Novas denúncias adiam apreciação do caso Renan para terça 15/06/2007
- Gabriela Guerreiro - Folha Online
O Conselho de Ética do Senado adiou para terça-feira a votação do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) que absolve o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), nas denúncias de que teria recebido dinheiro da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso -- com quem tem uma filha fora do casamento. Depois de insistir na votação do relatório ainda nesta sexta-feira, Cafeteira decidiu aceitar o adiamento da sessão.
Por intermédio do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), Renan pediu que o conselho adiasse a votação. Renan também sugeriu que o conselho convoque o advogado da jornalista Mônica Veloso, Pedro Calmon Filho, além do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, para prestarem depoimento na próxima segunda-feira.
¨O senador Renan entende que circunstância política do processo mudou. A ele não interessa que paire nenhuma dúvida sobre ele¨, justificou Jucá.
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Apesar do pedido de Renan, inicialmente o relator afirmou que não aceitaria o adiamento da votação de seu relatório. ¨Vou ficar desmoralizado. Não encontrei nada contra o senador Renan¨, afirmou. Mas minutos depois voltou atrás e disse estar de acordo com a votação na terça-feira.
Cafeteira disse ter recebido um telefonema de sua esposa, a quem rendeu elogios ao longo da sessão do conselho, para acatar a proposta alternativa. ¨Atendendo a um pedido da minha mulher e do senador Renan, eu aceito prorrogar¨, disse o relator.
Segundo Cafeteira, foi o próprio Renan que ligou para sua mulher pedindo que intercedesse junto ao marido para adiar a votação.
Senadores do governo e da oposição se mostraram favoráveis ao adiamento da votação para que, até lá, sejam periciados os novos documentos encaminhados ao conselho por Renan.
Os documentos são uma resposta do senador à reportagem divulgada ontem pela TV Globo, que aponta supostas notas frias que Renan teria utilizado para comprovar rendimentos com a venda de gado.
Apesar do adiamento da votação, PSDB, DEM e PDT vão apresentar ainda hoje votos em separado ao relatório de Cafeteira. Os três partidos são contrários à absolvição de Renan com o argumento de que as investigações contra o senador devem ser aprofundadas.
Relator desistiu de entregar o cargo após telefonema da mulher
O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), relator do processo por suposta quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desistiu de entregar o cargo. Ele ameaçou deixar a relatoria caso o Conselho de Ética adiasse a votação para terça-feira -- como acabou sendo decidido hoje.
Cafeteira disse que voltou atrás na disposição de entregar o cargo depois de receber um telefonema de sua mulher, a quem rendeu elogios ao longo da sessão do conselho, para acatar a proposta alternativa. ¨Atendendo a um pedido da minha mulher e do senador Renan, eu aceito prorrogar¨, disse o relator.
O curioso é que Cafeteira admitiu que foi o próprio Renan que ligou para sua mulher pedindo que ela intercedesse junto ao marido para adiar a votação. ¨Eu devo a vida a esta mulher. Não podia negar um pedido dela¨, justificou o senador.
Antes dessa ligação, Cafeteira insistia em entregar o cargo e queria que a votação acontecesse hoje. ¨Se querem a mudar a data, entrego à senadora Ideli [Salvatti, do PT-SC] o cargo para me substituir. Não vou ficar desmoralizado. Não encontrei nenhum documento contra o presidente do Senado¨, disse antes.
Cafeteira já sugeriu o arquivamento do processo contra Renan por falta de provas. Ele dizia que se a votação fosse adiada, o relatório ¨perderia a razão de ser¨ porque incluía apenas as denúncias sobre o suposto uso da Mendes Júnior, por parte de Renan, para pagar despesas pessoais.
Mas Renan e seus aliados manobraram para adiar a votação após as denúncias do ¨Jornal Nacional¨, da Globo, de que o peemedebista apresentou notas falsas de venda de gado para justificar sua renda.
Renan é acusado de usar o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, para pagar o aluguel e pensão da jornalista Mônica Veloso -- com quem tem uma filha.
O argumento dos aliados é que precisa periciar os documentos apresentados por Renan e contestados pela reportagem sobre os ganhos obtidos com a venda de gado.
A oposição também queria mais tempo para aprofundar as investigações. O DEM, PSDB e PDT querem ouvir o advogado de Mônica e Gontijo.
Renan preferiu não se manifestar sobre a decisão do Conselho de Ética de adiar para a semana que vem a votação do relatório que o absolve no processo por quebra de decoro parlamentar. Ele deixou o Senado sem falar com os jornalistas.
Segundo assessores, o senador foi para sua residência oficial e não retorna mais nesta sexta-feira ao seu gabinete.
Foi o próprio Renan que pediu o adiamento após reviravolta no possível placar de votação. Ele esperava contar com os votos dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Eduardo Suplicy (PT-SP) -- que defenderam investigar as novas denúncias.
A Folha Online apurou que Renan contava informalmente com votos de oito dos 14 integrantes do conselho, uma vez que o presidente do órgão, Sibá Machado (PT-AC), só vota em caso de empate.
Se Casagrande e Suplicy defendessem formalmente a continuidade das investigações, a votação terminaria empatada. Nesse caso, o presidente da Casa preferiu o adiamento a arriscar uma mudança de posição de mais um senador no caso.
Segundo a Folha Online apurou, alguns senadores ficaram constrangidos de defender hoje a absolvição de Renan depois das novas denúncias reveladas pela TV Globo.
Renúncia agora não evitaria cassação de Calheiros
A regra em vigor no Congresso impede o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de renunciar ao mandato para escapar de uma eventual punição. Essa possibilidade só era viável antes do início do processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.
Uma vez nomeado um relator para o caso, o acusado só pode ser absolvido ou punido. Nos escândalos recentes, alguns integrantes do Congresso preferiram renunciar para não ficarem inelegíveis por oito anos.
Jader Barbalho (PMDB-PA), Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) e José Roberto Arruda (DEM-DF) foram políticos que renunciaram aos seus mandatos para escapar de uma cassação.
O processo contra Renan, entretanto, pode ser longo e com várias possibilidades de protelação. Primeiro, é necessário que o conselho termine de analisar. Depois, o caso vai para plenário.
Até ontem, a perspectiva de Renan era a de que tudo terminasse rapidamente. Agora, talvez a estratégia tenha de ser alterada -para que o presidente do Senado consiga encontrar provas convincentes sobre a legalidade de suas atividades como pecuarista em Alagoas.