Governo da Bolívia pede calma após mortes em protesto 25/11/2007
- Mary Vaca - BBC
Ministro disse que o presidente Evo Morales
está ¨muito preocupado¨
O ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, pediu calma neste domingo e disse que o presidente do país, Evo Morales, está ¨muito preocupado¨ com a violência que já deixou pelo menos dois mortos e centenas de feridos em Sucre.
Nos últimos três días, Sucre vem sendo palco de confrontos entre a polícia e manifestantes que se opõem à aprovação em primeira instância pela Assembléia Constituinte, de uma nova Constituição.
As mobilizações começaram na sexta-feira, em rechaço à decisão da base do governo de instalar a Assembléia Constituinte em um colégio militar e aprovar a nova Carta Magna sem a presença da oposição.
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As autoridades afirmaram ter tentado controlar os protestos que se seguiram à sessão utilizando apenas cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo.
O advogado Gonzalo Durán, de 29 anos, morreu nos confrontos, ferido por um tiro. O ministro Alfredo Rada, no entanto, afirmou que não foi usada munição letal pelas tropas de choque.
Policial morto
Neste domingo, o comandante da Polícia Nacional, Miguel Vásquez, afirmou que o policial Jhimmy Quispe morreu em conseqüência de um linchamento por uma multidão em Sucre.
No sábado, milhares de cidadãos que exigem o traslado da sede do governo para Sucre saíram às ruas e se dirigiram ao local da sessão constituinte, cercada de policiais, militares e de camponeses que haviam chegado de várias partes do país para apoiar o governo e a Assembléia.
Para conter os manifestantes e evitar um confronto entre os grupos rivais, os policiais e militares tiveram que lançar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Dentro do colégio militar, os representantes do governo analisavam a demanda pela transferência a Sucre do Executivo e do Legislativo, que hoje funcionam em La Paz.
A Assembléia não aprovou o traslado desses poderes, mas estabeleceu a transferência à cidade da Corte Nacional Eleitoral, com o nome de “quarto poder do Estado”.
Aliados
Outro poder, o Judiciário, já funciona hoje em Sucre.
Dos 255 representantes eleitos para a Assembléia Constituinte, apenas 138 estavam presentes, todos aliados ao governo. Desses, 136 votaram pela aprovação geral do texto.
Até o dia 14 de dezembro, quando vence o prazo da Assembléia Constituinte, ela ainda deve analisar os artigos da nova Carta em detalhe antes de submeter o texto a um referendo popular.
O texto aprovado no sábado estabelece um Estado plurinacional (com respeito às diferentes etnias e culturas), a possibilidade de reeleição do presidente da República, a autonomia das populações indígenas e um Estado comunitário.
A oposição rechaçou a forma como o partido de Evo Morales aprovou a Constituição e recomendou uma desobediência civil ao novo texto.
O líder da oposição e ex-presidente Jorge Quiroga disse que “é uma verdadeira vergonha” o que ocorreu em Sucre e pediu a intervenção de organizações internacionais no país.
Em cadeia nacional, Chávez xinga Uribe de cínico e mentiroso
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou em cadeia nacional neste domingo que as relações com a Colômbia estão ¨em um congelador¨ e rotulou o presidente colombiano de ¨mentiroso¨ e ¨cínico¨.
Em um duro discurso contra o presidente Álvaro Uribe, Chávez admitiu ter se sentido desrespeitado pela decisão do governo colombiano de afastá-lo por meio de uma nota na semana passada das negociações pela libertação de reféns do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (as Farc).
¨Perdi toda a confiança em qualquer um do governo da Colômbia. Não acredito em ninguém, absolutamente ninguém. O que o presidente colombiano fez foi dar uma cusparada brutal no nosso rosto. Indigna¨, discursou.
Há meses, Chávez vinha atuando como mediador e, segundo o presidente venezuelano, elas estavam bem encaminhadas.
¨Já tínhamos encontrado uma forma para chegar ao acordo humanitário. Estou muito seguro de que conseguiria lográ-lo, e meio mundo nos apoiava, organizações internacionais, governos da América Latina, da França, a União Européia, China¨, disse Chávez.
Troca de acusações
Ao afastar Chávez, Uribe afirmou que o líder venezuelano passou do limite ao comentar com um general colombiano sobre os reféns.
Chávez, por sua vez, atribuiu o seu afastamento à pressão americana e da elite colombiana sobre o presidente Uribe.
Com a decisão de congelar relações com os vizinhos colombianos, Chávez deve criar graves problemas para os dois países, que são importantes parceiros comerciais.
A decisão de encerrar o processo de mediação foi tomada apenas dois dias depois de o governo colombiano ter anunciado que daria prazo até 31 de dezembro para que os esforços de Chávez tivessem resultados.
Desde agosto, Chávez vinha atuando como mediador entre o governo da Colômbia e as Farc para libertar 45 reféns em troca da liberdade de cerca de 500 guerrilheiros que estão presos.
Entre os reféns das Farc está a senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt. Na terça-feira, em visita à França, Chávez disse que as Farc haviam prometido enviar até o final do ano uma prova de que a refém estava viva.