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Presidente da Bolívia recebe Lula em polo produtor de coca
22/08/2009 - Fabiano Maisonnave - Folha de S.Paulo

Em todo o Chapare, na região central da Bolívia, sobram pequenos comércios oferecendo folhas de coca para mascar em sacos verdes de tamanhos variados. Mas a maior parte do produto vendido ali não sai dos milhares de hectares plantados nas redondezas: é trazido da região dos Yungas, no departamento de La Paz, distante cerca de 250 km.

"A coca de La Paz é melhor porque é mais grossa, tira a fome e ajuda a passar a noite em claro, enquanto a chaparenha quase não dá efeito", explica o agricultor Teodoro Hinojosa, 44, enquanto comprava 200 gramas pelo equivalente a R$ 6.

A ausência da coca do Chapare no comércio local talvez seja a principal evidência de que o berço político do ex-cocaleiro Evo Morales e palco da visita de hoje do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é atualmente o epicentro da produção de cocaína da Bolívia, o maior fornecedor da droga ao Brasil.


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"A coca produzida no trópico boliviano [Chapare] é dura e provoca lesões nas gengivas quando se mastiga. Com isso, se pode especular que grande parte da coca produzida aqui obviamente é destinada ao narcotráfico", disse ontem à Folha o coronel Oscar Nina, comandante da Força Especial da Luta Contra o Narcotráfico (FELCN), a principal força antinarcóticos da Bolívia.

Mercado latino

Dados da FELCN mostram que cerca de 70% da cocaína boliviana tem o Brasil como destino, enquanto o restante se divide entre Argentina, Chile e Paraguai -praticamente nada vai aos EUA, abastecido principalmente pela Colômbia.

Atualmente, a Bolívia é o terceiro maior produtor de cocaína, atrás de Colômbia e Peru. Mas números do Escritório da ONU contra a Droga e o Crime (UNODC) mostram um aumento de 6% na área de cultivo, o maior índice dos três países.

De acordo com a UNODC, há 9.500 hectares plantados no Chapare, enquanto nos Yungas a área é de 20.700 hectares. Ainda segundo as Nações Unidas, 66% da produção boliviana é desviada para o narcotráfico.

O estudo da UNODC, divulgado em junho, também mostra um enorme crescimento do peso da produção de coca na economia boliviana: no ano passado, foi responsável por cerca de 3% do PIB do país, contra 0,37% dez anos atrás.

Boa parte desse crescimento foi sob Morales, que também acumula o cargo de presidente das Federações dos Cocaleiros do Chapare: desde que ele assumiu o país, em janeiro de 2006, até o ano passado, o potencial de produção de cocaína do país aumentou em 20%, sempre de acordo com os números da UNODC.

Para Felipe Cáceres, o "czar antidrogas" do governo Morales, os números são falsos. "A ONU e os EUA consideram a folha de coca como droga. É certo que houve um aumento de 6% na produção de folha de coca, mas não um aumento de produção de droga. São dados falsos, tendenciosos e políticos, já que, neste momento, estamos iniciando uma etapa eleitoral", afirmou, em relação à eleição presidencial, marcada para dezembro.

Cáceres, ex-cocaleiro do Chapare como Morales, negou ainda que a coca da região vá principalmente à cocaína. E explicou assim a sua ausência nos mercados da região. "A folha de coca é como ter cerveja de várias fábricas e variedades. As pessoas sempre têm preferência pela sua folha", afirmou ontem à reportagem, no Chapare.

Sob Morales, a Bolívia adotou a controvertida política "coca não é cocaína". Na prática, significa uma maior tolerância para as plantações (a área cultivada considerada legal subiu de 12 mil hectares para 20 mil hectares), o distanciamento da histórica presença americana no combate à droga e um enfoque maior em operações contra a cocaína.

Apesar do crescimento da produção boliviana e de o Brasil ser o principal destino, o tema do narcotráfico terá um papel secundário na visita de Lula ao Chapare. De acordo com o coronel Nina, o encontro entre os dois presidentes servirá para discutir uma maior colaboração entre Brasil e Bolívia no combate ao narcotráfico. Entretanto, não está prevista a assinatura de nenhum acordo sobre o assunto.

  

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