Vôos atrasam pelo terceiro dia seguido 07/12/2006
- Folha Online
Os aeroportos brasileiros registraram novos atrasos na manhã desta quinta-feira, de acordo com informações preliminares da Infraero (empresa que administra os aeroportos do país). Na quarta-feira (6), a empresa havia registrado que, de um total de 1.184 vôos que deveriam ter ocorrido da 0h às 17h, 122 foram cancelados e 436 atrasaram mais de uma hora.
Devido ao acúmulo de passageiros que ainda aguardam realocação ou reagendamento, as salas de embarque e saguões dos maiores terminais permanecem lotados. Revoltados, um grupo realizou um apitaço e distribuiu narizes de palhaço nas filas de check-in, na tarde de quarta, no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília.
Os problemas são conseqüência da pane que cortou a comunicação por rádio entre controladores do Cindacta 1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília, e pilotos, na terça-feira (5). A Aeronáutica investiga as causas da falha e afirma que, em seis anos de uso, o equipamento nunca havia apresentado falha semelhante.
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Na quarta, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, afirmou esperar que a situação nos aeroportos estivesse normalizada nesta quinta. Ele condenou um suposto ¨clima de terror¨. ¨Os brasileiros não precisam ter medo de voar.¨
Atrasos
Na manhã desta quinta, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tinha ao menos 12 pousos com atrasos de meia a três horas. Havia atrasos de uma a duas horas também nas decolagens. Das 16 programadas, 5 sequer tinham previsão para ocorrer. O terminal, conforme determinação da Anac, operou durante a madrugada desta quinta.
No aeroporto internacional de São Paulo em Guarulhos (Grande São Paulo), havia ao menos dez decolagens atrasadas, na manhã desta quinta. Entre elas, os piores casos eram de dois aviões da TAM que deveriam ter saído com destino a Recife (PE) e a Campo Grande (MS) à 1h15 e à 1h30, respectivamente. O segundo só decolaria às 10h.
Entre os pousos, havia mais de 20 atrasados em ao menos meia hora. O pior caso era de outro avião da TAM que chegaria de Maceió (AL) às 4h40, mas ainda não havia pousado, às 9h.
No aeroporto de Brasília, dos 16 pousos que deveriam ter sido realizados até as 9h, ao menos três estavam mais de três horas atrasados. Entre as decolagens, ao menos sete estavam entre uma hora e meia e duas horas atrasadas. Um vôo da TAM que deixaria o terminal com destino ao aeroporto do Galeão, no Rio, foi cancelado.
Defesa do consumidor
A diretora da Anac esteve reunida com representantes de entidades de defesa do consumidor, Procons e do Ministério Público, que cobraram mais atenção aos passageiros durante esta nova crise.
Passageiros prejudicados pela espera nos aeroportos devem guardar cupons e notas que comprovem a longa permanência nos terminais, para respaldar futuras ações judiciais. O Procon tem alertado aos passageiros que preencham um documento de sugestões e reclamações que pode ser encontrado nas agências da Anac nos aeroportos ou pela internet.
Ao documento devem ser anexadas todas as notas com despesas -- como lanches ou jornais -- que foram feitas por causa da demora no embarque.
Caos
Entre os passageiros que enfrentaram dificuldades para chegar ao destino está a menina Jéssica Adriana Portilho Menezes, 10. Depois de 24 horas de espera no aeroporto de Brasília, ela chegou a Belém (PA) na tarde desta quarta-feira.
Devido à pane no Cindacta 1, o vôo de Jéssica foi cancelado. Ela passou a terça-feira e a madrugada desta quarta no aeroporto à espera do embarque e sem contato com a família. ¨Senti muito medo, não tinha ninguém lá [da companhia]¨, afirmou à Folha Online. Os parentes disseram que não foram comunicados do cancelamento do vôo e que ficaram sem informações sobre o paradeiro da menina até as 11h desta quarta.
A Gol afirma que a menina ficou em uma sala VIP e foi assistida por dois funcionários da empresa aérea durante todo o tempo. A empresa afirma, ainda, que Jéssica não foi levada para um hotel por falta de vagas.
Outro passageiro, Paulo de Cássio Pinto, 46, chegou ao aeroporto de Brasília na manhã desta quarta para tentar embarcar com destino a Recife (PE). Usando um nariz de palhaço, ele recusou o conselho de deixar a viagem para quinta (7). ¨Meu filho faz dez anos hoje, e preciso chegar para a festa.¨
Crise
Desde o final de outubro, os passageiros têm enfrentado constantes atrasos nos principais aeroportos do país. Inicialmente, os atrasos foram causados pela chamada operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo, que, de forma isolada, decidiram aumentar o espaçamento entre as decolagens. O objetivo seria garantir a segurança dos vôos, após o acidente com o Boeing da Gol, que causou a morte dos 154 ocupantes.
O resultado do movimento foi uma seqüência de atrasos e cancelamentos de vôos. O setor entrou em colapso na madrugada do último dia 2 de novembro, feriado de Finados. No dia 14 do mesmo mês, véspera do feriado da Proclamação da República, grandes atrasos voltaram a ser registrados nos principais aeroportos do país. Na ocasião, os problemas seriam resultado da falta de controladores no Cindacta 1, em Brasília.
Entre os últimos dias 19 e 20 de novembro, os passageiros enfrentaram transtornos atribuídos, na ocasião, à chuva e ao efeito bola-de-neve causado pelo rompimento um cabo de fibra ótica do Cindacta 2 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) -- que coordena o tráfego na região Sul.