Conselho do Irã aceita recontagem de votos; opositor pede suspensão de protesto 16/06/2009
- Folha Online com agências internacionais
O candidato reformista derrotado e principal líder da oposição no Irã, Mir Hossein Mousavi, pediu a seus partidários que não participem do protesto marcado para esta terça-feira contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, para "proteger vidas".
O pedido, reportado por seu assessor, veio horas depois que o Conselho dos Guardiães, um corpo de 12 integrantes que é pilar da teocracia iraniana, rejeitou a anulação da votação, mas afirmou que está disposto a realizar uma recontagem parcial dos votos de sexta-feira passada (12).
"Algumas pessoas no protesto de ontem [segunda-feira] falaram sobre uma marcha hoje [terça-feira]. Esta base de campanha pede às pessoas que evitem a armadilha de confrontos planejados", afirma o assessor de Mousavi, Aboldfazl Fateh, em um comunicado.
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"Mousavi [...] pede que seus apoiadores não participem da manifestação de hoje para proteger suas vidas. A manifestação dos moderados foi cancelado", afirmou o porta-voz.
O tom do discurso pode ser consequência da violência que marcou os protestos desta segunda-feira. Ontem, as agências internacionais de notícias informaram, citando testemunhas e funcionários, que um manifestante foi morto a tiros pela milícia Basij, ligada à Guarda Revolucionária.
Nesta terça-feira, a rádio nacional iraniana Payam relata que ao menos sete pessoas morreram na onda de violência e de protestos em todo o país, além de dezenas de feridos e detidos.
"Um grupo de manifestantes quis atacar um posto militar e realizou diversos atos de vandalismo contra o patrimônio público na praça de Azadi. Infelizmente sete pessoas morreram e várias outras ficaram feridas", informou a rádio.
A Payam não especificou se os mortos eram seguidores de Mousavi ou milicianos Basij, ligados à Guarda Revolucionária.
Confronto
O temor é de confrontos violentos nesta terça-feira já que o regime iraniano convocou o que chamou de contramanifestação para o mesmo local da manifestação oposicionista, uma hora antes, segundo a agência Irna.
O poder islâmico iraniano convocou a participação dos moradores da capital em apoio aos partidários do presidente Ahmadinejad na praça de Teerã.
O conselho de coordenação da propaganda islâmica, um órgão oficial da República Islâmica ligado ao guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, pediu a todos os setores sociais que participem na manifestação para protestar contra os distúrbios dos últimos dias, informa a agência oficial Irna.
O conselho organiza todas as manifestações oficiais do regime islâmico. Em 1999, durante confrontos estudantis, o órgão convocou uma grande manifestação que acabou com o movimento com uma violenta repressão.
Recontagem
O Conselho de Guardiães rejeitou a anulação da eleição, um pedido de Mousavi, mas apoiou a recontagem dos votos das urnas em que existam denúncias de irregularidades.
A declaração foi feita um dia após o pedido do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, de que o órgão investigasse as denúncias da oposição de fraude eleitoral na votação que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad com ampla margem.
"Se o Conselho dos Guardiães chegar à conclusão de que foram cometidas infrações como compra de votos ou utilização de carteiras de identidade falsas ordenará uma recontagem", afirmou o porta-voz do Conselho, Abbas Ali Kadkhodai.
Mousavi que se declarou vencedor após o fechamento dos colégios eleitorais, denunciou ao Conselho de Guardiães que o Ministério do Interior e "um dos candidatos influíram no resultado".
Os resultados provisórios, que devem ser ratificados pelo Conselho para que a reeleição seja oficial, deram a vitória ao atual presidente com cerca de 62% dos votos contra 34% de Mousavi -- embora as pesquisas de intenção de voto indicassem uma disputa acirrada.
Ahmadinejad
O presidente está nesta terça-feira na Rússia, após adiar em um dia a viagem.
Apesar de ter sua reunião com o colega russo, Dmitri Medvedev, cancelada, o presidente iraniano foi à público declarar que "a época dos impérios terminou" e que considera imprescindível elaborar novos mecanismos e estruturas políticas e econômicas internacionais.
"É evidente que a época dos impérios terminou e que jamais renascerão", disse Ahmadinejad na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, organização regional da qual participa como observador.
O iraniano denunciou que o atual sistema político-econômico mundial é antiquado, e considerou ser urgente criar novos mecanismos de gestão de crise e solução dos conflitos internacionais.
Segundo Ahmadinejad, "os eventos e desordens internacionais demonstram que o sistema político e econômico mundial está enfraquecido".
Ele não falou sobre os protestos no Irã, embora tenha defendido no domingo passado (14) que o processo eleitoral foi "livre e saudável" e comparado os eleitores que protestam contra sua reeleição a torcedores de um time que perdeu.