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Vale licencia termelétrica a carvão na Amazônia
12/11/2008 - Afra Balazina - Folha de S.Paulo

A Vale avança para licenciar uma usina termelétrica no Estado do Pará que, além de contribuir para sujar a matriz energética brasileira, deve frustrar o plano do governo de criar um projeto de reflorestamento sustentável na área de Carajás, uma das mais desmatadas da região amazônica.

A usina, de US$ 898 milhões, utilizará carvão mineral importado da Colômbia e emitirá 2,2 milhões de toneladas de CO2 ao ano -- o equivalente a 3,6% das emissões de todo o setor energético brasileiro em 2005. O carvão mineral é o mais sujo dos combustíveis fósseis.

A empresa já conseguiu, no fim do mês passado, a aprovação da licença prévia para o funcionamento da termelétrica que ficará em Barcarena, região metropolitana de Belém. Agora, falta obter a licença de instalação e, na seqüência, a de operação. A autorização foi dada pelo Coema (Conselho Estadual de Meio Ambiente).


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A usina irá gerar 600 megawatts de energia ao ano, para abastecer o pólo siderúrgico de Carajás, no sudeste do Estado.

A opção pela termelétrica parece contrariar o discurso de sustentabilidade da empresa. Em seu site, a Vale explica suas ¨diretrizes corporativas sobre mudanças climáticas e carbono¨. Entre elas estão ¨promover a eficiência energética e a redução do consumo dos combustíveis fósseis¨.

A Vale admite que optou pela térmica para ter energia no curto prazo. ¨Hoje as termelétricas são a única opção viável em volume, custo e, principalmente, em prazo compatível para evitar que o Brasil corra o risco de racionamento de energia a partir de 2010.¨

De acordo com Tasso Azevedo, diretor-geral do SFB (Serviço Florestal Brasileiro), a criação da termelétrica vai ampliar ¨o uso do pior dos combustíveis, que é o carvão mineral¨. Segundo ele, poderia ser usado carvão vegetal, por meio do plantio de novas florestas --o que, ao mesmo tempo, recuperaria áreas hoje degradadas.

¨A questão é que essa é uma opção suja, energeticamente na contramão do que a gente imaginava que pudesse ser feita na Amazônia¨, disse.

Em sua opinião, a Vale está dando sinais de que vai trazer carvão mineral não só para gerar energia, mas também para abastecer as guseiras de Carajás, o que prejudicará ainda mais o reflorestamento.

Hoje, as siderúrgicas utilizam carvão vegetal, muitas vezes ilegal. Segundo o secretário estadual do Meio Ambiente do Pará, Valmir Ortega, aproximadamente 20% do carvão vegetal não tem origem legal.

A idéia do SFB era criar um distrito florestal sustentável na região de Carajás, incentivando o plantio de florestas de eucalipto para abastecer o pólo e de repor o que foi devastado.

Neutralizar

Azevedo defende que seja cobrada das empresas a reposição florestal como forma de compensar o uso de carvão mineral nos casos em que poderiam ser utilizados carvão vegetal.

¨Essa é uma questão estratégica. Se podem usar carvão vegetal mas optam pelo carvão mineral, estão aumentando as emissões. Então, deveriam neutralizar¨, afirma.

Ortega disse que aprovação da licença foi um ¨dilema¨. Ele afirmou que, como a empresa cumpriu todas as exigências, não havia outra alternativa senão aprovar. Porém, admite que o ¨carvão mineral não é o desejável¨. Ele ressaltou, no entanto, que a licença foi bastante rigorosa e que as termelétricas não são novidade na Amazônia.

Ele concorda que o desafio é acelerar o reflorestamento na região e disse que o Estado tem atuado neste sentido. ¨O Pará contribuiu com 150 mil hectares de reflorestamento neste ano. No Brasil inteiro foram 600 mil hectares¨, disse.

Área plantada compensa CO2, diz empresa

A Vale afirma que as emissões da termelétrica representarão 1,87% das emissões do setor de transporte e 0,15% do total do Brasil. ¨Somente em áreas protegidas, considerando florestas nativas próprias e florestas produtivas, a Vale possui um estoque já fixado de 677,5 milhões de toneladas de CO2, o que corresponde à emissão de 312 usinas termelétricas iguais à de Barcarena¨, afirmou.

A empresa disse também que contribui para o reflorestamento no Pará por meio do programa Vale Florestar. ¨Combinando o plantio de espécies da região com árvores de uso industrial, o Vale Florestar é o maior projeto de recuperação ambiental já implantado na Amazônia¨, afirmou a empresa.

¨A área total a ser beneficiada pelo programa é de 300 mil hectares. O Vale Florestar já plantou mais de 11 milhões de mudas e recuperou 40 mil hectares, sendo 15 mil plantados com eucalipto e 25 mil destinados à revegetação de mata nativa da região.¨

Segundo a Vale, o investimento total na termelétrica é da ordem de US$ 898 milhões. A termelétrica deverá empregar cerca de 3.500 pessoas no pico das obras e 120 profissionais na operação. A empresa diz que privilegiará mão-de-obra local.

Questionada sobre se trará carvão também para abastecer diretamente as guseiras de Carajás, a empresa afirmou não ter essa informação.

  

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