Situação de Honduras ainda é incerta; presidente alega sequestro 28/06/2009
- Agência EFE com Folha Online
Depois da detenção e retirada do país do presidente Manuel Zelaya na manhã deste domingo (28), integrantes de seu governo pediram para que a comunidade internacional e o povo hondurenho "defendam a democracia". Em entrevista, o presidente afirmou ter sido vítima de um "sequestro brutal" arquitetado por "parte de um grupo de militares" do seu país.
"É uma bofetada no país, um retrocesso de 40 ou 50 anos", afirmou Zelaya, em entrevista no começo da tarde de hoje à CNN espanhola. "Há a intenção de destituir a democracia, a partir de um pequeno grupo do Exército. Mas não se trata de todo o Exército, mas sim um grupo de pessoas ambiciosas pelo lucro, que defende uma pequena elite econômica". Segundo ele, todas as comunicações do país "estão interrompidas". "Efetuar a consulta é um direito da democracia", disse ele, em alusão ao referendo convocado por ele, que foi o estopim da crise institucional.
A situação em Honduras é incerta. Até agora, os responsáveis por estes eventos não falaram publicamente e não se sabe se controlam totalmente a situação.
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O próprio Zelaya confirmou, assim como o governo costarriquenho, que está na Costa Rica. Ele também sustentou ter sido vítima de um "sequestro brutal" por parte de um "grupo de militares" de seu país.
Estou aqui em San José como presidente de Honduras. Vou a Manágua (Nicarágua) como presidente de Honduras. Vou exigir os direitos do povo hondurenho. Meu mandato termina em 2010", observou Zelaya em declarações ao canal de televisão Telesur, após esclarecer que não pediu asilo na Costa Rica.
O presidente hondurenho pediu aos soldados de seu país para "que não permitam" a concretização deste "ultraje, deste monstro" em Honduras, e solicitou ao povo para que "proteste sem violência".
Zelaya exigiu, além disso, que a embaixada dos Estados Unidos "esclareça que não está por trás" de sua saída forçada do poder.
Golpe
Carros blindados e tanques tomaram hoje as ruas de Tegucigalpa, enquanto aviões militares sobrevoam a cidade horas depois de o presidente Zelaya ter sido detido pelas Forças Armadas.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, convocou uma reunião urgente do Conselho Permanente do organismo para analisar a crise em Honduras e pediu que a comunidade internacional se una contra esta "grave alteração do processo democrático do continente".
O presidente americano, Barack Obama, pediu "respeito às normas democráticas" e a resolução das disputas através de um "diálogo livre de interferência externa".
Em declarações ao canal Telesur, com sede em Caracas, a ministra das Relações Exteriores de Honduras, Patricia Rodas, disse estar "sitiada" e reivindicou o apoio da comunidade internacional --além de convocar o povo hondurenho a se concentrar em frente à casa presidencial em Tegucigalpa.
Segundo Rodas, os cidadãos estão se mobilizando, mas os militares "não os deixam circular".
A chanceler relatou que "estão cortando a luz e também o telefone" e advertiu que o Congresso hondurenho pensa em se reunir hoje, em encontro que, segundo versões e fontes extra-oficiais, seria para jurar o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, como novo chefe de Estado.
Crise institucional
Zelaya, esquerdista eleito em 2005, se colidiu contra outros segmentos do governo e líderes militares sobre a questão do referendo. Ele queria apoio popular para instalação da chamada "quarta urna" nas eleições de 29 de novembro, simultaneamente presidencial, legislativa e municipal. É uma consulta sobre uma consulta: o aliado do presidente Hugo Chávez quer que os eleitores decidam se apoiam ou não a convocação de uma nova Constituinte dentro de cinco meses.
A consulta, declarada ilegal pelo Congresso, pela Promotoria e pela Justiça, sofre forte oposição das Forças Armadas, da Igreja Católica e até de parte do governista Partido Liberal.
No entanto, no começo da manhã, o secretário particular de Zelaya, Eduardo Enrique Reina, disse à imprensa local que a Guarda de Honra o informou que "o presidente foi deportado pelos militares".
Horas depois, a ministra de Segurança costarriquenha, Giannina Del Vecchio, confirmou que Zelaya estava em perfeito estado de saúde e na qualidade de "hóspede" em San José, com a aprovação do presidente do país, Oscar Arias.
Antes de Obama se pronunciar, a ministra Rodas lamentou não saber "qual é a reação do governo dos Estados Unidos. O embaixador dos EUA não nos responde".
Para a chanceler, os responsáveis pelos fatos são "o grupo econômico que domina a imprensa, o presidente do Congresso" e grupos que pretendem "vencer a vontade" do povo.
Quebra da Constituição
O presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D'Escoto, condenou "os eventos que ocorrem atualmente em Honduras, que representam uma quebra da legalidade constituinte e democrática", disse o porta-voz, Enrique Yeves.
D'Escoto pediu o retorno imediato de Zelaya. "A única solução é que o presidente constitucional e democraticamente eleito volte a seu cargo para exercer as funções atribuídas pela soberania popular", disse.