Com derrota no Congresso dos EUA, dólar sobe 6,15% 29/09/2008
- Paula Laier - Agência Estado
O dólar disparou frente ao real nesta segunda-feira, após a rejeição do plano de socorro aos bancos pela Câmara dos Estados Unidos. No balcão, a cotação encerrou com elevação de 6,15%, a R$ 1,9670. Na máxima, chegou a R$ 1,9750. Na mínima, a R$ 1,8980.
No mercado futuro, os sete vencimentos de contratos indexados ao dólar registravam elevação, contabilizando US$ 25,15 bilhões às 16h20. Entre os mais negociados, outubro/08 projetava R$ 1,965, com elevação de 5,98%; e novembro/08 indicava R$ 1,978, em alta de 6,02%.
Em razão da escalada nas cotações, a BM&FBovespa elevou o limite de oscilação máxima para o vencimento novembro/08 do dólar futuro para 8%. O novo percentual só foi válido para o pregão de hoje, voltando a ser de 5% a partir de amanhã. Para o vencimento outubro/08, o limite de oscilação esteve liberado em razão da proximidade do final do mês, por causa da rolagem de posições. A disparada no dólar futuro chegou a travar as operações no mercado à vista. ¨Todo mundo ficou atônito¨, explicou o gerente da tesouraria de um banco em São Paulo.
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Um grupo bipartidário de deputados da Câmara de Representantes dos EUA derrotou o plano de socorro de US$ 700 bilhões para Wall Street, rejeitando os apelos da administração do presidente George W. Bush e dos líderes do Congresso de ambos os partidos sobre as potenciais graves conseqüências da falta de uma ação dos legisladores com relação a crise que atinge os mercados financeiros. O plano recebeu 228 votos contra e 205 votos a favor. A derrota ocorreu apesar de os líderes da Câmara terem mantido a votação aberta além do limite de tempo de 15 minutos, com os defensores do plano incapazes de convencer um número suficiente de deputados de ambos os partidos a mudarem seus votos contrários.
¨Os caras são loucos. Eles podem levar o mundo pra quebradeira¨. A avaliação, feita pelo sócio de uma corretora em resposta à rejeição dos parlamentares ao plano nos EUA, resume bem o nervosismo que se instalou entre os participantes do mercado financeiro brasileiro, alinhados à deterioração internacional. Em Wall Street, o Dow Jones despencou, e caía 5,84% às 16h20. No Brasil, o Ibovespa cedia 12,91%, na mínima. ¨Está caótico¨, reforçou o profissional.
Na visão do economista-chefe da corretora Ativa S.A., Arthur Carvalho Filho, a não-aprovação do pacote faz com que a aversão a risco aumente de forma significativa. ¨E o câmbio, que já estava mais sensível com a dependência dos fluxos da conta capital, entra em um novo patamar, dada a possibilidade de reversão dos fluxos¨, avaliou. Para o profissional, o sistema bancário norte-americano deverá passar por testes severos nos próximos dias, com risco de haver mais quebradeiras.
A segunda-feira já não havia começado bem. Apesar do acordo sobre o plano alinhavado no fim de semana, as incertezas sobre a votação e as alterações no plano aliadas ao noticiário bastante negativo da Europa minaram os humores desde logo cedo. O banco Bradford & Bingley, atingido em cheio pelas perdas com hipotecas, será estatizado pelo Reino Unido, o belgo-holandês Fortis precisou receber socorro dos governos da Bélgica, de Luxemburgo e da Holanda e o alemão Hypo Real foi resgatado por um consórcio de bancos. Nos EUA, o Citigroup informou a aquisição das operações bancárias do Wachovia e o Morgan Stanley venderá uma fatia de 21% ao Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG).
¨Com tudo isso, não dá para ficar otimista nem com US$ 700 bilhões do Tesouro norte-americano¨, havia dito o economista de um banco estrangeiro em e-mail enviado a clientes logo cedo, antes da rejeição do plano na Câmara.
Tais notícias corroboram ainda mais o cenário de liquidez restrita no mercado cambial doméstico. Segundo operadores ouvidos pela editora-assistente Cristina Canas, no Cenário-1, as únicas linhas em dólar disponíveis no mercado são para um dia, no interbancário. Os próprios bancos não conseguem financiamento para uma semana e dólares para exportadores - ACC e ACE - nem pensar. Os recursos que o Banco Central injetou no mercado - US$ 1 bilhão - nas duas últimas semanas, ajudaram a melhorar a liquidez nas operações de arbitragem. Já para atender aos exportadores, seriam necessárias linhas em outros tipos de condição, segundo especialistas. E pouquíssimos negócios de exportação estão sendo fechados no mercado nos últimos dias, segundo operadores.