Violência e mortes despertam temores de guerra civil na Bolívia 12/09/2008
- Márcia Carmo - BBC
A escalada de violência deixou mortos no país
A morte de oito pessoas em confrontos no departamento (Estado) de Pando, na quinta-feira, despertaram em diferentes setores o temor de que ocorra uma guerra civil na Bolívia.
¨Se nada mudar, estamos caminhando para uma guerra civil de baixa intensidade, mas guerra civil. Civis brigando contra civis e sem a intervenção das forças de segurança¨, disse à BBC Brasil o analista Gonzalo Chávez, diretor de mestrado para o desenvolvimento da Universidade Católica Boliviana.
¨É uma situação limite. As disputas eram com paus e pedras, mas agora tem gente armada.¨
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As mortes em Pando teriam sido provocadas por tiros, segundo o prefeito (governador) Leopoldo Fernández.
Ainda segundo o analista, nas últimas horas o conflito extrapolou da esfera interna para internacional.
¨A declaração do presidente venezuelano (Hugo Chávez, de defender Morales com armas, se preciso) foi muito grave. O problema da Bolívia já tinha sido internacionalizado com a expulsão do embaixador dos Estados Unidos. Agora, então, mais ainda¨, disse.
Ele salientou que as explosões no gasoduto para o Brasil e o fechamento da válvula de um gasoduto que abastece a Argentina provocaram um problema energético na região.
Em Santa Cruz, nas longas filas para comprar botijão de gás, consumidores diziam: ¨Mandam gás para o Brasil e a Argentina e a gente não tem gás em casa¨.
Interlocutores bolivianos afirmaram à BBC Brasil que os chanceleres do Brasil, da Argentina e da Colômbia teriam se oferecido para viajar a La Paz e participar das negociações na Bolívia.
No entanto, o presidente boliviano Evo Morales teria declinado da oferta por considerar a situação ¨interna¨.
Golpe cívico
No fim da noite de quinta-feira, o vice-presidente do país, Álvaro García Linera, acusou uma ¨quadrilha de terroristas¨ de arquitetar um ¨golpe de estado cívico-empresarial¨.
¨Estamos diante de uma quadrilha de terroristas e assaltantes que está colocando em marcha um golpe de estado cívico-empresarial. Eles estão dispostos até a matar os bolivianos¨, acusou.
Linera responsabilizou a Prefeitura de Pando pelas mortes.
O presidente do Comitê Pró-Tarija, Reynaldo Bayard, também falou em ¨guerra civil¨, declarou.
¨Se continuar assim, vamos acabar numa guerra civil¨.
Às lágrimas diante das câmeras de televisão, em La Paz, a ministra da Justiça, Celima Torrico Rojas, pediu ¨diálogo¨ e ¨o fim da violência¨.
¨Por que os civis acham que só eles podem chegar a determinados cargos, e nós, indígenas, não?¨, indagou.
Foi uma jornada de troca de acusações pelas mortes em Pando, um dia depois que mais de 50 pessoas saíram feridas nos enfrentamentos em Tarija – pólo de gás – e na mesma semana em que também foram registrados incidentes em Santa Cruz e Beni.
O prefeito (governador) de Santa Cruz, Ruben Costas, líder da oposição a Morales, acusou o governo central.
¨O governo Morales é o único responsável pelas mortes¨, disse.
Em meio ao conflito, um grupo de manifestantes ¨obrigou¨, como informou a imprensa local, técnicos a desativar a válvula de um gasoduto que abastece a Argentina.
Posse
Ao mesmo tempo, funcionários do governo estadual de Santa Cruz, cercados por populares, entraram em prédios administrados pelo governo central – como correios e de arrecadação de impostos – e colocavam fitas em torno dos edifícios.
¨Autonomia, autonomia¨, gritavam. ¨Isso é para proteger o bem público.¨
Na noite de quinta-feira, na praça principal de Santa Cruz de la Sierra, capital de Santa Cruz, grupos de jovens armados com paus soltavam fogos e eram observados de longe pelos moradores.
Seguidores de Morales que vivem no chamado Plano 3000 – um grande bairro popular – evitaram a entrada de opositores ao presidente.
Em meio à tensão, um grupo de militares disse diante das câmeras de TV que o presidente deve governar para todos e que o ¨entendimento é o caminho¨.