Renan vai resistir sozinho 23/06/2007
- Rudolfo Lago - Revista ISTOÉ
O presidente do senado decide enfrentar no cargo um processo que pode levar seis meses até a cassação
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¨Não tenho mais o controle disso. Fui traído¨
Renan Calheiros para assessores, na noite de quarta-feira, 20
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Os parlamentares em Brasília costumam brincar que, num ambiente que respira política, até o mais humilde dos servidores percebe quando alguém perde poder e prestígio. Na terça-feira 19, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), personificou involuntariamente essa situação. No final da noite, ele não encontrou o carro oficial que deveria estar esperando-o na entrada do Congresso. O motorista se atrasara e Renan, por alguns minutos, viu-se completamente sozinho. O episódio, um tanto cômico, reflete o calvário que o presidente do Senado começou a viver nestes dias.
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Apesar dos sinais de desgaste, na manhã da quarta-feira 20, Renan chegou ao Senado ainda confiante de que teria votos suficientes no Conselho de Ética para aprovar o arquivamento do processo contra ele por quebra de decoro. Terminou o dia atordoado. Seus apoios derreteram como picolé em frigideira. Ao final da noite, Renan reuniu os aliados que ainda lhe restavam e seus assessores e constatou: ¨Não tenho mais o controle disso. Fui traído.
É uma guinada e tanto para quem até o início da semana julgava ter sob controle o desfecho da crise. Aliados de Renan admitem que os ventos viraram contra o presidente do Senado como conseqüência dos seus próprios erros. ¨Renan montou uma armadilha para ele mesmo¨, comentou um de seus aliados.
O erro maior foi a idéia de apresentar provas contrárias para buscar enterrar a denúncia. O ônus da prova é de quem acusa. E quem acusou Renan de receber recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar Mônica Veloso não apresentou qualquer prova disso. Ao mostrar suas contra-provas, Renan inverteu o processo. A tarefa passou a ser atestar a veracidade dos documentos que ele próprio apresentou. Se Renan vier a ser cassado, será por conseqüência de algum papel que saiu das suas próprias gavetas.
A falta de uma solidariedade mais explícita do governo, especialmente do presidente Lula, dá a impressão a Renan de que o Palácio do Planalto o considera rifado e trama a sua sucessão. O senador quer resistir. Não pretende renunciar ao cargo porque, sem os poderes da presidência do Senado, estará ainda mais fraco para enfrentar o processo de cassação. E não pretende renunciar ao mandato porque pela lei, com o processo aberto no Conselho de Ética, ficaria oito anos sem poder ocupar cargo público. Renan usará os meios de que dispõe para essa briga - e ela será longa.
No Conselho de Ética, o processo dura 60 dias, prorrogáveis por mais 60. Se os senadores concluírem que houve quebra de decoro, ele segue para a Comissão de Constituição e Justiça. Aprovado, o pedido de cassação vai a voto em sessão secreta no plenário. Para cassar serão necessários 49 dos 81 votos. Contados todos os prazos, portanto, a questão levará pelo menos três meses para ser legalmente resolvida, mas pode ser esticada por outros três com facilidade.
Se a esperança de encerrar o caso no Conselho de Ética ficou mais distante, o presidente do Senado pode ganhar a causa no plenário - ou pela omissão de alguns, que não dariam quórum para sua cassação, ou pela expectativa de que tão longo tempo até o voto final arrefeça o impacto das denúncias. Assim, não deixa de ser irônico que há 16 anos, depois que Renan denunciou a corrupção no governo Collor, o então presidente respondeu usando uma camiseta onde se lia: ¨O tempo é o senhor da razão.¨
José Sarney aguarda a sucessão no Senado e que o
comando do PMDB governista caia em seus braços
A dupla de senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) atua de maneira afinada desde o início do segundo mandato do presidente Lula. Os dois senadores acabaram se tornando os interlocutores privilegiados do PMDB junto ao Palácio do Planalto e fizeram de um partido tradicionalmente dividido a principal base de sustentação do Executivo no Congresso. E é exatamente por isso que a solução para a crise política que tem Calheiros em seu epicentro passa necessariamente por Sarney. Seja para buscar uma alternativa cada vez mais difícil de manter o Renan na presidência do Senado, seja para sucedê-lo em caso de renúncia ou cassação.
O regimento do Senado define que, caso o presidente renuncie, o vice, Tião Viana (PT-AC), tem de convocar novas eleições num prazo máximo de cinco dias. A idéia de quem trabalha com a possibilidade de uma solução Sarney é, a partir dela, repetir no Senado o acordo que possibilitou a vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) como presidente da Câmara. Ali, o PMDB apoiou o petista Chinaglia e, em troca, o PT assumiu o compromisso de eleger um peemedebista como o próximo presidente da Câmara. O acerto, agora, definiria o seguinte: o PT elegeria Sarney e, em troca, o PMDB ajudaria a tornar um petista, provavelmente Tião Viana, o presidente do Senado daqui a um ano e meio.
Por que Sarney? Porque, no entender dos senadores, ele seria um dos poucos nomes capazes de agregar votos tanto entre os governistas quanto na oposição. Na primeira triagem feita por aqueles que já articulam a sucessão de Renan, o critério era encontrar dentro do PMDB figuras que tivessem estatura política e experiência para comandar o Senado, mas que, ao mesmo tempo, fossem aliadas do governo. Esse critério excluía nomes como Pedro Simon (RS) ou Jarbas Vasconcelos (PE). As hipóteses possíveis viravam, então, Sarney e sua filha, a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (MA).
A alternativa Roseana, no entanto, começou a ser bombardeada na oposição, principalmente no DEM. Roseana foi eleita pelo PFL e deixou o partido num processo traumático. Como alguém que acabou de entrar no PMDB, ela teria problemas para se viabilizar também em seu próprio partido. Assim, a solução foi confluindo para Sarney pai. ¨Ele é um homem respeitado e experiente, mas ainda é muito prematuro falar de nomes para o Senado, uma vez que as investigações ainda estão em curso e Renan ainda é o nosso presidente¨, pondera o senador Delcídio Amaral (PT-MS). ¨Fala-se mesmo em Sarney, mas eu estou com vontade de lançar publicamente o senador Pedro Simon como candidato¨, provocou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Independente, Simon age como um verdadeiro franco-atirador, batendo forte no governo Lula e fustigando até seus pares peemedebistas, como Renan, a quem sugeriu que renunciasse.
Há, porém, outras articulações em curso. Alguns petistas estimulam que a solução se dê com o senador Gerson Camata (PMDB-ES), ex-governador do Espírito Santo. Camata não é um governista convicto, mas também não chega a ser oposicionista. O que esse grupo no PT imagina é que, num acordo com ele, Camata presidiria o Senado como aliado do governo. Ao mesmo tempo, o grupo governista do PMDB, que sempre teve Renan e Sarney como os principais líderes, ficaria enfraquecido. E isso faria com que o PT voltasse a ser hegemônico no governo. Esse é um momento em que a oposição se vê com poucas chances de incomodar. O líder do DEM, José Agripino (RN), chegou a disputar com Renan a Presidência do Senado e acabou derrotado. Na quinta-feira 21, diante das insinuações de que pregava a renúncia de Renan de olho na possibilidade de vir a substituí-lo, Agripino declarou: ¨Para desfazer qualquer maledicência, declaro desde já que não serei candidato.¨
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¨Ele é respeitado e experiente, mas ainda
é prematuro falar de nomes para o Senado¨
Senador Delcídio Amaral - PT-MS