Escândalo dos passaportes sacode a campanha eleitoral nos Estados Unidos 22/03/2008
- Agência EFE
A campanha presidencial dos Estados Unidos foi sacudida ontem por um escândalo na Administração George W. Bush, ao ser confirmado que funcionários contratados haviam ¨farejado¨ o histórico dos passaportes de Hillary Clinton , Barack Obama e John McCain.
O Departamento de Estado americano não teve outra saída a não ser ¨dar a cara¨ ante a opinião pública pelas infrações produzidas em poucos meses no Escritório para Assuntos Consulares do Departamento de Estado americano, quando alguns empregados investigaram, sem autorização, os arquivos dos passaportes dos pré-candidatos democratas e do aspirante republicano à Casa Branca.
O primeiro incidente a vir à tona envolvia Barack Obama, cujo direito à privacidade foi violado em três ocasiões: 9 de janeiro, 21 de fevereiro e 14 de março.
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O Departamento de Estado reconheceu na quinta-feira os fatos e anunciou a demissão de dois empregados envolvidos na ¨espionagem¨, prometendo ainda adoção de medidas disciplinares contra um terceiro.
Por causa do escândalo, o governo iniciou uma investigação mais ampla para averiguar se também tinham sido revisados os arquivos de Hillary e McCain. As suspeitas foram confirmadas.
O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, admitiu hoje que o arquivo de Hillary foi verificado, no ano passado, por um funcionário, que apenas teve de colocar no sistema o nome da ex-primeira-dama para ter acesso a informações sobre ela.
A investigação também descobriu que um dos empregados que averiguou o histórico de Obama --o que foi sancionado sem ser demitido-- também tinha apurado, no começo do ano, dados sobre o candidato republicano à Presidência americana, John McCain.
Reação
A reação do governo foi imediata, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, chamou hoje por telefone os pré-candidatos democratas Obama e Hillary para desculpar-se pelo incidente. Pretende fazer o mesmo com McCain, que, no momento, está em Paris.
O subsecretário de Estado, Pat Kennedy, e funcionários do Departamento de Estado foram levados imediatamente ao Congresso para informar os senadores sobre a situação.
Rice, que desconhecia as infrações e só foi avisada ontem à noite, disse hoje a um grupo de jornalistas que estará a par das investigações e que apurará o assunto até as últimas conseqüências.
A chefe da diplomacia americana se mostrou decepcionada pelo fato de a detecção das infrações não ter sido elevada em níveis de diretoria, e que por isso não havia sido informada até o momento.
O inspetor geral do Departamento de Estado já investiga a violação das normas de segurança e privacidade, em consulta com o Departamento de Justiça.
As infrações foram detectadas em uma análise interna dos computadores do Escritório para Assuntos Consulares do Departamento de Estado americano.
Os arquivos de pessoas de ¨alto perfil¨ são marcados com um alerta eletrônico, de modo que os supervisores se dão conta se alguém tem acesso a eles.
McCormack lamentou hoje o ocorrido, apesar de se mostrar convencido de que o sistema de controle ¨funciona¨, embora tenha admitido que não fosse ¨perfeito¨.
Providências
Ele assegurou que serão tomadas as medidas necessárias para resolver os problemas existentes, após afirmar que o governo tramitou, no ano passado, 18 milhões de passaportes, o que requer que os empregados façam milhões de entradas no sistema.
No entanto, a cada ano são detectadas ¨algumas¨ infrações que são imediatamente investigadas e sancionadas, segundo o porta-voz.
A pessoa punida ainda trabalha para a empresa contratada, mas já não tem acesso aos dados dos passaportes e o Departamento de Estado está avaliando suas opções contratuais para proceder contra esse trabalhador.
Por enquanto se desconhecem os dados que os funcionários tiveram acesso, mas o incidente gerou dúvidas em torno de se havia motivos políticos por detrás da revisão dos documentos.
Obama disse hoje que o Congresso deveria investigar o assunto porque a violação da privacidade não é somente um problema que afeta a ele, e sim também é um sinal de como funciona o governo.
McCain, por sua parte, afirmou que qualquer violação da privacidade merece uma desculpa e uma investigação completa.