Marina Silva pede demissão da pasta do Meio Ambiente 13/05/2008
- Reuters e Folha Online
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão nesta terça-feira em uma carta entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A informação, ainda não confirmado pela Presidência, é da assessoria de imprensa da ministra.
O motivo do pedido de demissão ainda não foi revelado.
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Marina Silva se envolveu recentemente em polêmicas - algumas públicas; outras, não - com outros membros do ministério em torno de projetos que, em sua opinião, representavam riscos para a preservação da Amazônia.
Desentendimentos
O mal-estar entre Marina Silva e Dilma Rousseff (Casa Civil) começou em julho do ano passado, por conta das negociações em torno do edital para as concessões do leilão das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO). O impasse teve início com a cobrança do presidente Lula por mais agilidade nas licenças ambientais concedidas pelo Ministério do Ambiente.
Após desentendimentos, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis) concedeu licença prévia para as hidrelétricas serem construídas, mas estabeleceu uma série de regras.
Para Dilma, o argumento era econômico e técnico: as usinas produzirão 6.450 MW --a maior obra de energia do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Marina argumentava, por outro lado, que as hidrelétricas só podem sair do papel se ficasse constatado que não iriam trazer prejuízos ambientais à região.
Com o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), o desentendimento girava em torno do plantio de cana. Para Marina, Stephanes incentiva o plantio de cana em áreas degradadas da Amazônia, do Pantanal e da mata atlântica.
Em entrevista à Folha, Stephanes afirmou que ¨foi mal interpretado¨, quando citou Roraima como uma possibilidade de plantio de cana. Nessa área a que ele se referia, segundo o próprio ministro, haveria apenas savana. ¨Há milhares de anos.¨
¨Deram uma interpretação diferente. Falei em incentivar plantio em áreas e pastagens degradadas, não no bioma¨, disse.
Servidores
Marina também enfrentou problemas com os servidores do Ibama, insatisfeitos com a divisão do órgão e com a criação do Instituto Chico Mendes.
Para protestar contra a criação do órgão, os servidores do Ibama fizeram uma greve, que foi criticada publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
REPERCUSSÃO*
JOSÉ MARIA CARDOSO DA SILVA, VICE-PRESIDENTE PARA A AMÉRICA DO SUL, CONSERVAÇAÃO INTERNACIONAL:
¨Desde que assumiu o governo ela tentou, como boa professora, mostrar que o desenvolvimento moderno tem que ter, além do desenvolvimento econômico, social, político, o desenvolvimento ambiental, ou seja, ela quis demonstrar que a questão ambiental faz parte da equação do desenvolvimento. É uma visão de longo prazo, moderna.
Ela tentou ensinar isso aos colegas de ministério. Ela tentou fazer o máximo como professora, mas infelizmente os alunos (outros ministros e o próprio presidente Lula) não aprenderam. Acho que a professora cansou.
(A saída dela) é um desastre para o governo Lula. Se o governo tinha uma credibilidade mundial na questão ambiental era por causa da ministra Marina.¨
RUI PRADO, PRESIDENTE, FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DE MATO GROSSO (FAMATO)
¨Espero que o próximo ministro não seja tão radical quanto a Marina, porque infelizmente a ministra Marina se pautou muito nas questões ambientais e se esqueceu do principal ente do meio ambiente, que é o ser humano.
...Ela era uma barreira para o desenvolvimento econômico do Brasil... Espero que o presidente Lula reflita e coloque alguém mais ponderado.
Penso que a pasta do Meio Ambiente precisa ser utilizada para a preservação ambiental junto com o desenvolvimento econômico.¨
SIBÁ MACHADO (PT-AC), SENADOR:
¨O ministério cumpriu sua missão e cumpriu de maneira muito boa. Esse assunto é de foro íntimo da ministra e só ela pode explicar os motivos.
Tudo na vida tem suas dificuldades, são teses, são opiniões (sobre divergências dentro do governo)... mas eu acredito que no geral o governo brasileiro teve um exemplo muito bom de como ter um desenvolvimento sustentável nos moldes que foi trabalhado pela pasta da ministra Marina Silva.¨
Biografia
Marina começou sua carreira política militando nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), ligada à Igreja Católica.
Em 1988, foi eleita vereadora de Rio Branco (AC). Dois anos depois, se elegeu deputada estadual e, em 1994, aos 38 anos, chegou ao Senado Federal como a mais jovem senadora do país.
Ex-seringueira ligada a movimentos ecológicos da região amazônica, Marina Silva foi indicada como ministra do Meio Ambiente em 2002, no primeiro mandato do presidente Lula. No mesmo ano, foi reeleita para o Senado.
Marina Silva se filiou ao PT em 1985 e lançou sua candidatura para deputada federal para ajudar o líder seringueiro Chico Mendes, morto em 1988, que era candidato a deputado estadual. Apesar de estar entre os cinco mais votados, nem ela nem Chico Mendes se elegeram.
Formada em História pela Universidade Federal do Acre, em 1985, Marina aprendeu a ler já adolescente ao se mudar para Rio Branco onde foi tratar uma hepatite. O Seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco, onde nasceu, não havia escolas.
O sonho de ser freira foi derrubado pela militância política. Na universidade, entrou para o PRC (Partido Revolucionário Comunista), grupo semi-clandestino que fazia oposição ao regime militar.
Depois de formada, começou a dar aulas de história e participar do movimento sindical dos professores. Junto com Chico Mendes, em 1984, fundou a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.
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*Reportagem de Tatiana Ramil e Roberto Samora - Reuters