Em casos contra o governo, marca da PF é a lentidão 02/09/2008
- Sônia Filgueiras e Felipe Recondo - O Estado de S.Paulo
Alguns dos mais estridentes escândalos que atingiram personalidades do governo contabilizam anos de investigação sem solução. O primeiro e mais antigo - o caso Waldomiro Diniz - estourou em fevereiro de 2004. Após quatro anos e meio, o inquérito ainda está aberto.
O caso dos petistas presos pela Polícia Federal em setembro de 2006 tentando comprar do empresário Luiz Vedoin um suposto dossiê que incriminaria tucanos encontra-se indefinido na Superintendência da PF em Mato Grosso. Remetido em maio à Justiça Federal pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o movimento mais recente registrado é burocrático: o delegado responsável, Diógenes Curado, licenciou-se há pouco mais de seis meses para assumir a Secretaria de Segurança Pública de Blairo Maggi (PR-MT).
Há outros exemplos: o inquérito sobre a produção e o vazamento de um dossiê com dados selecionados de compras com cartões corporativos feitos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus auxiliares entre 1998 e 2001. O dossiê, supostamente montado por assessores da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi apontado pelo PSDB como instrumento de intimidação política. O único resultado concreto das investigações, iniciadas em março, foi a divulgação de uma perícia feita pela Casa Civil, que apontou o ex-secretário de Controle Interno da Presidência José Aparecido Nunes Pires como responsável pelo vazamento de dados. Segundo a PF, no momento o inquérito aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República sobre sua remessa ao STF.
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Foi anexada representação do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) citando Dilma, que tem foro privilegiado, como suposta envolvida. Se a apuração permanecer na primeira instância, o próximo passo será administrativo: a designação de um novo delegado, pois o atual titular, Sérgio Menezes, assumiu posto de direção na Superintendência da PF em São Paulo.
TROCAS
Procuradores citam a troca de delegado como um dos motivos de demora. A cada troca, o substituto precisa de tempo para saber detalhes do caso. O inquérito sobre Waldomiro enfrentou quatro trocas. O caso ainda incluiu procedimentos complexos, como cooperação jurídica com autoridades americanas.
Procuradores citam também as tramitações determinadas pela prerrogativa de foro. Por não terem estrutura para conduzir investigações, casos desse tipo tramitam mais lentamente nos tribunais superiores.
O inquérito do dossiê Vedoin tramitou no STF em 2007 porque o delegado decidiu indiciar o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Em dezembro, a corte decidiu que não havia indício de envolvimento do senador e o caso voltou à Justiça Federal.
CASOS SEM SOLUÇÃO
Aloprados
PF prendeu em 2006 petistas durante a campanha eleitoral, flagrados tentando comprar dossiê contra tucanos. Depois de tramitar por um ano no STF, o inquérito retornou à PF. Investigação ainda não foi concluída
Dossiê Tucano
PF apura desde março de 2008 produção e vazamento de dossiê com dados de compras com cartões corporativos na gestão FHC, supostamente montado por assessores de Dilma Rousseff (Casa Civil). Até agora, só perícia do ministério apontou responsável pela divulgação dos dados
Caso Waldomiro
O então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz foi afastado do cargo em fevereiro de 2004, após divulgação de vídeo em que negocia propina com o empresário Carlos Cachoeira. Investigação trocou 4 vezes de delegado e reúne montanha de documentos em fase final de perícia na PF
Carlos Velloso
O ex-ministro do STF foi intimado a prestar depoimento porque teria favorecido, como ministro do TSE, o retorno ao cargo de um prefeito investigado na Operação João-de-Barro. A decisão foi dada por outro ministro
Agenda de Zuleido
Após a PF desencadear a Operação Navalha, em maio de 2007, circulou informação de que um certo ¨Gilmar Mendes¨ teria recebido presentes do pivô da fraude, Zuleido Veras. Era um homônimo do hoje presidente do STF. Caso foi para o MP, mas ainda ninguém foi responsabilizado
Caso Romênio
PF teve dificuldades técnicas para grampear telefones do secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira. Ele era suspeito de envolvimento com quadrilha que fraudava obras públicas. Executiva do PSDB deve pedir à Procuradoria-Geral da República que apure se a PF agiu para favorecê-lo