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Brasil será último país a eliminar hanseníase
24/11/2008 - Fernando Bassette - Folha de S.Paulo

Em seis meses, o Brasil será o único país do mundo que não atingiu a meta de eliminar a hanseníase, afirmou Yohei Sasakawa, embaixador da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a eliminação da hanseníase.

Segundo ele, o Nepal -- que também não eliminou a doença -- apresenta uma curva decrescente de prevalência, e estima-se que eles eliminarão a doença até maio de 2009.

A hanseníase é transmitida pelas vias aéreas e afeta a pele e os nervos, provocando inflamação e perda da sensibilidade. Eliminar uma doença é diferente de erradicá-la. Segundo a OMS, é considerada eliminada uma enfermidade que tenha registro de menos de um caso para cada 10 mil habitantes por ano. Este é um indicador de prevalência e leva em conta o número total de casos (novos e antigos). Erradicar a doença é não ter mais nenhum registro.


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Para Sasakawa, o Brasil tem condições para eliminar a hanseníase, mas ainda ¨falta boa vontade¨. ¨O país tem recursos humanos e o medicamento é grátis. O que falta é determinação para resolver definitivamente a questão. Outros países atingiram a meta, então é uma questão de honra para o Brasil eliminar a doença¨, afirmou o embaixador em visita ao país na semana passada.

Eduardo Hage Carmo, diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, disse que há algum tempo o país não usa mais o indicador de prevalência como critério para avaliar os casos de hanseníase, por isso, não atingiu a meta de eliminação da doença.

¨Passamos a usar o indicador de detecção [que só leva em conta novos casos] como forma de acompanhamento. Hoje, nosso indicador prioritário é o de casos da doença em pessoas com menos de 15 anos. É mais fiel e mostra onde está o foco da transmissão¨, avalia. Como a doença é mais comum em adultos, o fato de existirem muitos casos em crianças e adolescentes indica grande presença de bactérias na região.

¨O número de casos em pessoas com menos de 15 anos caiu 11% entre 2006 e 2007¨, diz. Em números absolutos, reduziu de 3.444 para 3.065 novos casos. Na população em geral, a redução da hanseníase foi de quase 11% (caiu de 44.662 para 39.321 novos diagnósticos).

Segundo o dermatologista Marcos da Cunha Lopes Virmond, presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hansenologia), não existe um ranking internacional com números de detecção da hanseníase. O relatório mais recente da OMS, publicado em agosto deste ano, compara os índices de detecção apenas de Brasil, Nepal e Timor Leste. ¨Provavelmente porque os outros países já estavam com a doença eliminada.¨ Segundo o relatório, em 2005, o Brasil detectou 38.410 casos (taxa de 20,6) e em 2007 foram 39.125 novos casos (taxa de 20,45). O Nepal registrou 6.150 casos em 2005 (22,7) e 4.436 em 2007 (15,72).

Para Virmond, os números podem ser analisados de duas formas: ¨A taxa de detecção no Brasil é praticamente estática, com ligeira queda. Você pode achar que o país ainda tem muitos casos ou pode afirmar que mais pessoas estão sendo diagnosticadas, por isso o controle está melhor¨, ponderou.

Na opinião do dermatologista Dilhermando Augusto Calil, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia - regional São Paulo, o país ainda mantém uma taxa de prevalência muito alta da doença. ¨São cerca de sete ou oito casos para cada 10 mil habitantes. Ainda vamos levar uns dez anos para eliminar a doença¨, disse.

Segundo Calil, os números só vão mudar quando o país investir fortemente em políticas de saneamento básico, higiene, educação e monitoramento dos pacientes. ¨O problema do Brasil é a falta de profissionais capacitados para fazer o diagnóstico precoce da doença e o controle adequadamente. Infelizmente, ainda não temos uma estrutura de saúde adequada.¨

Carmo, do Ministério da Saúde, diz que os médicos do programa Saúde da Família são treinados periodicamente e estão preparados para diagnosticar a doença. Em 2008, foram investidos R$ 12,75 milhões no programa de combate.

Virmond faz uma ressalva. ¨O ¨x¨ da questão não é usar o indicador de prevalência ou de detecção. O importante é sabermos se os pacientes estão recebendo tratamento. Para isso, precisamos de médicos capacitados para fazer o diagnóstico, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o problema é grave.¨

Segundo ele, os países desenvolvidos eliminaram a doença antes mesmo de existirem medicamentos, só com mudanças na qualidade de vida, na alimentação e nas questões de higiene e vigilância sanitária.

  

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