DE ÚLTIMA!

CBF paga menos do que promete à Seleção Feminina
22/11/2007 - Bruno Lousada - O Estado de S.Paulo

Mais uma vez, a Confederação Brasileira de Futebol deixou as jogadoras da seleção feminina revoltadas e descrentes num futuro melhor para a profissão. A entidade chegou a anunciar, por meio do supervisor América Faria, que o valor a ser pago pelo segundo lugar na Copa do Mundo da China, em setembro, seria proporcional ao destinado à equipe masculina pentacampeã mundial em 2002 - cada titular recebeu US$ 150 mil, o equivalente hoje a R$ 290 mil. Mas o prêmio das meninas foi irrisório: R$ 17 mil cada uma.

A CBF havia comunicado também que promoveria pagamento em conjunto da premiação pela medalha de ouro no Pan do Rio, disputado em julho, e pelo vice mundial. Mas, na verdade, a entidade pagou somente pela última competição.

A denúncia partiu do pai de uma das atletas da seleção e foi confirmada por dois técnicos de equipes que disputam a Copa do Brasil de futebol feminino. Eles têm em seus elencos jogadoras que fizeram parte do grupo comandado pelo técnico Jorge Barcellos no Pan e na China.


PUBLICIDADE


¨Esse valor (R$ 17 mil) é muito pouco. Não se sabe qual critério foi adotado. As atletas estão revoltadas. Mais uma vez, a CBF prometeu e não cumpriu¨, declarou um dos treinadores ouvidos pelo Estado, negando que a quantia seja apenas um adiantamento.

De acordo com o pai da atleta que concedeu entrevista ao Estado, pedindo anonimato, a situação é revoltante. ¨Tenho conhecimento de familiares de atletas da seleção que passam por dificuldades financeiras, compromissos atrasados¨, desabafou. ¨É abusar da boa fé das garotas, humilhar cada um de nós e nos jogar à margem do esporte nacional.¨

As jogadoras mantêm contato permanente entre si e continuam cobrando incentivo e estrutura da CBF. Horas após a decisão da Copa, contra a Alemanha, o grupo se reuniu no hotel onde estava concentrado e redigiu uma carta com várias reivindicações, entre as quais a transparência da CBF quanto à definição da premiação, mais amistosos e uma diária maior. Elas iam reclamar até que não houve cozinheiro na delegação que foi à China. Muitas lamentaram o fato de ter passado mais de um mês sem comer feijão.

A intenção era distribuir o manifesto à imprensa assim que a delegação desembarcasse no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Mas, ao tomar conhecimento do documento, a CBF agiu rapidamente e abafou a crise: anunciou algumas medidas antes mesmo de a seleção retornar ao País.

Na chegada ao Rio, ainda no aeroporto, as atletas tiveram um encontro reservado com o supervisor da CBF, Américo Faria, de quem ouviram detalhes sobre o pagamento da premiação. Diante disso, fizeram um pacto para não divulgar a carta.

Mesmo com o acordo com o dirigente, elas demonstraram desconfiança quanto às promessas da CBF nas primeiras entrevistas após o desembarque. Temiam que a entidade não se empenhasse, a exemplo do que ocorreu depois da Olimpíada de Atenas em 2004, quando ganharam a medalha de prata.

Na época, a CBF prometeu uma série de melhorias. Só projetos. As próprias atletas admitiram que nada saiu do papel e reclamaram do descaso com o futebol feminino no Brasil e da falta de estrutura.

A reportagem do Estado ligou ontem várias vezes durante o dia para o supervisor América Faria e o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, para conhecer a versão da entidade. Não houve retorno.

Compartilhe: