Bovespa despenca para a mínima do dia, em baixa de 6,48% 29/09/2008
- Agência Estado
Os problemas com bancos na Europa e a falta de certeza sobre a eficiência do plano de resgate proposto pelo governo americano trouxeram mais um dia de pânico para o mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu abaixo dos 48 mil pontos durante a manhã. Às 12h20, o Ibovespa - índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa - despenca 6,48%, aos 47.493 pontos, patamar mínimo desta segunda. O dólar comercial é vendido a R$ 1,9220, em alta de 3,72%, e chegou a subir até R$ 1,9340, no pior momento do dia.
O novo formato do pacote de resgate do sistema financeiro dos Estados Unidos, que carece de aprovação na Câmara e no Senado, ainda gera muitas dúvidas para os investidores, principalmente sobre a eficácia das medidas. O pacote prevê a liberação de US$ 700 bilhões para a compra de títulos podres - lastreados em hipotecas inadimplentes -; remuneração mais baixa para os dirigentes das instituições financeiras; e renegociação de hipotecas.
O fato é que, mesmo que o plano consiga salvar o sistema financeiro, ficará ainda uma conta de até US$ 1 trilhão, que será paga pelos contribuintes, o que certamente vai bater no ritmo da ativida econômica do país. Ou seja, sem o plano, o sistema financeiro norte-americano corria risco. Com o plano, o país poderá entrar em um período de desaquecimento econômico ainda mais forte.
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Problemas com bancos
Este quadro pessimista foi ampliado ainda mais no final de semana, e tiveram repercussão entre os investidores nesta segunda-feira, após os anúncios de problemas com bancos europeus. São eles o banco belga-holandês Fortis, o britânico Bradford & Bingley e o banco alemão Hypo Real Estate.
O Fortis precisou ser socorrido pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo durante o final de semana. O banco alemão Hypo Real Estate, que corre risco de quebrar, obteve de um consórcio de bancos do país créditos ¨suficientes¨ para prosseguir suas atividades.
Já o banco Bradford & Bingley precisou da ajuda do governo britânico. O Tesouro conduz negociações sobre o resgate do banco e informou ontem que as discussões continuam. O Santander vai comprar os depósitos e a rede de agências do Bradford.
Os problemas continuaram nesta segunda-feira, quando o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, agência federal que garante os depósitos bancários) anunciou que estabeleceu com o Citigroup um acordo de compartilhamento de perdas em empréstimos previamente identificados do Wachovia, no qual o Citi irá absorver até US$ 42 bilhões de perdas na carteira de US$ 312 bilhões de empréstimos. O FDIC irá assumir qualquer valor que superar isso.
No final da manhã, o Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG), maior banco japonês em capitalização de mercado, afirmou que concordou em comprar uma fatia de 21% no Morgan Stanley, tornando-se assim o maior acionista da instituição financeira norte-americana. A participação custará ao MUFG US$ 9 bilhões.
Recursos
Além das operações para ajudas a bancos específicos, o Banco Central Europeu (BCE) injetou 120 bilhões de euros (US$ 172,56 bilhões) no mercado em operação especial de refinanciamento para 38 dias, atendendo a maior parte (85%) da demanda recebida. No começo do dia, o BCE já havia realizado leilão de recursos em dólar no overnight (operações de um dia), alocando US$ 30 bilhões.
Depois disso, o banco central norte-americano (Fed) anunciou que dará maior liquidez (recursos) aos mercados monetários globais. A instituição norte-americana vai elevar as operações com os bancos comerciais, além de ampliar os contratos de crédito que mantém com os BCs ao redor do mundo. O Fed ainda anunciou um novo acordo para oferecer empréstimo aos bancos durante o final do ano. Com a medida, o total destes contratos de crédito aumentou em US$ 330 bilhões para US$ 620 bilhões. Na sexta-feira, o Fed já havia ampliado a mesma linha de crédito em US$ 13 bilhões para US$ 290 bilhões.
Diante desta crise, a França anunciou ainda que vai promover uma reunião com representantes dos oito principais países europeus, os presidentes da Comissão Européia, do Banco Central Europeu e os ministros de finanças da zona do euro com o objetivo de preparar um encontro de cúpula mundial sobre ¨um novo sistema financeiro internacional¨, disse o presidente Nicolas Sarkozy nesta segunda.
Reuniões no governo
A crise financeira também toma conta da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da semana. Em reunião com a equipe econômica e técnicos de comércio exterior e agricultura, Lula discutiu as implicações da crise na área de exportação e crédito. A reunião durou uma hora. Participaram os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Também participaram do encontro técnicos do segundo escalão de ministérios da área de comércio exterior. Pouco antes da reunião, o presidente ainda despachou com o ministro Mantega. Meirelles fez uma exposição sobre o plano de ajuda ao sistema financeiro nos Estados Unidos.
Hoje, no programa semanal de rádio Café com o Presidente, Lula comentou a crise americana e seus impactos no Brasil. Segundo o presidente, apesar de a economia brasileira estar fortalecida, o Brasil pode ser atingido pelos efeitos da crise financeira norte-americana. ¨Eu estou convencido de que o Brasil, se tiver que passar por algum aperto (com a crise norte-americana), será muito pequeno¨.