Governo Lugo enfrenta primeira crise após 20 dias no poder 01/09/2008
- BBC e EFE
Lino Oviedo critica presidente, cria mal-estar político e ameaça maioria no Congresso
Menos de vinte dias após tomar posse, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enfrenta seus primeiros desafios políticos, que podem dificultar a aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional.
O ex-presidenciável e ex-general do Exército Lino César Oviedo, do partido Unace (União Nacional de Cidadãos Éticos), que tinha prometido apoiar as medidas de Lugo, criticou-o no fim de semana em uma entrevista ao jornal ABC Color, de Assunção.
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Oviedo acusou o presidente de ter mudado de opinião sobre o destino político do ex-presidente do país, Nicanor Duarte Frutos, eleito senador nas últimas eleições, de 20 de abril.
¨Primeiro, Lugo disse que Nicanor tinha direito a ser empossado (como senador). Agora, diz que ele deve ir pra casa. Ele é um tova mokõi (hipócrita, em guarani). Tem discurso duplo¨, disse.
A candidatura do ex-presidente foi questionada por diferentes setores, mas acabou sendo ratificada pelo Tribunal de Justiça Eleitoral e pela Suprema Corte de Justiça.
Entretanto, parlamentares de diferentes tendências mostraram resistência à eleição de Nicanor Duarte, que como ex-presidente já tem direito ao cargo de senador vitalício - com direito a voz, mas não a veto e nem benefícios da carreira.
Nicanor Duarte
Na semana passada, mesmo sem quórum, o ex-presidente foi empossado no Senado e sua posse foi imediatamente questionada por políticos governistas. Lugo, então, declarou que ele deveria ir para casa e aceitar a condição de ¨senador vitalício¨.
A situação gerou o primeiro mal estar político para Lugo. Ele ainda teria afirmado: ¨Suponhamos que esse Congresso passe dois, três meses sem funcionar. Perguntarei aos cidadãos: Esse é o Congresso que vocês elegeram? É o comportamento que nós, paraguaios, merecemos? Um Congresso que está sendo pago e não funciona?¨.
No dia seguinte, em entrevista ao canal 13, ele reiterou que Frutos deveria ir para casa, mas negou ter feito as afirmações sobre o Parlamento. ¨São fantasias¨, declarou. E ressalvou: ¨Mas tenho vergonha de alguns membros da nossa classe política paraguaia¨.
Lugo, ex-bispo católico, foi eleito por uma coalizão chamada Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), que reúne desde o tradicional Partido Liberal (PLRA, de centro-direita) a pequenos movimentos sociais de esquerda.
A aliança obteve uma vitória histórica, derrotando, pela primeira vez em 61 anos, o Partido Colorado. Mas para ter maioria de votos no Congresso Lugo precisará, segundo analistas, dos votos de setores do Partido Colorado e do Unace.
Hidrelétricas
Oviedo também criticou Lugo por não ter cumprido as promessas de campanha sobre as hidrelétricas Itaipú (binacional com o Brasil) e Yacyretá (binacional com a Argentina).
¨Eles disseram que iam intervir em Itaipú e em Yacyretá para eliminar a corrupção, e que os gastos sociais de Itaipú iam ser controlados pelo Congresso Nacional. Agora dizem que existem dificuldades porque descobriram que Itaipu é binacional¨, afirmou Oviedo.
Na entrevista, o ex-general sugeriu que Lugo estaria seguindo os passos dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.
¨Ele deve estar pensando em fechar (o Congresso). Para que quer (Congresso) se pode administrar por decretos como (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa e (Evo) Morales?¨.
As declarações de Oviedo, do Unace, foram dadas às vésperas do envio, nesta segunda-feira, do orçamento de 2009 do governo Lugo ao Congresso Nacional.
Quando questionado pelo jornal paraguaio se seu partido desistirá do apoio que tinha declarado a Lugo, o ex-general respondeu: ¨O Unace não vai apoiar nada que altere a Constituição, a lei e os acordos internacionais¨.
Chávez manda embaixador dos EUA
¨medir as palavras ou ir embora¨
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ao embaixador americano em Caracas que ¨meça suas palavras¨ ou deixe o país, reagindo a uma declaração do diplomata afirmando que o tráfico de drogas entre os dois países aumentou nos últimos anos.
O recado a Patrick Duddy foi dado no programa dominical ¨Alô, Presidente¨, transmitido pela TV e a rádio estatais. ¨Meça melhor suas palavras, senhor excelentíssimo embaixador¨, disse Chávez.
¨Recomendo ao embaixador dos Estados Unidos em Caracas que guarde suas palavras. Não vamos aceitar interferências, embaixador, nos assuntos internos¨, disse.
¨Se o senhor violar as convenções internacionais terá de deixar este país. Não aceitaremos desrespeito. O senhor teria de fazer as malas e ir embora da Venezuela.¨
No sábado, o embaixador Duddy havia lamentado que ¨traficantes de droga estão aproveitando a brecha que existe os dois governos¨ para incrementar suas atividades ilícitas. ¨Fazem piada de nós enquanto estamos envolvidos em outras discussões¨, disse o embaixador.
