FamÃlias brasileiras vivem pesadelo da casa própria na Espanha 25/05/2009
- Anelise Infante - BBC
O sonho da casa própria na Espanha está virando um pesadelo para 19.800 mil famÃlias, 62% delas imigrantes.
Estas famÃlias se consideram vÃtimas de uma armação de corretoras e bancos que venderam imóveis a quem não podia pagar. Neste drama de inadimplência e embargos há 84 famÃlias brasileiras e uma dÃvida total de quase R$ 20 bilhões.
O problema foi gerado por um esquema imobiliário pelo qual consumidores que nem se conheciam atuavam como fiadores uns dos outros para a compra de casas. O caso dos "avalistas cruzados" vem ganhando grande repercussão na imprensa espanhola.
Muitas corretoras ofereciam o serviço do avalista cruzado, o que significava que um cliente atuava como fiador de outro, tendo as casas como garantias.
Foi o caso da paranaense Rosana Figueiredo de Lima, que comprou uma casa em Madri em 2003. Em um mês foi fiadora de mais duas pessoas. Agora tem três dÃvidas e o nome sujo no Cirbe, a versão espanhola do Serasa.
"Eu pago as minhas prestações, mas ainda devo todo mês outras duas de gente que não paga", disse ela à BBC Brasil.
"Em meia hora assinei tudo. É verdade que não li. Mas me disseram na agência que eram coisas burocráticas e que em cinco anos acabava esse aval para os outros. Então pensei: bom, cinco anos passam voando. Não sabia onde me metia".
"O que aconteceu aqui foi que a chegada indiscriminada de quatro milhões de imigrantes disparou a avareza do mercado. Não houve escrúpulos", afirmou à BBC Brasil o advogado da AESCO, Gustavo Fajard Celis.
Processar as corretoras virou uma perseguição inútil, porque a maioria das agências faliu com a crise econômica, por isso a ONG atua diretamente com os bancos, já que as dÃvidas continuam crescendo e sendo cobradas.
Este aumento foi o que surpreendeu o casal gaúcho Eliana e Roberto Matta Fontenele, morando na Espanha há nove anos e associados à AESCO nesta crise.
Juntos compraram um apartamento em Madri em 2005. Mas deixaram de pagar as prestações ao banco desde que ele ficou desempregado em outubro passado, porque a renda familiar caiu dos 2.600 euros para 750 euros mensais.
"No fim das contas devemos uns 300 mil euros. As prestações nossas mais os 25% do outro apartamento em que participamos como fiadores. Dá uns 1.900 euros por mês. Coisa de maluco", descreveu Roberto à BBC Brasil.
Refinanciamento
Nas negociações com os bancos, a ONG já conseguiu que 1.800 casos fossem resolvidos, com refinanciamento das dÃvidas ou com um acordo para que o comprador more em sistema de aluguel e volte a comprar a casa do banco quando a situação melhore.
Os bancos espanhóis negam ter aceitado esquemas irregulares.
"Não recebemos nenhum processo sobre avais cruzados. A Caja Madrid não participa desse sistema", disse à BBC Brasil um porta-voz do banco estatal madrilenho, vinculado com a maioria dos quase 20 mil casos da AESCO.