Cartolas aproveitam Copa para se perpetuar no comando 27/01/2008
- Amanda Romanelli e Martín Fernandez - O Estado de S.Paulo
Vários presidentes de federações estaduais já imitaram Ricardo Teixeira, da CBF, e estenderam seus mandatos
Os cartolas que comandam as federações estaduais de futebol no Brasil resolveram pegar carona no fato de o País ter sido escolhido para o organizar a Copa do Mundo de 2014 para continuar desfrutando do poder por mais alguns anos.
Como?
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Ampliando os próprios mandatos, a reboque do que fez o presidente da CBF, Ricardo Teixeira - dirige a entidade desde 1989 e já deu um jeito de ficar até o fim de 2014.
Até agora, oito presidentes de federações já estenderam seus ¨reinados¨ e vários outros planejam seguir o exemplo.
A manobra mais notória foi a de Marco Polo Del Nero, da Federação Paulista de Futebol (FPF), que há duas semanas se garantiu no poder até 2015 (iria até 2010). Só que, de maneira bem mais silenciosa, seus colegas de Acre, Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Maranhão e Santa Catarina já haviam feito o mesmo, no ano passado.
Sexta-feira, o presidente da federação do Distrito Federal, Fábio Simão, ampliou seu mandato só até 2012.
Explica-se: Brasília certamente receberá jogos do Mundial e Simão já teve a garantia de que participará da organização.
Todos os cartolas com mandatos já prorrogados o fizeram por meio de assembléias-gerais, como prevêem os estatutos das federações e a Lei Pelé.
¨De ilegal não tem nada¨, diz o advogado Gustavo Vieira de Oliveira, integrante do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. ¨Mas certamente é imoral. É por esse tipo de atitude, de apego ao poder, que o esporte no Brasil é subdesenvolvido do ponto de vista administrativo.¨
As justificativas para a manobra são as mais variadas. ¨Seguimos uma sugestão da CBF¨, diz o presidente da Federação capixaba, Marcus Vicente.
¨A CBF não tem nada ver com isso¨, rebate Francisco Noveletto, do Rio Grande do Sul.
Rosilene Gomes, da Paraíba, concorda com o vizinho. ¨Não foi Ricardo (Teixeira) quem quis isso. Foram federações que têm clubes da Série A.¨
A CBF não comenta o assunto.
José Maria Marin, um dos vices da entidade, declarou que as federações ¨se adequaram¨ ao que a CBF já havia feito.
Francisco Tomáz, presidente da federação do Amazonas desde 1992, não esconde a vontade de estar no poder quando a Copa chegar ao Brasil. ¨Não faz sentido a gente trabalhar tanto tempo pelo futebol e ter que deixar o cargo logo quando vai ter um Mundial aqui¨, declarou.
Antônio Lopes está no poder no Acre desde 1984 e já perdeu a conta de quantas vezes foi reeleito. ¨Quatro. Não, cinco. Não, não, foram quatro mesmo.¨ A última delas o garante até 2014. ¨Quando entrei não tinha nem estatuto. Agora temos sede própria e um estádio quase pronto.¨ A arena, com capacidade para 25 mil lugares, será inaugurada em julho. Ainda não tem nome e Lopes jura que não levará o seu. ¨Já tiveram essa idéia numa assembléia, mas vetei.¨
Delfim de Pádua Peixoto Filho manda no futebol catarinense desde 1986. Em outubro do ano passado, em assembléia-geral, esticou o próprio mandato até 2015. E lamentou não ter oposição. ¨Eu gostaria de ter alguém com quem concorrer¨, declarou. ¨Mas, infelizmente...¨
Presidente da federação maranhense desde 1991, Carlos Alberto Ferreira ressaltou que foi reeleito para seu quinto mandato por unanimidade. O Maranhão não está contemplado no projeto da Copa. Nada que abale Carlos Alberto. ¨O Ricardo Teixeira garantiu que todos os presidentes de federação vão ajudar na organização. Vamos montar grupos de trabalho.¨
Por isso, acredita que a adesão de colegas ao projeto de prolongamento de mandatos vai aumentar. ¨Um colega daqui do Nordeste, cujo nome não posso te dizer, até disse depois da minha reeleição que tinha ?vacilado? (por não ter feito a mesma coisa). Então, mais cedo ou mais tarde, outros vão aderir.¨
Em comum a todos eles, a fidelidade a Ricardo Teixeira. ¨As pessoas falam mal, mas o país tem conquistado posições importantes por causa dele¨, diz o presidente da Federação Baiana, Ednaldo Rodrigues.