Bolívia pede que Brasil expulse bolivianos refugiados no Acre 20/09/2008
- Folha Online com agências internacionais
O governo da Bolívia pediu ontem ao Brasil que expulse os cidadãos bolivianos envolvidos nos confrontos ocorridos no departamento (Estado) de Pando e que se refugiaram nas cidades fronteiriças do Acre.
Depois dos violentos distúrbios que, segundo dados oficiais, deixaram pelo menos 17 mortos e mais de cem desaparecidos, centenas de bolivianos se refugiaram nos municípios de Brasiléia e Epitaciolândia, no Acre.
O ministro de Governo (Interior) boliviano, Alfredo Rada, disse à rádio Red Erbol que entrou em contato com as autoridades brasileiras para pedir a expulsão ¨de gente considerada criminosa e que participou de forma direta no massacre em 11 de setembro¨.
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¨Entramos em contato com autoridades brasileiras para indicar que (os bolivianos em questão) são delinqüentes sobre os quais há acusações muito graves e, portanto, não corresponderia dar-lhes asilo. Em todo caso, uma vez identificados, é preciso proceder a expulsão do Brasil à Bolívia¨, disse o ministro.
Rada afirmou que o governo está trabalhando para conseguir a expulsão dos refugiados, e disse ter informação de que a presidente do Comitê Cívico de Pando, Ana Melena de Suzuki, está refugiada no Brasil, apesar de não estar confirmado que tenha pedido asilo político.
Segundo a Red Erbol, que cita organizações sociais de Pando, o governo brasileiro negou nos últimos dias um pedido de asilo político do governador de Pando, Leopoldo Fernández.
Fernández, acusado pelo governo Morales de ser o responsável pela chacina em Pando, foi preso na última terça-feira (16), em Cobija, e levado a La Paz.
Asilo
Bolivianos ligados a setores civis opositores de Pando começaram a se organizar em Brasiléia, onde chegaram nos últimos dias.
¨Algumas pessoas que chegaram a Brasiléia desde que se decretou o estado de sítio em Pando têm familiares ou amigos onde se hospedar. Porém, outras pessoas não têm lugar para dormir, e estamos procurando um teto para elas¨, disse à France Presse Gerardo Lima, que se apresentou como ¨dirigente cívico¨.
Na Praça Hugo Poli de Brasiléia, onde mais de cem bolivianos estão reunidos, Lima exibiu uma lista de pessoas desabrigadas.
No grupo reunido, se destacava Edgar Balcázar, ex-funcionário da prefeitura de Cobija, capital de Pando, que exibia os hematomas que diz ter sofrido pouco depois da chacina do dia 11.
¨Queriam me matar. Não eram camponeses, eram guerrilheiros. Estavam armados e começaram a atirar contra nós. Porém, não me mataram e vim para Brasiléia, onde me atenderam em um hospital e onde estou hospedado na casa de amigos¨, disse Balcázar.
Já Alejandro Paruma Escobar afirmou que estava preocupado, apesar de estar a salvo em Brasiléia. ¨Minha esposa é brasileira e ficou em Cobija, com nossos filhos, porque eu estava sendo procurado. Agora, a impressão que tenho é que eles estão bem, mas se o estado de sítio continuar, como diz o governo, por 90 dias, então vou trazer todos para o lado brasileiro¨, disse.
Paruma Escobar, também ex-funcionário da prefeitura de Cobija, disse que ¨muitas pessoas cruzaram a fronteira para o Brasil, tanto para a cidade de Brasiléia como para municípios vizinhos, e que ainda estão com muito medo. Sabemos inclusive que há pessoas escondidas nos montes próximos a Brasiléia¨.
Emboscada
O crime do último dia 11 é descrito como uma emboscada. Conforme investigações preliminares, um grupo de manifestantes anti-Morales enfrentou camponeses que iam a um encontro entre organizações pró-Morales. Segundo o governo, ao menos 17 pessoas morreram e mais de cem sumiram. Há denúncias de que pistoleiros foram vistos levando corpos do local da chacina.
¨Nunca pensei que um dia veria o que eu vi quinta-feira. Homens desarmados sendo abatidos como animais, mulheres caindo feridas com filhos nos braços¨, relatou a camponesa Zeneide González à France Presse. ¨Depois do tiroteio, eu e meu marido andamos dois dias inteiros, com medo de que os pistoleiros nos encontrassem. No sábado chegamos a Filadelfia, onde reencontrei minha filha de 6 anos, que tinha ficado escondida com amigos em uma fazenda.¨
O departamento de Pando está em estado de sítio desde sexta-feira (12). Logo que tomou o controle da capital regional Cobija, o Exército da Bolívia prendeu dez suspeitos de participar da chacina, além do governador.
De acordo com o jornal boliviano ¨La Razón¨, na quarta-feira (17), um promotor acusou Fernández formalmente de homicídio e lesões gravíssimas e graves.