Renan vai ao Planalto pedir socorro e ganha apoio de Lula 27/06/2007
- Christiane Samarco - Estadão
Presidente do Senado diz que ele e governo são vítimas da oposição
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve uma conversa de 40 minutos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, antes de chegar ao Congresso, pouco depois das 10h da manhã. Foi Lula quem chamou o senador ao gabinete presidencial, mas Renan aproveitou a conversa para pedir socorro ao presidente.
Um dirigente do PMDB revela que, no encontro, os dois avaliaram que o conflito entre partidos governistas (PT e PMDB, basicamente) em torno do processo disciplinar movido contra Renan no Conselho de Ética do Senado ganhou outra dimensão. ¨Diante da declaração de guerra do partido Democratas ontem (terça), ficou claro que o que existe, agora, é uma batalha política entre governo e oposição¨, resumiu Renan a Lula.
O resultado prático desta avaliação é que o presidente Lula decidiu entrar pessoalmente na ofensiva dos aliados para solucionar a crise política em torno do caso Renan.
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A ¨declaração de guerra¨ a que se referiram o presidente e o senador foi esboçada na nota da executiva nacional do DEM, que se reuniu na terça-feira para exigir que Renan se afastasse da presidência do Senado e que o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), nomeasse imediatamente um relator para o processo.
Renan é acusado de receber recursos do lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar pensão a jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. O senador também é acusado de utilizar notas frias para comprovar rendimento próprio.
Substituição
Renan reafirmou a Lula que não se afastará do cargo e obteve a solidariedade presidencial. Ambos estão convencidos de que o objetivo da ofensiva da oposição é tomar a presidência do Senado na metade final do segundo mandato de Lula, para infernizar a vida do governo.
No caso da substituição de Renan pelo senador José Sarney (PMDB-AP) para completar o mandato - que termina em fevereiro de 2009 -, o PMDB e o Planalto avaliam que terão ¨queimado¨ a alternativa ¨mais forte e viável¨ do PMDB para enfrentar a oposição numa nova disputa. É que as regras regimentais não permitem a reeleição.
Renan só pôde disputar o segundo mandato consecutivo com o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), porque em se tratando de uma nova legislatura - que alterou dois terços do eleitorado de senadores -, não se considera que haja uma reeleição.
¨Operação política¨
enan disse a Lula que está sendo vítima de uma ¨operação política da oposição¨, comandada pelo partido Democratas, e defendeu a tese de que, se os adversários do governo forem bem sucedidos na ofensiva para paralisar os trabalhos do plenário do Senado, quem vai pagar a conta é o Planalto.
O raciocínio, neste caso, é de que além de impedir a votação das Medidas Provisórias, a oposição pode prejudicar projetos considerados fundamentais ao Planalto e que já estão a caminho do Senado, como a prorrogação da CPMF, que deve render ao governo cerca de R$ 38 bilhões este ano, e a Desvinculação das Receitas da União (DRU), que dá liberdade ao Executivo para gastar como quiser 20% de sua arrecadação.
Quem comandou a obstrução no plenário na terça foi o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), em uma articulação bem sucedida. Dos 56 senadores que estavam na Casa, apenas 30 registraram presença no painel eletrônico de votação, derrubando a sessão convocada para votar Medidas Provisórias, entre elas o reajuste do salário mínimo.
Na conversa no Planalto, Renan disse que já enviou à Corregedoria e ao Conselho de Ética todos os documentos solicitados pelos senadores para sua defesa. Repetiu que nada do que consta na representação do PSOL contra ele foi comprovado.
Lamentou que, embora a representação esteja ¨superada, o processo não tem fim¨. Pela versão de Renan, a oposição insiste em prosseguir nas investigações. E isto, concluiu o senador, ¨caracteriza de forma muito clara que eu estou sendo vítima de uma operação política¨.
Renan também insistiu na tese de que um dos objetivos da oposição é paralisar o plenário, ¨prejudicando projetos de interesse nacional por conta de uma disputa política¨.
Votações
Renan aproveitou a oportunidade para demonstrar a Lula que o Senado está funcionando. Tanto é assim, alegou, que votou duas Medidas Provisórias na semana passada e nesta sessão pretende votar outras quatro, além da recondução do Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, que está sendo sabatinado pelos senadores esta manhã.
Se conseguir driblar a ofensiva da oposição, ele vai levar a exame do plenário, no final do dia, o projeto que trata das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), que é de interesse da oposição.
Renan nega ter pedido apoio a Lula*
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro no Palácio do Planalto que não vai permitir a ¨politização¨ do Senado em meio à crise política que atinge a instituição.
Renan, que responde a processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado, garantiu que não pediu apoio ao presidente para o desenrolar das investigações.
¨Eu não conversei com o presidente sobre solidariedade. Eu conversei com o presidente sobre a necessidade de o Brasil trabalhar, do Senado votar, de nós não permitirmos a politização da Casa porque isso, se acontecer, será em descompasso do país¨, afirmou.
Renan disse concordar com a indicação do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) para a presidência do Conselho de Ética do Senado. Mas ressaltou que a decisão sobre o novo presidente deve ser do próprio conselho.
¨O Arthur Virgílio é um grande quadro, um grande amigo e um dos maiores oradores do Senado e reúne todas as condições para exercer qualquer cargo. Mas eu não vou entrar na discussão do conselho¨, ressaltou.
O senador tucano lançou hoje seu nome para a presidência do Conselho de Ética e disse que, se for eleito, indicará o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para a relatoria do processo contra o presidente do Senado.
Segundo Renan, Mercadante também é um ¨grande quadro¨ do Senado, mas evitou comentar diretamente a possibilidade de o petista se tornar o relator do processo.
Renan reiterou inocência nas denúncias de que teria utilizado recursos da empreiteira Mendes Junior para pagar pensão e aluguel à jornalista Monica Veloso, com quem Renan tem uma filha.
¨Não pode haver o julgamento político baseado em mentira. Já disseram e eu queria repetir que toda grande mentira aumenta a chance do povo acreditar nela. O Brasil democrático que nós queremos não comporta isso¨, afirmou.