Internautas ameaçam boicotar programa de Cicarelli 09/01/2007
- O estado de S.Paulo
O bloqueio do site YouTube vem revoltando os internautas e já resultou em abaixo-assinado online e na criação de sites que propõem boicote ao programa da apresentadora Daniella Cicarelli e aos produtos que ela anuncia.
¨Conseguir bloquear o vídeo dela é uma coisa, mas o site inteiro é demais¨, afirma o professor Rogério Maciel.
No abaixo-assinado, os internautas explicam que o YouTube é ¨muito mais do que o vídeo da Cicarelli¨. Já na página que pede o boicote à apresentadora, o criador explica que seu objetivo é ¨defender um Brasil sem censura¨.
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No Orkut, 50% das 185 comunidades relacionadas ao tema já explicam passo a passo o que fazer para ter o YouTube de volta. ¨É uma palhaçada sem tamanho¨, definiu a estudante Bárbara Magalhães, de 21 anos.
Bloqueio
A Brasil Telecom e a Telefônica bloquearam ontem o acesso ao YouTube a todos os internautas que usam suas estruturas para navegar pela internet. Donas de provedores conhecidos como iG, iBest e BrTurbo (Brasil Telecom) e Speedy (Telefônica), as duas empresas cumpriram a ordem da liminar, assinada pelo desembargador Ênio Santarelli Zuliani, na quarta-feira, que determina o bloqueio do site para todos os internautas brasileiros. De acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Peritos de Comércio Eletrônico a medida afeta 3 milhões de usuários.
A decisão da Justiça tem como objetivo punir o YouTube por continuar a exibir o vídeo da apresentadora Daniella Cicarelli e o namorado Tato Malzoni na praia de Cádiz, na Espanha. O filme gravado por um paparazzo mostra cenas picantes e indiscretas do namoro do casal no ano passado. Foram indiciadas duas outras companhias do ramo, Embratel, Global Crossing, Telecom Itália, que ainda analisam a decisão judicial.
Conforme o YouTube, o maior site de vídeo do mundo, o filme de Cicarelli foi removido anteriormente, não por conta da decisão judicial brasileira, mas pelo fato de o material violar a política de uso do site. No ano passado, o desembargador Zulliani havia estabelecido uma multa diária de R$ 250 mil para os sites que insistissem em permanecer com o vídeo no ar.
“Apesar de a administração do site ter retirado o vídeo, um usuário voltou a alimentá-lo com o mesmo material”, diz Jaime Schopflin, porta-voz do YouTube, nos Estados Unidos. Em agosto de 2006, o Google comprou o YouTube por US$ 1,7 bilhão, transformando-se no negócio mais comentado do ano.
Segundo o site, são publicados diariamente em suas páginas mais de 65 mil vídeos. A política do YouTube é estimular a própria comunidade de usuários a filtrar conteúdos inapropriados. “Temos pessoas removendo arquivos impróprios 24 horas por dia”, disse Schopflin.
“A rapidez da Brasil Telecom prova que o meu laudo estava certo. É muito fácil bloquear o site”, diz Paulo Cesar Breim, perito judicial em internet, que forneceu a base técnica para a ação de Tato Malzoni, que pede o bloqueio do site. Na prática, para impedir o acesso dos internautas, usa-se um esquema parecido com o de um programa antivírus do tipo Firewall. “A ferramenta é programada para não reconhecer os números de acesso ao YouTube”, diz Breim.
Bloqueia-se o site, mas isso não quer dizer que o vídeo desapareça da rede. “É quase impossível retirá-lo definitivamente da web”, diz o advogado Renato Opice Blum, especialista em internet. Há sempre um internauta com o material arquivado, que pode jogá-lo de volta à rede.
“Uma medida complementar cabível seria investigar as pessoas que realimentam a web com esse vídeo”, diz Blum. “Seria educativo e ajudaria a acabar com a sensação de impunidade¨. Para o advogado de Tato Malzone, Rubens Tilkiam, as demais empresas devem acatar a decisão da Justiça.
RS cria paródia de Cicarelli na praia
O vídeo mais comentado da internet em 2006 está de volta, numa versão educativa e debochada. No lugar da modelo Daniella Cicarelli e do namorado, Renato Malzoni Filho, o casal protagonista são dois mosquitos gigantes, que aparecem em tórridas cenas de amor na praia.
As cenas foram feitas pelo governo do Rio Grande do Sul para uma campanha contra a dengue. “É na água que mosquito da dengue se reproduz”, alerta o vídeo, enquanto os insetos simulam sexo dentro da água.
A campanha é uma paródia escrachada do polêmico vídeo filmado por um paparazzo e colocado na internet em setembro. Nas imagens, o casal Cicarelli e Malzoni Filho é flagrado numa praia da Espanha em carícias explícitas na areia e numa suposta cena de sexo no mar.
A versão gaúcha foi filmada na orla do Rio Guaíba, em Porto Alegre. O mosquito fêmea veste um biquíni de bolinha, está de óculos escuros e usa batom. O macho veste uma sunga verde.
A propaganda é pontuada por frases em espanhol. No vídeo original, Cicarelli toma uma bebida e se lê “sangría para refrescarse”. Na paródia, a frase que aparece é “sangre para refrescarse” - é de sangue que o mosquito se alimenta.
No final, as frases - em português - alertam que não se deve deixar água parada, pois é nesse ambiente que o transmissor da dengue se reproduz. Após as cenas de amor, sorridente, o casal de mosquitos sai do mar ajeitando as roupas de banho.
A propaganda está sendo divulgada exclusivamente na internet, no YouTube (www.youtube.com/watch?v=lsegA8ijcNQ), o mesmo site que mostrou as imagens de Cicarelli pela primeira vez.
“A dengue está muito batida. A população olha e diz: ‘De novo aquela informação, daquela mesma forma’. Com o vídeo, tentamos renovar o interesse”, explica Francisco Paz, diretor do Centro de Vigilância em Saúde.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os únicos Estados onde não há o vírus da dengue. Os poucos doentes se contaminaram em outras regiões. Esses Estados têm o mosquito Aedes aegypti - daí a necessidade de campanhas. Em 2006, 280 mil pessoas contraíram a doença no País.
A campanha foi colocada na rede em 22 de dezembro e, segundo o governo gaúcho, já foi vista por quase 280 mil internautas. “Além de um custo menor que um comercial de TV, esse tipo de vídeo tem ‘capacidade viral’: a pessoa vê e quer compartilhar com os amigos”, afirma Eduardo Axelrud, da Escala Comunicação, a agência que criou a campanha.
O casal Cicarelli e Malzoni Filho processou os sites que reproduziram o vídeo. O governo gaúcho diz que não teme ser levado à Justiça. “Nosso único objetivo é conscientizar a população”, diz Paz. Assessores de Cicarelli disseram que ela não falaria sobre a paródia.