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Lula ¨caça¨ quatro votos para evitar fim da CPMF
01/12/2007
- Blog de Josias de Souza - Folha Online
Governo se auto-impôs prazo para a ¨virada¨: sete dias. Deseja-se garantir 50 votos até a próxima quinta-feira. Em reunião sigilosa, Planalto admite risco de insucesso
O ministro José Múcio, novo coordenador polÃtico de Lula, reuniu um grupo de senadores governistas no Planalto. Fez com eles uma análise do mapa da guerra da CPMF. Chegou-se à seguinte conclusão: em contagem regressiva para a batalha final no plenário do Senado, o governo ainda não dispõe de tropa para enfrentar a oposição.
O Planalto precisa de um reforço de três senadores para atingir o número mÃnimo exigido para a aprovação da emenda: 49 votos. Mas acha que, para evitar surpresas, convém recrutar pelo menos um “soldado†de reserva. Deseja apresentar-se para o confronto com um exército de 50 senadores. Para atingir o objetivo, Lula decidiu reunir-se, ele próprio, com senadores recalcitrantes. Vai abaixo um resumo da encrenca:
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1. Abertura do paiol: nas últimas duas semanas, o governo lançou mão de todas as armas de que dispõe. Arrastou para o campo de batalha governadores aliados e de oposição. Exigiu que os ministros fossem à linha de frente. Carlos Lupi (PDT), por exemplo, disse aos cinco senadores de seu partido que ficará em posição ¨constrangedora¨ caso algum deles vote contra a CPMF. Insinuou que seria compelido a demitir-se do ministério do Trabalho. De resto, o Planalto mandou empenhar um lote de emendas orçamentárias que já roça a casa dos R$ 600 milhões. Como se fosse pouco, levou ao balcão cargos do porte do ministério das Minas e Energia, prometido, uma vez mais, ao PMDB. E passou a difundir a ameaça de impor retaliações a senadores insurretos.
2. Baixas na oposição: armado até os dentes, o governo produziu uma lipoaspiração na lista de potenciais aliados da oposição. Pedro Simon (PMDB-RS) deu meia-volta. Prometera, por escrito, votar contra a CPMF. Mas, há dois dias, disse ao proto-dissidente Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) que não pode ignorar a penúria fiscal do Rio Grande do Sul. Geraldo Mesquita (PMDB-AC), depois de flertar com a oposição, insinuou que, se Simon não for, ele também não vai. Por precaução, tucanos e ‘demos’ riscaram Simon e Mesquita de sua lista;
3. A tropa dos contra: na reunião sigilosa do Planalto, os comandantes da tropa de Lula reconheceram que, a despeito da eliminação das “gordurasâ€, a oposição ainda dispõe de 34 votos –14 do DEM, 13 do PSDB, um do PSOL e seis de governistas sublevados. O Planalto jogou a toalha em relação a três dos “traidoresâ€: Jarbas Vasconcelos, Mão Santa (PMDB-PI) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Mas joga pesado para reverter os votos dos outros três: Cesar Borges (PR-BA), Expedito Júnior (PR-RR) e Romeu Tuma (PTB-SP). Além disso, cuida para que a debandada não aumente. Olha de esguelha para dois senadores do PDT do ministro Carlos Lupi: Jefferson Peres (AM) e Osmar Dias (PR). A dupla ainda condiciona o voto a um compromisso do governo de reduzir os seus gastos correntes. Lula ordenou ao ministro Guido Mantega (Fazenda) que receba o PDT para uma conversa na próxima segunda-feira.
4. Operação PSOL: o governo tenta seduzir para o seu lado até mesmo o senador José Nery (PA). Único representante do PSOL no Senado, Nery andou dizendo, nos subterrâneos, que receia que a extinção da CPMF imponha cortes aos investimentos sociais do governo. Quem ouviu ficou com a impressão de que o voto dele não está tão decidido quanto imagina a oposição. Nery queixou-se de que nenhum lÃder de oposição o havia contactado para conversar sobre CPMF. O governo armou em torno do senador um movimento de assédio. E a oposição tratou de armar o contra-assédio. O lÃder do DEM, José Agripino Maia (RN), telefonou para Nery nesta quinta-feira (29). Combinou de encontrá-lo na próxima terça-feira (4). Receoso, Agripino discou também para a presidente do PSOL, Heloisa Helena. Contrária à CPMF, HH desembarcará em BrasÃlia na quarta-feira (5), para checar as convicções de seu senador.
5. Operação PSDB: no esforço para obter os quatro votos de que precisa, o Planalto montou acampamento nas cercanias do tucanato. Roga aos governadores tucanos que ajam para virar ao menos três votos de sua bancada: Eduardo Azeredo (MG), João Tenório (PB) e CÃcero Lucena (PB). O DEM pôs as barbas de molho. Mas, pelo telefone, Sérgio Guerra, presidente do PSDB, deu, nesta quinta, um conselho a lideranças do parceiro de oposição: “Durmam tranqüilosâ€. Ouvido pelo blog, Guerra afirmou: “Não há nenhuma negociação em curso com a bancada de senadores do PSDB. Nenhum senador está autorizado a fazê-lo. Nossa posição é irreversÃvel.†O repórter apurou que é intensa a troca de telefonemas entre os governadores e a cúpula da bancada tucana. Porém, só um governador, Cássio Cunha Lima (ParaÃba), evoluiu das ponderações para o pedido de voto. Telefona quase que diariamente para CÃcero Lucena. Mas o senador bateu o pé. Diz que está decidido a ajudar a enterrar o imposto do cheque.
6. Operação DEM: além do governador Blairo Maggi (PR), o próprio José Múcio envolveu-se no esforço para atrair para as fileiras governistas dois senadores ´demos’: Jayme Campos e Jonas Pinheiro, ambos de Mato Grosso. Jayme parece irredutÃvel. Diz que nada o fará dissentir de seu partido. Jonas soa mais maleável. No final da tarde de quarta-feira (28), Jonas foi o pombo-correio de um recado de Múcio para Jayme. O coordenador polÃtico de Lula mandou dizer que gostaria de viajar a Cuiabá, neste sábado (1), para ter uma conversa sigilosa com Jayme. A sondagem chegou aos ouvidos de José Agripino Maia, o lÃder do DEM. O próprio Jayme disse a Agripino que avisara ao ministro que, por educação, não deixaria de recebê-lo. Mas deixou claro que Múcio “perderia o seu tempo.â€
7. Calendário: na hipótese de obter os 50 votos que deseja, o governo pleiteará que a votação da emenda da CPMF, em primeiro turno, seja antecipada para quinta (6) ou sexta-feira (7) da semana que vem. Terá de vencer a resistência de Tião Viana (PT-AC). O presidente interino do Senado estima que a votação só ocorrerá do dia 14 de dezembro em diante.
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