Chávez congela laços com Bogotá e Madri 26/11/2007
- Brian Ellsworth - Reuters e o Estado de São Paulo
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem que pôs ¨no congelador¨ as relações com Bogotá, que revogou seu papel de mediador para a libertação de reféns do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). No sábado, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tinha dito, num comunicado, estar disposto a ¨manter um diálogo construtivo¨ com Chávez.
¨Declaro ao mundo que estou colocando as relações com a Colômbia em um congelador, pois não acredito em ninguém no governo colombiano¨, afirmou Chávez durante a inauguração de um projeto de desenvolvimento agrário socialista em Maracaibo.
¨O que o presidente da Colômbia fez foi dar uma brutal cuspida em nosso rosto. Ele emitiu um comunicado cheio de mentiras e isso é grave¨, acrescentou.
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¨Se Uribe quer romper as relações, que faça isso, pois eu não as romperei, mas é muito triste que haja um presidente mentiroso e ele não mostre a cara¨.
Chávez acrescentou que o ocorrido afetará as relações econômicas das empresas dos dois países e pediu aos militares que estejam em ¨alerta¨, pois os anúncios de ontem eram ¨graves¨.
Ele também assinalou que as relações com a Espanha também estão congeladas, após a discussão que teve na semana retrasada em Santiago, durante a cúpula ibero-americana, com o rei Juan Carlos, que o mandou calar a boca.
¨Até que o rei da Espanha não se desculpe, eu congelo as relações com a Espanha, pois aqui há dignidade.¨
Horas mais tarde, Uribe acusou Chávez de querer instaurar na Colômbia um governo das Farc, dentro de seu propósito de ¨incendiar¨ o continente e ¨expandir-se¨ por ele.
¨Suas palavras, suas atitudes, dão a impressão de que o senhor não está interessado na paz da Colômbia, mas que a Colômbia seja vítima de um governo terrorista das Farc¨, disse Uribe, respondendo ao ¨congelamento¨ de relações.
Mais tarde, Uribe acusou Chávez de se aliar às Farc e de promover um plano ¨expansionista¨ dentro da Colômbia.
¨A verdade, presidente Chávez, é que precisamos de mediação contra os terroristas, não uma [mediação] que legitime o terrorismo¨, disse Uribe. ¨A verdade, presidente Chávez, é que se o senhor está fomentando um projeto expansionista no continente, ele não tem vez na Colômbia.¨
Durante meses, Chávez tentou convencer a guerrilha Farc a libertar 47 de seus reféns, entre os quais a ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt, em troca de cerca de 500 militantes detidos pelo governo.
Chávez no domingo alertou seus ministros a ficarem ¨alertas¨ às relações comerciais com a Colômbia, segundo principal parceiro da Venezuela.
Ele também prometeu que Caracas não voltará à Comunidade Andina de Nações (CAN), da qual se afastou em 2006 protestando contra acordos comerciais do Peru e da Colômbia com os Estados Unidos. Recentemente, Chávez acenara com a possibilidade de regresso ao bloco andino.
¨Todos devem ficar alertas a respeito da Colômbia¨, disse Chávez. ¨As empresas dos colombianos aqui, as empresas que temos lá, as relações comerciais -- tudo isso será afetado.¨
Chávez ameaça ¨varrer¨ oposição se houver violência
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, reagiu ao assassinato de um trabalhador nesta segunda-feira, supostamente morto por opositores a seu governo, e afirmou que ¨varrerᨠa oposição se ela optar pelo caminho da violência.
¨Aqui está o povo organizado para impedir desestabilizações¨, disse. ¨Se eles buscam o caminho da violência, tenham certeza de que saberemos enfrentá-los nas ruas e varrê-los como já fizemos em 13 de abril de 2002¨, acrescentou, em referência à tentativa de golpe de Estado quando a população saiu às ruas para restituir o poder ao presidente.
A seis dias do referendo consultivo da polêmica reforma constitucional, o presidente venezuelano disse que ¨os setores enlouquecidos e desesperados da oposição começaram com um plano de violência¨.
Na manhã desta segunda-feira, um trabalhador de 19 anos da fábrica Petrocasa foi assassinado com dois tiros quando pretendia romper o bloqueio de um grupo de manifestantes que protestavam contra a reforma constitucional, na cidade de Valência.
De acordo com o vice-presidente Jorge Rodríguez, 80 pessoas foram detidas no incidente. Chávez descreveu os manifestantes como grupos ¨enlouquecidos, envenenados pela campanha midiática e pela cartilha norte-americana¨.
¨São estes os que querem roubar-nos a pátria¨, disse o líder venezuelano, em um ato público de lançamento dos primeiros carros fabricados no país com tecnologia iraniana.
Camponeses
Ainda nesta segunda-feira, milhares de camponeses venezuelanos provenientes de vários Estados do país chegaram a Caracas com tratores e cavalos para participar de uma manifestação em apoio à reforma constitucional.
¨Apoiamos a reforma porque temos que colocar o campo para produzir e acabar com o desabastecimento¨, disse um manifestante a um canal de televisão estatal.
Nos últimos meses, o país – que importa 70% dos alimentos – tem sofrido com uma crise de abastecimento. Para o governo, trata-se de um ato de sabotagem da oposição. Os produtores se defendem e dizem que o ajuste de preços torna o mercado pouco competitivo.
Entre as propostas que recebem apoio popular está a proibição do latifúndio, a redução da jornada de trabalho de oito para seis horas e o pagamento de seguridade social aos trabalhadores informais.
Os pontos mais polêmicos são a reeleição para presidente sem limites de candidaturas, o fim da autonomia do Banco Central e a ampliação do poder presidencial.
Disputa apertada
O mandatário venezuelano, que deverá enfrentar uma disputa acirrada no próximo domingo, afirmou que esta semana será definitiva para o futuro da Venezuela. ¨Há que estar bastante atento ao que poderá acontecer¨, disse.
Diferente dos nove processos eleitorais anteriores em que o governo ganhou com ampla margem de votos, o cenário pode não se repetir neste referendo.
De acordo com a última pesquisa de intenção de voto divulgada pela empresa Hinterlaces, há um empate técnico entre o sim e o não às reformas.
Os números indicam que 46% dos eleitores votariam contra a reforma e 45% votariam a favor. Do total de pessoas entrevistadas, 9% ainda estão indecisos.
No sábado, o Instituto Datanalisis divulgou uma pesquisa em que apontava uma vitória do não com 44,6 % da intenção de votos contra 30,8% dos que votariam pelo sim.
Para o presidente venezuelano, as pesquisas pretendem manipular a realidade e preparar o cenário para que a oposição possa reclamar fraude no próximo domingo.
¨Tratam de colocar em dúvida os venezuelanos e o mundo, repetindo uma pesquisa e cifras manipuladas¨, afirmou Chávez, no domingo. ¨Assim, quando ganharmos no domingo, como estou seguro que ganharemos, sairão dizendo que houve fraude, que foram roubados.¨