difamação e calúnia contra dois colegas da faculdade de direito, lá de Araraquara.
Segundo ele, os jovens estavam o chamando na sala de aula de “hacker que desvia contas de terceirosâ€.
Procurada, a defesa atual de Delgatti não quis se pronunciar.
Confira a coletânea de “sucessos†de Delgatti:
Ela disse inicialmente que Vermelho mostrou fotos do irmão com outras mulheres e, em meio ao seu nervosismo, ofereceu-lhe um comprimido para se acalmar.
A jovem tomou o medicamento e relatou ter ficado fora de si depois disso.
Segundo a então adolescente, Walter fez sexo com ela sem preservativo e filmou a cena de violência sexual.
Vermelho disse ter feito sexo consensual e admitiu ter filmado para mostrar o vÃdeo para Wisllen, com o intuito de provar que a jovem “dava em cima deleâ€.
O irmão de Vermelho agrediu a namorada diante da exibição do conteúdo, mostrou o vÃdeo aos pais dela e ameaçou matá-la com uma tesoura.
No mesmo dia que a polÃcia foi à casa de Delgatti cumprir um mandado de busca no âmbito dessa investigação, a garota foi à delegacia com o pai e disse que a relação sexual foi filmada sem o seu conhecimento — mas que havia mentido “algumas partes†do depoimento e isentou Vermelho do estupro.
Ela negou ter sido pressionada, mas estava “preocupada e com pressa em mudar a versão dos fatosâ€, segundo o registro policial.
“Pessoa influente†e “amigos no fórumâ€
Quando a polÃcia foi à casa de Vermelho cumprir um mandado de busca na investigação sobre o suposto estupro, em abril de 2015, ele não atendeu à porta, que precisou ser arrombada.
Acordado pelos policiais, Vermelho disse – sarcasticamente – que estava esperando por eles.
A equipe quis saber como ele tinha a informação, ao que Delgatti informou ter recebido o mandado escaneado com dois dias de antecedência.
Vermelho afirmou ser uma “pessoa influenteâ€, ter amigos na promotoria, no Fórum e entre policiais, e se gabou por “conhecer bem†uma juÃza da cidade.
Mostrou aos policiais uma ordem contra seu irmão que havia recebido de “fonte sigilosaâ€.
“Investidor†com conta na SuÃça e furto de cartão
Nesse mesmo dia do mandado de busca e apreensão, ainda no apartamento, Vermelho disse aos policiais que era um “investidor†e tinha conta em um banco da SuÃça, por isso viajava muito à Europa.
Questionado sobre seu trabalho e a origem de seu dinheiro, ele não disse nada e alegou que o apartamento era alugado por um ex-sócio seu.
Suspeito de falsificar receitas para comprar medicamentos em farmácias e revendê-los, ele foi preso em flagrante e responde a processo por tráfico de drogas.
Depois que a polÃcia apurou com a USP que ele nunca fora estudante da universidade, Vermelho admitiu usar a carteirinha para “pegar a mulherada†e pagar meia-entrada em atividades culturais.
Acabou preso depois que os seguranças do parque desconfiaram e ligaram para a polÃcia paulista.
A arma de air soft
No mesmo mandado de busca, os policiais buscaram uma pistola, possivelmente 9mm, que aparecia com Delgatti em fotos no Facebook, mas não a encontraram.
Ele disse que só tinha uma arma de air soft, mas que falava a todos que era de verdade porque tinha medo de ser assaltado por causa de seus carros de luxo.
Vermelho afirmou, no entanto, que sabia atirar com armas de verdade e participava de um clube de tiro em São Paulo “com um amigoâ€, filho deputado estadual Coronel Telhada.
O deputado e o filho dele, o capitão da PM Rafael Telhada, dizem não conhecer Vermelho.
Apresentando-se como “Danielâ€, ele a buscou na casa dela em seu Land Rover branco e a levou para passear pela cidade.
Os dois tiveram relação sexual dentro do carro, estacionado perto do Teatro Municipal de Araraquara, e depois, em meio à sequência do passeio, segundo a mulher, ele ficou nervoso ao ver uma viatura da polÃcia e a obrigou a sair do carro abruptamente, com o veÃculo ainda em movimento.
Pessoas que a encontraram chamaram uma ambulância e ela foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento.
Quando foi à polÃcia para registrar a ocorrência, ela mostrou a foto do WhatsApp de “Daniel†e foi informada de que ele era, na verdade, Delgatti, “pessoa conhecida nos meios policiais e procurado pela Justiçaâ€, como diz o registro.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na ocasião, Delgatti estava tentando levar os móveis que equipavam o flat, incluindo uma geladeira e uma TV de 50 polegadas.
Após aviso da gerente do condomÃnio, a PolÃcia Militar chegou e Delgatti conseguiu escapar.
Dentro do imóvel, os policiais encontraram documentos que mostravam a falsificação de identidade e a capa de um colete à prova de balas.