CPI quer explicações do ministro da Justiça sobre dossiê 17/10/2006
- Folha Online e Agência Estado
Integrantes da CPI dos Sanguessugas defendem que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, seja convocado a prestar esclarecimentos a respeito das novas denúncias publicadas pela revista ¨Veja¨ sobre a compra do dossiê antitucano.
A revista acusa o ministro de ter atuado para blindar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, no episódio, interferindo para que o ex-assessor da Presidência Freud Godoy fosse inocentado das acusações de que seria o mandante da compra do dossiê.
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¨Ele não pode orientar alguém que está sendo investigado pela Polícia Federal justamente por ser o chefe da PF¨, disse o sub-relator Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Sampaio disse que a oposição vai comparecer em peso à reunião da CPI marcada para esta terça-feira com o objetivo de aprovar requerimentos de convocação e quebras de sigilo dos suspeitos de envolvimento na compra do dossiê -- entre eles o requerimento de convocação do ministro da Justiça.
Carceragem
O deputado esteve na manhã de ontem na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo para obter detalhes a respeito de uma suposta reunião entre Gedimar Passos, José Carlos Espinoza e Freud Godoy -- quando, segundo a revista, teria sido acertado que Freud seria isentado de envolvimento na compra do dossiê. A revista afirma que o ministro teria atuado para facilitar o encontro.
Sampaio disse à Folha Online que conversou de manhã com Severino Alexandre, diretor-executivo da Polícia Federal de São Paulo, e com Jorge Luiz Herculano, chefe do núcleo de custódia da PF. Os dois são acusados pela revista de terem facilitado o encontro entre Gedimar, que estava preso na sede da PF, com Espinoza e Freud.
¨O Herculano mostrou que não existe a hipótese do Freud ter encontrado Gedimar na carceragem. Os advogados dos dois conversaram, mas ele garante que em momento algum Freud se encontrou com o Gedimar¨, disse Sampaio.
O deputado se mostrou convencido de que o encontro não ocorreu, mas defende que a CPI requisite cópia da fita de vídeo do circuito interno de TV da carceragem, assim como do livro de visitas mantido no local. ¨Senti sinceridade da parte do Severino. Temos que investigar, mas eu não seria favorável à convocação dele na CPI¨, disse o deputado.
Segundo a revista, o encontro entre os três envolvidos na compra do dossiê teria ocorrido no gabinete de Severino. Herculano é acusado de levar Gedimar ao encontro de Freud e Espinoza.
Reunião
Sampaio e o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), membro da CPI, estiveram na tarde de ontem com o delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha, que investiga a origem dos US$ 248 mil apreendidos com Gedimar e Valdebran Padilha -- parte do montante que seria usado para a compra do dossiê.
Amanhã termina o prazo para a conclusão do inquérito da PF que apura a origem dos R$ 1,75 milhão apreendidos para a compra do dossiê.
A expectativa é que o delegado Diógenes Curado apresente pedido para prorrogar as investigações por mais um mês. A PF deve concluir hoje o cruzamento das quebras de sigilo telefônico dos principais suspeitos de terem comprado dólares às vésperas da negociação do material.
Oposição vai recorrer à Justiça para investigar dossiegate
As legendas PSDB, PFL e PPS decidiram hoje recorrer ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que investigue todas as pessoas supostamente envolvidas numa ¨operação abafa¨ das investigações sobre a origem do R$ 1,7 milhão que seria usado por petistas para comprar um dossiê contra políticos do PSDB.
A denúncia será anexada ao processo que já tramita no TSE, a pedido dos três partidos, que investiga se a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiada com o episódio do dossiê.
Um dos alvos da ação é o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Segundo a revista ¨Veja¨ desta semana, o ministro orientou envolvidos com o dossiegate de forma a blindar o presidente Lula das acusações.
¨Pedimos não só que sejam investigado todos os envolvidos, desde o delegado que foi afastado, ao carcereiro e os delegados que estavam de plantão, como o envolvimento do ministro da Justiça [Márcio Thomaz Bastos] servindo de intermediário e dossiegate de toda essa artimanha que foi colocada para blindar o senhor Freud¨, disse o presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissatti (CE).
Tucanos e pefelistas se apóiam na denúncia de que, quando Gedimar Passos estava preso, os responsáveis pelo plantão na PF teriam permitido que ele saísse da cadeia para se reunir com petistas, segundo a ¨Veja¨, e combinar uma nova versão para a denúncia.
Segundo o senador, os partidos também querem uma investigação sobre o suposto ¨afastamento e a marginalização de delegados que estavam investigando de maneira independente o caso¨.
Acompanhamento da OAB
Os três partidos também querem que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Congresso Nacional acompanhem de perto das investigações da Polícia Federal.
¨Vamos visitar a OAB amanhã para que acompanhe todas as investigações do dossiegate e ajude a dar uma explicação à opinião pública sobre a origem do dinheiro. Temos a informação que [a origem dos recursos] é claramente sabida, mas que está sendo protelada por orientação do governo¨, disse Tasso.
Os presidentes dos três partidos devem ir amanhã à Polícia Federal para manifestar repúdio ao atraso das investigações sobre o dinheiro do dossiê.
¨Vamos à PF deixar protocolado que não vamos admitir, em hipótese nenhuma, que a PF seja destruída e transformada em polícia política do governo Lula como está acontecendo. Vamos reagir dentro do parlamento para que a PF não siga esse caminho fascista que está seguindo hoje, com afastamento, perseguição e ameaça a profissionais que trabalham de forma independente¨, informou o presidente do PSDB.
Factóide
Os líderes dos três partidos reagiram às declarações da campanha do presidente Lula de que as novas denúncias sobre o dossiegate são um ¨factóide¨. Para o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), é o PT quem faz um ¨factóide¨ quando convoca uma coletiva no mesmo horário que a oposição iria receber a imprensa para mudar a pauta da discussão.
¨O que é que a oposição tem com isso? Factóide de quê? Factóide é eles quererem perturbar uma decisão de três presidentes responsáveis, sob o qual não paira nenhuma dúvida de processo de corrupção, partidos decentes, diferentemente do que está ocorrendo na Presidência da República¨, disse.
Dossiê: Berzoini irá depor hoje na PF
A Polícia Federal toma hoje o depoimento do deputado federal e presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, suspeito de envolvimento na compra do suposto dossiê contra políticos tucanos. Há indícios de que Berzoini tinha conhecimento da compra, por membros do PT, dos documentos que pretendiam ligar, principalmente o governador eleito de São Paulo, José Serra, à máfia das ambulâncias.
A situação de Berzoini é delicada porque vários dos personagens petistas envolvidos no escândalo eram seus subordinados no comitê de campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Duas semanas antes do primeiro turno, a PF prendeu os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha com a quantia de R$ 1,75 milhão. O dinheiro vivo, cuja origem até hoje não foi identificada, seria usado para comprar um vídeo, DVD e fotos que mostravam Serra, quando era ministro da Saúde do governo anterior, numa cerimônia de entrega de ambulâncias da máfia dos sanguessugas.
A relação dos envolvidos no escândalo do dossiê levou a crise para dentro do comitê de campanha de Lula, então comandado por Berzoini. Além de Gedimar, um ex-agente da PF que fazia a análise de documentos para a campanha de Lula, assessores diretos e de confiança de Berzoini no comitê, como seu ex-secretário no Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas (coordenador de programa de governo da campanha) e Jorge Lorenzetti - analista de mídia e risco do PT que estava sob seu comando - foram envolvidos no escândalo.