Cem horas foi o tempo que fez com que Lindemberg Fernandes Alves, 22, passasse de um jovem anônimo de periferia para o protagonista do mais longo caso de cárcere privado em São Paulo.

Durante todo o caso, a rotina do conjunto habitacional em que Lindemberg mantinha a ex-namorada refém foi estilhaçada. Um batalhão de repórteres esteve no local em busca de notícias. O prédio foi interditado e os moradores, obrigados a procurar um lugar para dormir, tomar banho e comer.

Ele deu entrevistas. Dizia querer se entregar, mas que tinha medo de ser baleado. A vizinhança que gostava dele torcia por isso.


PUBLICIDADE


Cleusa Gonçalves de Souza, 72, Fernandes resume a situação. ¨Aqui a vida era tão linda, mas ele acabou estragando tudo.¨

Cleusa mantém um pequeno estabelecimento em frente ao prédio interditado. Apesar do caso aumentar a clientela, ela diz que não vale a pena.

¨Rezei tanto para esse menino fazer a coisa certa, isso mexeu muito comigo. Não consigo mais ficar em casa sozinha depois de tudo o que aconteceu¨, afirma.

Entre olhares desconfiados, negativas e sussurros fica claro que a vida dos moradores não voltou ao normal. Muitos temem falar. Dizem que os traficantes da região estão irritados com a interrupção de suas ¨atividades¨.

A opinião é quase unânime sobre Lindemberg: sujeito trabalhador, educado e cuja atitude pegou todos de surpresa.

Ele era conhecido sobretudo por seu desempenho no time do bairro, o Comercial. Seu desempenho nas quatro linhas é praticamente unânime na região. Vem dessa habilidade o apelido de Liso, que ganhou por driblar ¨todo mundo¨ com facilidade.

Agressivo

A fama de trabalhador é confirmada por diversos moradores da região. Além de trabalhar como auxiliar de produção na fábrica da Bombril em São Bernardo do Campo (Grande SP), à noite, era entregador em uma loja de esfihas.

O gosto por andar de motocicleta era notório. ¨Ele parecia um rapaz muito bom, até já deu carona para minha filha¨, disse uma moradora que não quis se identificar.

¨Sabe como é, né? Não dá para aparecer ou dizer o nome no jornal porque já tem muita gente irritada com essa história¨, explica.

A moradora afirmou que o relacionamento que Lindemberg mantinha com a ex-namorada era recheado de brigas e que os dois tinham gênios difíceis.

A situação havia piorado recentemente e o seu comportamento havia mudado. Ele passou a ter o costume de parar em frente ao prédio da moça e insistia em conversar.

Em uma dessas tentativas, ele foi visto puxando o cabelo da ex-namorada, que se desvencilhou aos palavrões. O incidente teria acontecido 20 dias atrás.

¨Na hora eu fiquei chocada, mas nunca poderia imaginar que isso iria acabar desse jeito¨, encerra a mulher que afirma ter testemunhado a cena.

Compartilhe: