Chávez decepciona e amarga queda de popularidade 06/04/2008
- Agência Estado
Campeão das urnas, protagonista de nove vitórias seguidas sobre a oposição, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, só tem recebido más notÃcias dos institutos de pesquisa desde sua primeira derrota eleitoral, em 2 de dezembro, quando fracassou na tentativa de impor por meio de um referendo uma reforma constitucional que reforçaria seus poderes e lhe permitiria candidatar-se a infinitas reeleições. Nos últimos dias, dois institutos, o Datos e o Keller & Associados, mostraram que a popularidade de Chávez está hoje na casa dos 37% - segundo analistas, com tendência de baixa.
¨Houve uma ruptura na estranha relação de afeto que existia entre Chávez e a população mais pobre¨, disse ao Estado o presidente do Keller & Associados, Alfredo Keller. ¨O presidente chegou ao poder como a grande esperança de promover a distribuição da riqueza e reduzir o abismo que separa ricos e pobres no paÃs. Mas, apesar da alta do preço do petróleo, a condição de vida da população não melhorou no ritmo esperado.¨
Durante esse perÃodo, o petróleo que jorra abundantemente na Venezuela atingiu preços recordes, enchendo ainda mais os cofres do Estado. Mas, nas ruas de Caracas, os venezuelanos não sentem que essa riqueza lhes tenha beneficiado.
¨Chávez criou uma expectativa altÃssima em relação ao projeto de acabar com a pobreza na Venezuela, acabou vendendo uma ilusão¨, afirmou Keller. ¨Como essas expectativas acabaram não se concretizando, o que sobrou foi a frustração. Aos poucos, o eleitor pobre que votava cegamente no chavismo vai assimilando o discurso da oposição e dando razão a esse discurso.¨
Os programas sociais da ¨revolução bolivariana¨ andam a passos lentos. A infra-estrutura do serviço de saúde pública não avança na mesma proporção dos bilhões de dólares destinados para o setor. A educação, segundo denúncias da oposição, foi submetida a uma reforma liderada pelo irmão de Chávez, Adán, que visa mais a doutrinar os estudantes do que a capacitá-los para o mercado de trabalho.
A segurança pública deteriora-se cada vez mais, fazendo com que o número de seqüestros aumentasse 900% desde 1999, quando se registraram 44 ocorrências - no ano passado, foram 382 casos.
O desabastecimento de produtos generalizou-se desde o ano passado. Em janeiro, o leite converteu-se em artigo raro, causando a revolta em boa parte da parcela da população que normalmente apoiava Chávez.
¨A falta de leite jogou um papel-chave na derrota do governo no referendo constitucional de dezembro¨, analisou Keller. ¨Nenhum outro alimento representa um sÃmbolo tão forte, porque está ligado à nutrição das crianças. Muitos eleitores chavistas responsabilizaram Chávez por isso. Era comum ouvir fases do tipo: ´O presidente não tem coração! Como pode deixar faltar leite para as crianças?´¨