Lula perde terreno na reta final, afirma ¨Financial Times¨ 25/09/2006
- BBC Brasil e Folha Online
A reta final das eleições presidenciais brasileiras ganhou destaque em diversos veículos da mídia internacional nesta segunda-feira
De acordo com o diário econômico ¨Financial Times¨, a última semana da campanha eleitoral que envolve Lula e Geraldo Alckmin está se transformando em uma ¨competição genuína¨. O jornal atribui a queda de Lula em pesquisas recentes ao escândalo do dossiê, mas também lembra que a renúncia do ministro Antonio Palocci e a revisão das taxas de crescimento anunciada pela Confederação Nacional da Indústria também têm o seu peso.
¨Adicione a isso o descontentamento do país com a vacilante reação dada à Bolívia na nacionalização de propriedades da Petrobras e o caminho parece livre para o candidato de oposição, Geraldo Alckmin, forçar Lula a um segundo turno¨, argumenta o jornal, que, no entanto, lembra que Lula ainda tem uma base eleitoral forte nas camadas mais pobres, beneficiado pelas conseqüências da inflação baixa e de programas sociais.
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O italiano ¨La Republica¨ destaca também a determinação do presidente em reafirmar sua campanha apesar de tantos percalços. O jornal diz que a imagem de Lula tem demonstrado forte resistência a escândalos, seja porque ¨o brasileiro comum ache que a corrupção é uma coisa endêmica... e não é pior com o PT do que era no passado, ou seja porque nos últimos três anos e meio o Brasil passou por uma pequena revolução social que teve Lula como motor e príncipe¨, diz o artigo.
¨Não só a economia cresceu e a inflação despencou, mas pela primeira vez em décadas houve uma redistribuição de renda graças à qual alguns milhões de famílias saíram do inferno da pobreza, conquistando para si algumas das benesses da classe média¨, afirma o ¨La Repubblica¨.
¨Bando de aloprados¨
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que os envolvidos na compra de um suposto dossiê contra o ex-ministro José Serra são um ¨bando de aloprados¨. Lula deu uma entrevista para três rádios populares de São Paulo e do Rio de Janeiro. A entrevista não constava da agenda de Lula de presidente nem de candidato.
Na entrevista, Lula disse ainda que o responsável pela escolha da equipe de campanha é o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Após a crise deflagrada pela tentativa de compra do suposto dossiê, Berzoini foi afastado da coordenação da campanha à reeleição de Lula. Ele foi substituído por Marco Aurélio Garcia.
Lula afirmou ainda que quer saber a origem do dinheiro -- R$ 1,7 milhão -- que supostamente seria usado na compra do dossiê antitucano. O dinheiro foi apreendido num quarto de hotel com o empreiteiro Valdebran Padilha e com o então funcionário do comitê de campanha de Lula Gedimar Pereira Passos. Ele disse que também quer saber quem armou todo o esquema e qual é o conteúdo do dossiê.
O caso
A 15 dias das eleições, a Polícia Federal apreendeu vídeo, DVD e fotos que mostram o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, na entrega de ambulâncias da máfia dos sanguessugas.
O material contra Serra seria entregue pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe dos sanguessugas e sócio da Planam, a Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-policial federal, e Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT do Mato Grosso.
Gedimar e Valdebran foram presos, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão. Eles estavam no hotel Ibis, e aguardavam por um emissário do empresário, que levaria o dossiê contra o tucano. O PT nega que o dinheiro seja do partido.
O emissário seria o tio do empresário, Paulo Roberto Dalcol Trevisan. A pedido de Vedoin, o tio entregaria em São Paulo o documento a Valdebran e Gedimar. Os quatro envolvidos foram presos pela Polícia Federal.
Em depoimento à PF, Gedimar disse que foi ¨contratado pela Executiva Nacional do PT¨ para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra os tucanos, e que do pacote fazia parte entrevista acusando Serra de envolvimento na máfia.
Ele disse ainda que seu contato no PT era alguém de nome ¨Froud ou Freud¨. Após a denúncia, o assessor pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Freud Godoy, pediu afastamento do cargo. Ele nega as acusações.
Após o episódio, outros nomes ligados ao PT começaram a ser relacionados ao dossiê. Esse é o caso do ex-coordenador da campanha à reeleição de Lula, Ricardo Berzoini, presidente do PT. Seu ex-secretário no Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas (coordenador de programa de governo da campanha) e Jorge Lorenzetti -- analista de mídia e risco do PT e churrasqueiro do presidente -- procuraram a revista ¨Época¨ para oferecer o dossiê.
Lorenzetti foi afastado do cargo e Berzoini deixou a coordenação da campanha de Lula, mas, por enquanto, permanece na presidência do partido.
O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso também foi afastado da instituição, após denúncia sobre seu suposto envolvimento com o dossiê. Valdebran disse que recebeu parte do dinheiro de uma pessoa chamada ¨Expedito¨. Ele teria participado da operação de montagem e divulgação do documento.
Em São Paulo, o candidato ao governo Aloizio Mercadante (PT) afastou o coordenador de comunicação da campanha Hamilton Lacerda, que teria articulado a publicação de uma reportagem na ¨Istoɨ contra Serra.