O website e o livro ¨Políticos do Brasil¨, lançados pelo repórter Fernando Rodrigues com a utilização de dados oficiais da Justiça Eleitoral, mostram que em apenas cinco anos os políticos reeleitos em 2006 tiveram um aumento médio de 41,8% em seu patrimônio declarado, bem acima da inflação do período, que foi de 27,2%.

O jornalista, que está fazendo um curso na Universidade Harvard, em Cambridge, nos Estados Unidos, com uma bolsa de estudos concedida pela Fundação Nieman, relatou à TRIBUNA ter levado cinco anos e meio até concluir a pesquisa sobre a evolução dos bens que os políticos declaram possuir.

¨Em 2000, comecei o projeto. Em 2002, fiz um website chamado ¨Controle Público¨, com dados das eleições de 1998 e alguns de 2002. Em seguida, continuei o trabalho, que acabou se transformando no livro e no website Políticos do Brasil, no qual o internauta encontra 25 mil registros de políticos brasileiros¨, revela.


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Rodrigues comenta que, como seria de se esperar, a recepção a seu trabalho foi fria por parte dos políticos. ¨Mas no dia em que o livro chegou às livrarias, o site www.politicosdobrasil.com.br teve mais de 1 milhão de acessos, numa demonstração de que os eleitores têm interesse por informação diferenciada e substantiva¨, revela, assinalando que os acessos foram muitos no período eleitoral. Depois, o interesse diminuiu, compreensivelmente, mas o site até hoje continua sendo procurado.

Prêmios

O jornalista considera que o livro não pode ser considerado propriamente um best-seller entre o público em geral, mas já está chegando aos 10 mil exemplares vendidos, uma marca considerável para uma obra de referência no Brasil, onde essas tiragens costumam ser de apenas 3 mil exemplares.

¨Além disso, com o projeto do livro e do website, ganhei o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2006 e um dos Prêmios Jabuti de melhor livro de reportagem¨, salienta.

Ao levantar o patrimônio de 3.570 políticos eleitos em 1998 e 2002, um dos problemas que Rodrigues enfrentou foi a constatação de que, nas declarações obrigatórias então encaminhadas, muitos deles não atribuíram valores a seus bens, fato que revela uma surpreendente lacuna nesse tipo de controle exercido pela Justiça Eleitoral, porque a legislação é falha e exige dos candidatos apenas a informação sobre seus bens, mas não seu valor.

A pesquisa do jornalista mostra que o então senador Antonio Carlos Magalhães era um dos políticos que se beneficiavam com essa brecha na legislação. Dono de ações de várias empresas, ACM listou esses bens, mas não informou seus valores.

Patrimônio

Entre os principais partidos em 2002, o patrimônio médio dos petistas reeleitos, de R$ 188 mil, ainda era o menor. O maior valor médio foi declarado pelo PFL, com R$ 3,19 milhões, seguido do PTB, com R$ 2,15 milhões. Vêm em seguida PSDB, com valor médio de R$ 1,46 milhão, e PMDB, com R$ 1,41 milhão.

Apenas dezoito políticos, que representavam somente 1% do total dos eleitos, tinham juntos R$ 1,13 bilhão, ou seja, 50% do patrimônio dos 1.790 eleitos. Outros 281 também informaram bens superiores a R$ 1 milhão. Em 2002, o PSDB elegeu o político de maior patrimônio, o deputado federal Ronaldo Cezar Coelho, que declarou bens no valor de R$ 297 milhões.

O segundo lugar ficou com o senador Paulo Octávio (PFL-DF), com R$ 216 milhões. Na lista dos declaradamente mais ricos, não havia o nome de políticos tradicionalmente mais conhecidos. Rodrigues diz que uma hipótese para explicar esse fato seria ¨a pulverização do patrimônio entre os diversos integrantes de uma mesma família, com vários eleitos¨.

O livro Políticos do Brasil e o site trazem uma lista com o CPF dos 3.570 políticos que tiveram os dados analisados. De posse desse número, qualquer pessoa poderá verificar se o titular tem pendências com a Receita Federeal ou se está recebendo devolução do Imposto de Renda recolhido na fonte.

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