Eloá teve sérios danos ao cérebro e corre risco de morte 18/10/2008
- Luana Pavani e Fabiane Araújo - Agência Estado
O estado de saúde da adolescente Eloá, de 15 anos, que foi baleada pelo ex-namorado Lindembergue Alves, de 22 anos, após seqüestro de 100 horas em Santo André, é gravíssimo, segundo o Centro Hospitalar de Santo André. A diretora do hospital, Rosa Maria Pinto Aguiar, afirmou que ¨há grande risco de morte¨. A bala está alojada no cerebelo e não foi e nem pode ser retirada, segundo a diretora. Ela disse ainda que, se sobreviver, a garota deve ter graves seqüelas e que de um grau de risco de morte entre 0 a 10, Eloá tem 9.
Ainda de acordo com a diretora do Centro Hospitalar, foi realizada nesta madrugada a retirada da bala da região da virilha e uma cirurgia no cérebro, ou craniotomia, para tentar remover o projétil que se instalou na base do crânio. O ferimento, segundo Rosa, tem características de tiro à queima-roupa. Do dreno colocado na região sangra muito, o que caracteriza hemorragia. A necessidade de uma nova cirurgia não é descartada.
Ainda segundo a diretora do hospital, Eloá, permanece em coma induzido, e na escala Glasgow de grau de coma, que vai de 3 a 15, seu estado é 4. ¨Em grau 3 não é possível reverter o quadro¨, disse Rosa. A mãe de Eloá foi para casa, e o pai permanece no hospital, sob medicação.
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Durante a madrugada, o governador José Serra (PSDB) foi ao Centro Hospitalar prestar solidariedade aos familiares de Eloá e de sua amiga, Nayara, a outra adolescente seqüestrada pelo auxiliar de produção.
A cirurgia de Eloá foi feita no final da noite de ontem. A bala, que entrou pelo lado direito, está na nuca da garota. A neurocirurgiã Grace Mayre Lydia, que comandou o procedimento, afirmou que ¨ainda é cedo para falar de seqüelas¨. ¨As próximas 48 horas serão decisivas para analisarmos como ela vai reagir¨, disse.
Nayara
Nayara, de 15 anos, baleada na boca, também foi operada e seu quadro é considerado estável. A bala entrou no rosto de Nayara pelo lado direito, próximo ao nariz, e percorreu o espaço acima dos dentes da garota, parando no canino esquerdo. O tiro comprometeu a base do nariz, e o osso foi reparado. De acordo com os médicos, Nayara não deve precisar de uma cirurgia plástica e vai ficar no hospital de sete a dez dias, para ser acompanha e evitar infecções. O procedimento durou duas horas e meia.
Por volta das 2h, quando recebeu a visita de Serra, Nayara pediu ao governador que gostaria de ver Alexandre Pato, jogador de futebol de quem a adolescente é fã.
O resgate
Policiais do Gate invadiram o apartamento onde Alves, de 22 anos, mantinha Eloá, de 15, refém desde às 13h30 de segunda-feira. A invasão aconteceu às 18h08 desta sexta. Lindembergue foi preso e levado por um carro da Polícia Militar ao 6.º Distrito Policial, na Vila Marrey. Eloá, baleada na cabeça e na virilha, está em estado grave. Ainda não há informações sobre quem teria feito os disparos. Houve um forte barulho de explosão quando a polícia invadiu o apartamento.
Três disparos foram ouvidos no local. Às 18h17 Eloá foi levada do local por uma ambulância. Às 18h18, Nayara foi levada por um carro do SAMU. Os policiais do Gate invadiram o apartamento pela porta do apartamento e por uma janela.
O governo do Estado chegou a anunciar que Eloá tinha morrido, se desculpando depois pelo erro. A justificativa é que ela teria sido reanimada na sala de cirurgia - fato negado pelos médicos.
Negociações e críticas
Na manhã de ontem, a polícia usou o irmão de Eloá para negociar o fim do seqüestro. Douglas, de 14 anos, foi o negociador para a libertação dos refén. As negociações estavam travadas desde a o fim da manhã de quinta, quando Nayara, amiga de Eloá que havia sido solta na noite de terça, voltou ao apartamento para convencer Lindembergue a soltar a amiga, mas acabou sendo feita refém de novo.
A volta de Nayara ao apartamento teria sido uma exigência do seqüestrador. E a polícia permitiu o retorno da adolescente. ¨Foi um erro grosseiríssimo¨, afirma o coronel da reserva José Vicente da Silva, diretor do Instituto Pró-Polícia e ex-secretário Nacional de Segurança Pública. ¨Colocar mais um inocente em risco é a última coisa que poderia ser feita.¨
Ele não foi o único a condenar a concessão feita pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar. ¨Não entendi como permitiram a volta de uma refém menor de idade ao ambiente de risco¨, diz o capitão da reserva Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM do Rio e co-autor do livro Elite da Tropa - que deu origem ao filme Tropa de Elite. ¨Foi uma decisão pouco responsável.¨
Policiais que já atuaram no Gate e hoje ocupam outros postos também criticaram a maneira como o processo vem sendo conduzido. ¨No processo de negociação é preciso haver alguns limites¨, defende um deles. ¨É inadmissível colocar a vida de alguém em risco. E, pior ainda, menor de idade.¨ Como o comando da PM não autorizou que ninguém se manifestasse antes do fim do caso, eles pediram para não ter seus nomes revelados.