Operação Tabajara é ¨muito pior que Watergate¨, diz presidente do TSE 21/09/2006
- Gazeta Mercantil
Se depender do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em apuros. Em entrevista exclusiva ao JB, Marco Aurélio se disse perplexo com a quantidade de escândalos que rondam a disputa eleitoral, especialmente com a descoberta de que funcionários do governo, próximos ao presidente da República, estavam comprando e vendendo dossiês para comprometer adversários. Para ele, o que houve ¨é algo muito muito pior¨ do que o chamado caso Watergate, que obrigou o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, a renunciar, em 1974.
Como o senhor se sente tendo a privacidade invadida, com o grampo no telefone de seu gabinete no Supremo Tribunal Federal?
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-- Ao nível a que chegaram, as coisas vão muito mal. Se um integrante de tribunal superior, do STF, é grampeado, é bisbilhotado, o que pode acontecer ao cidadão comum? O caso revela o quadro de perda de parâmetros em que vivemos.
E esse negócio de venda de dossiê, compra de dossiê... Muito provavelmente, quem estava escutando o senhor pensava em produzir um dossiê.
-- Exato. Isso aí é terrível. Primeiro na suposição de que todos são uns salafrários, quando, na verdade, a maioria das pessoas é formada por homens de bem. Em segundo lugar, porque a cada dia em que abrimos um jornal ou abrimos uma revista nos defrontamos com novos escândalos. Isso tem de parar.
O senhor vê semelhanças entre essas denúncias de compra e montagem de dossiês, que estão ocorrendo agora nas eleições, com o caso Watergate, que ocorreu nos EUA envolvendo o presidente Richard Nixon?
-- Não, não vejo... É algo muito muito pior! Não há comparação. Aquela escuta foi realmente muito terrível. Mas, agora, o que temos aqui é a uma somatória de desvios de poder.
O grampo no TSE teria a mesma motivação eleitoral do caso Watergate e dessa guerra de dossiês que estourou na imprensa recentemente.
-- E, como toda baixaria, tem de ser excomungada, tem de ser afastada do cenário nacional. Para que isso ocorra é necessário punir aqueles que cometeram desvios de conduta, como exemplo para os cidadãos em geral e especialmente aos homens públicos.
Caberia aos líderes da nação, neste momento, dar outro tipo de exemplo?
-- Exatamente. O que desejo é que as instituições funcionem para termos no Brasil dias melhores.
Mas parece que o eleitor não está punindo esses homens públicos. Parece que os que aprontaram vão ser eleitos.
-- Não, não subestimem a inteligência do eleitor. Teremos que aguardar o dia 1º de outubro pra ver qual é a diretriz que o eleitor fixará.
O senhor já presidiu uma eleição, em 1996, quando ocupava o mesmo cargo que tem hoje no TSE...
-- Sim. Presidi as primeiras eleições informatizadas, municipais, alcançando um terço do eleitorado com a urna eletrônica. Agora retorno à presidência do TSE perplexo. Os incidentes são de grande monta, numa gradação inimaginável.
O senhor, como toda a população, deve ter ficado assustado, com certas coisas que não imaginava serem possíveis de ocorrer...
-- A mente mais imaginativa, mais criativa, mais antagônica em termos concepção política não poderia prever o que estamos vivenciando. É um problema. Mas encarar o futuro é tempo: torço para que tudo isso sirva de ponto de partida para dias melhores - para nós próprios, para nossos filhos e também para os nossos netos.
Ministro, mas quanto a esses casos que estão sendo descobertos agora, quando os responsáveis serão punidos?
-- Olha, é aí que está. Porque o processo tem uma tramitação, e a tramitação visa justamente proteger o exercício do direito de defesa. Também não cabe substituir o julgamento por um justiciamento. É o que digo sempre: ´´A lei é assim, e não se pode virar a mesa e partir para um ato de força´´. Isso não seria bom, porque implicaria retrocesso.