Morales convoca opositores para dialogar sobre ¨verdadeira¨ autonomia 05/05/2008
- Folha Online
O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou considerar o referendo da região de Santa Cruz ¨um fracasso¨ e convocou os governadores opositores a um diálogo que trate ¨amanhã mesmo¨ de uma autonomia real.
Segundo Morales, apesar dos percentuais do ¨Sim¨ estarem próximos dos 85%, segundo pesquisas boca-de-urna, houve um elevado índice de abstenção.
Comemoração
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Milhares de pessoas celebraram nas ruas da capital de Santa Cruz seu novo estatuto autônomo, que segundo as autoridades regionais, obteve um respaldo superior a 80%, em um referendo que o governo de Evo Morales não reconhece e considera ¨ilegal¨.
Embora a Corte Departamental ainda não tenha divulgado dados definitivos sobre o resultado da consulta, os habitantes do Estado festejaram a vitória do ¨sim¨ que, segundo o governador regional, Rubén Costas, foi ¨contundente¨ ao superar 80% dos votos.
A região de Santa Cruz, que lidera um movimento autonomista contrário ao Governo de Morales, realizou neste domingo seu referendo em uma jornada marcada por confrontos violentos que deixaram ao menos 28 feridos.
O líder opositor do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic, pediu a Evo Morales que respeite a vitória do estatuto autonômico no referendo local nessa próspera região, que seria esmagadora.
¨O governo tem a obrigação legal e moral de respeitar o voto¨, afirmou durante uma festa popular improvisada na praça de Armas da cidade.
Segundo resultados anunciados pelas televisões locais baseados em pesquisas boca-de-urna, 85% da população votou ¨Sim¨ ao governo autônomo.
Feridos
O referendo foi realizado durante oito horas, em meio a incidentes isolados no bairro ¨Plan 3000¨, baluarte eleitoral do partido MAS (Movimento ao Socialismo), do presidente boliviano, Evo Morales, e nas zonas rurais do Departamento (Estado) que deixaram pelo menos 28 feridos, segundo o ministro de Interior, Alfredo Rada.
Fontes médicas informaram à rede de TV boliviana ATB que a maior quantidade de feridos foi registrada durante um confronto entre simpatizantes do presidente Evo Morales e grupos autonomistas do bairro de Plan 3.000, na capital Santa Cruz de La Sierra.
Os choques ocorreram após a decisão dos habitantes desse bairro de destruir as urnas instaladas para a votação, que foi suspensa temporariamente.
Outros foram registrados na cidade de Montero, outro foco de tensão na área rural do departamento, onde um jovem sofreu uma fratura exposta na perna, após a explosão de um cartucho de dinamite.
No povoado de San Julián, o médico Ciro González informou à agência de notícias Efe que um partidário de Morales ficou gravemente ferido ao cair de um ônibus, que o atropelou e danificou seus órgãos internos.
O veículo, segundo as versões recolhidas no local, levava um grupo de simpatizantes do líder que pouco antes tinha havia destruído urnas para tentar evitar a votação.
Também foram registrados feridos na localidade de Yapacani, outro reduto dos sindicatos leais a Morales, no qual o referendo foi suspenso após camponeses atacarem os recintos de votação.
Referendo
Os líderes civis de Santa Cruz que pedem mais autonomia são coordenados pelo governador Ruben Costas. A Corte Nacional Eleitoral considera o referendo ilegal e afirmou que não reconhecerá o seu resultado, baseada no argumento da falta de poderes legais do departamento para realizá-lo.
A elite econômica de Santa Cruz lidera o anseio de que a região, de 370 mil km² e 2,5 milhões de habitantes, alcance autonomia do poder central, o que permitiria ter um maior controle político e, principalmente, econômico. O departamento é responsável por 30% do PIB da Bolívia.
Santa Cruz está localizada, em grande parte, em uma extensa planície fértil na fronteira com o Paraguai e o Brasil, em um local propício para a agricultura e a pecuária -- atividades que se converteram em fonte importante para a riqueza do país, principalmente a soja, a cana-de-açúcar, o algodão, a carne, o couro e a madeira.
Outros referendos
Além de Santa Cruz, outros três departamentos querem conseguir a autonomia: Beni, Pando e Tarija. Os dois primeiros marcaram referendos, separadamente, para o dia 1º de junho. No dia 22, será a vez de Tarija.
O poder econômico dos quatro departamentos representa cerca de 80% do PIB da Bolívia, o que permite um confronto direto dos governadores locais com o presidente Evo Morales.
As divergências começaram em janeiro de 2006, com o começo da administração Morales, que pretende fazer uma economia com grande intervenção estatal para buscar um maior acesso às terras para os indígenas e camponeses. Os governos locais, ao contrário, querem uma economia de livre comércio.