Furto de dados da Petrobras leva Planalto a ¨congelar¨ licitação 15/02/2008
- Folha Online
A ordem dentro do governo é não promover nenhuma licitação para exploração das reservas de petróleo dos campos de Tupi e Júpiter até que a Polícia Federal esclareça o furto dos computadores da Petrobras.
As licitações das duas áreas já estavam suspensas desde que a Petrobras divulgou suas descobertas de um megacampo de petróleo na camada pré-sal naquela região. Vão continuar na gaveta até a conclusão das investigações.
O temor dentro do governo é que os dados dos computadores, que podem conter informações sigilosas sobre localização e extensão dos poços de Tupi e Júpiter, caiam nas mãos de empresas interessadas em explorá-los. Isso poderia conferir vantagem para essas empresas no processo de licitação.
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Na época, o governo suspendeu as licitações para reavaliar as regras da concessão das áreas, já que o potencial de exploração era muito maior do que o imaginado inicialmente. O objetivo é adotar mecanismos que permitam ao governo ficar com parte da produção do petróleo explorado ou o equivalente em faturamento.
O presidente Lula, que já sabia do furto, não quis comentar o assunto e afirmou que se ¨informaria melhor¨. Ontem, Lula e Dilma conversaram sobre o assunto com o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli.
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) também trocou telefonemas com Gabrielli, que ficou responsável de tomar as medidas para tentar reaver os computadores.
Inquérito
A Polícia Federal confirmou ontem a abertura de inquérito para investigar o furto dos dois notebooks e um disco rígido com informações sobre atividades da Petrobras. A PF informou que trabalha com duas hipóteses: roubo simples ou espionagem industrial.
Segundo a estatal petrolífera, as informações contidas no material -- que era levado dentro de um contêiner transportado entre Santos (SP) e Macaé (RJ) -- são ¨estratégicas e sigilosas¨.
Por meio de nota, a Petrobras informou apenas que o furto foi feito de uma empresa terceirizada prestadora de serviços, mas não citou nomes. Segundo já confirmado pela PF, o contêiner era transportado pela norte-americana Halliburton --a empresa, porém, afirmou que não se pronunciará a pedido da petrolífera brasileira.
A delegada da PF em Macaé, Carla Dolinsk, afirmou que o caso está sendo apurado desde a última quinta-feira (dia 7), apesar de o furto ter sido informado no dia 1º de fevereiro, e que as informações prestadas até agora pela Petrobras são insuficientes.
O contêiner estava em um navio que partiu do porto de Santos (SP) no dia 18 de janeiro em direção a Macaé, município situado no Norte Fluminense, onde a Petrobras tem sua base de operações na Bacia de Campos. O contêiner chegou 12 dias depois, quando seguranças perceberam que o cadeado do contêiner tinha sido violado. Além de avisar a polícia, a Petrobras informou ter realizado investigações internas.
A Halliburton é uma das principais empresas prestadoras de serviços para o setor petrolífero do mundo e teve como um de seus executivos o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney. O contrato com a Petrobras tem validade de quatro anos e valor de US$ 270 milhões.
Espionagem
Dolinsk explicou que a PF trabalha com duas hipóteses para o caso. A primeira seria o furto com objetivo de espionagem para obtenção de informações estratégicas. A outra seria um furto simples.
A PF realizou perícia no contêiner, cujo resultado não foi concluído. Carla Dolinski admitiu, contudo, que as chances de se conseguir informações por meio desta perícia são reduzidas, uma vez que o local não teria sido preservado.
A estatal não informou detalhes sobre o conteúdo dos dados roubados, nem se continham números sobre o megacampo de Tupi, na Bacia de Santos. A Petrobras também evitou comentar detalhes do furto, mas disse que possui cópias das informações.
Tupi
Anunciado em novembro do ano passado, o campo de Tupi tem uma reserva estimada pela Petrobras entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo, sendo considerado uma das maiores descobertas de petróleo do mundo dos últimos sete anos.
O roubo ganha gravidade caso realmente se confirme que o contêiner tinha informações sobre Tupi. Devido à dimensão de suas possíveis reservas, o megacampo mexe com o mercado há meses.
Recentemente, as ações da estatal tiveram forte oscilação, após a empresa britânica BG Group (parceira do Brasil no campo, com 25%) ter divulgado nota estimando uma capacidade entre 12 bilhões e 30 bilhões de barris de petróleo equivalente em Tupi. A portuguesa Galp (10% do projeto) confirmou o número.
As reservas provadas de petróleo e gás natural da Petrobras no Brasil ficaram em 13,920 bilhões (barris de óleo equivalente) em 2007, segundo o critério adotado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Ou seja, se a nova estimativa estiver correta, Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.