Não é a primeira vez que Chávez ameaça expulsar da Venezuela um embaixador americano, mas esta vez surpreendeu os que recordam do ambiente amigável de julho passado, quando o presidente venezuelano fez saber ao embaixador Duddy que os laços com a agência antidrogas americana, suspensos há dois anos, poderiam ser retomados.
Embora não se tenha conhecimento de novas aproximações, no Departamento de Estado americano, em Washington, falou-se da possibilidade de funcionários americanos visitarem Caracas para coordenar a cooperação futura.
¨Go home!¨
Em seu programa, Chávez também criticou o diretor do Escritório Nacional de Políticas para Controle de Drogas dos Estados Unidos, John P. Walters, que, de acordo com o presidente venezuelano, fixou unilateralmente uma data de visita à Venezuela.
¨Go home (vá para casa). That´s not the way, mister (não é assim que se faz, senhor). Are you donkey (o senhor é burro)?¨, disse Chávez, em inglês.
Horas antes, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano indicou que tal encontro não seria de utilidade, que já considera que o país tem feito progressos significativos na luta contra a droga nos últimos anos, particularmente desde a suspensão das relações com as autoridades antidrogas americanas.
¨Como a chancelaria lhe disse que não tínhamos nenhuma reunião na agenda, então sai por aí dizendo que o governo venezuelano lhe negou um visto e que não queremos cooperar. Olhe, compadre, vá lavar seu paletó¨, disse Chávez.
Segundo o presidente, a troca de farpas é uma estratégia americana para ¨chantagear governos¨. ¨Conosco, isso não vai funcionar. Creio que vai funcionar menos na América Latina¨, afirmou Chávez.
¨Drogas no banheiro¨
Durante o programa, o presidente venezuelano apresentou gráficos mostrando que os Estados Unidos produzem mais maconha que trigo ou milho em Estados como a Califórnia, Kentucky, Oregon, Tennessee, Washington e Virgínia Ocidental.
¨Acusam-nos de apoiar ou permitir aqui o tráfico de drogas, mas o primeiro produtor de maconha no mundo são os Estados Unidos. Eles, que não quiseram eliminar este flagelo, querem vir aqui para nos ditar regras¨, disse Chávez. Em seguida, fez novamente piada com Walters.
¨Talvez no banheiro de seu escritório haja uma semente de maconha. Veja debaixo do vaso sanitário¨, afirmou.
O presidente venezuelano insistiu na linha oficial de que a culpa do tráfico de drogas é a demanda gerada nos Estados Unidos, assim como na Colômbia, um dos principais produtores do mundo.
Sem a DEA
Em 2005, o presidente Chávez suspendeu os trabalhos conjuntos entre as forças de segurança venezuelanas e a DEA, a agência antidrogas americana, acusando-a de tentar desestabilizar seu governo alegações que a agência rejeitou.
Desde então, funcionários envolvidos com o combate às drogas nos Estados Unidos afirmam que o trânsito de drogas pela Venezuela está aumentando. Já as autoridades da Venezuela apresentam um suposto aumento de apreensões para demonstrar o sucesso de sua política antinarcóticos.
As relações entre os dois governos se deterioraram desde que Chávez chegou ao poder, em 1999, e especialmente desde 2002, após o golpe de Estado que tirou brevemente do poder o atual presidente, supostamente com ajuda americana.
No entanto, desde que o embaixador Duddy chegou a Caracas, em 2007, muitos analistas acreditavam que a deterioração nas relações bilaterais estava contida.
Morales visita Irã e Líbia
O presidente boliviano, Evo Morales, chegou nesta segunda-feira, 1, a Teerã em uma visita oficial de dois dias para tratar, entre outros temas, sobre os contatos prévios no setor de hidrocarbonetos.
Segundo a televisão pública da República Islâmica, Morales foi recebido no aeroporto internacional de Mehrabad pelo ministro iraniano de Indústria, Ali Akbar Mehrabian, e foi imediatamente ao palácio presidencial onde se reuniria com seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Fontes oficiais bolivianas disseram que os contatos entre Morales e Ahmadinejad serão a continuidade da conversa que tiveram no dia 27 de setembro do ano passado, por ocasião da visita oficial a La Paz do presidente iraniano.
Durante essa viagem, Bolívia e Irã assinaram um programa de cooperação no valor de US$ 1,1 bilhão e ratificaram a aliança política que mantêm, baseada em sua posição comum contra os Estados Unidos.
A primeira visita do presidente boliviano ao Irã tem também o objetivo de buscar investimentos iranianos em diferentes setores econômicos e industriais.
Kadafi
Na primeira visita de um presidente boliviano à Líbia, Evo Morales assistiu à comemoração do 39º aniversário da deposição do rei Idris I ao lado do governante Muamar Kadafi, em seu segundo dia de visitas ao país.
De acordo com a televisão estatal, os presidentes falaram sobre cooperação política e energética no encontro. Evo espera que Kadafi assine acordos de investimento líbio na indústria boliviana de gás.