Nelsinho diz estar "amargamente" arrependido e pede chance para ficar na F-1 21/09/2009
- Folha Online
Em um comunicado oficial divulgado nesta segunda-feira, o piloto brasileiro Nelsinho Piquet disse estar "amargamente" arrependido pelo caso da armação do acidente no GP de Cingapura de F-1, em 2008, e pediu que alguma equipe dê oportunidade para que ele possa continuar na categoria.
Nesta segunda, o Conselho Mundial da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) decidiu banir da F-1 o italiano Flavio Briatore, ex-chefe da equipe Renault, considerado o mentor do caso. A escuderia foi advertida com a possibilidade de suspensão por dois anos caso se envolva em novo incidente. Os pilotos Nelsinho e Fernando Alonso foram poupados.
"Me arrependo amargamente de minhas ações para seguir as ordens que me foram dadas. Eu desejo todo dia que eu não tivesse feito isso", disse Nelsinho na nota.
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O piloto reconheceu que terá dificuldades para continuar sua carreira, mas pediu uma nova chance. "Eu sei que terei que recomeçar minha carreira do zero. Só o que posso fazer é esperar que um time reconheça o quanto fui reprimido na Renault e me dê a oportunidade de mostrar o que prometi na minha carreira na F3 e na GP2", afirmou.
Nelsinho também pediu desculpas às pessoas que trabalham na F-1, aos fãs e aos dirigentes da categoria e disse considerar que o lado positivo do episódio é que fatos como este não deverão voltar a acontecer.
Reunião do Conselho
Após a reunião, foi decidida a suspensão da Renault por dois anos. No entanto a punição só será cumprida pela escuderia francesa caso cometa mais uma infração. Nelsinho Piquet e o espanhol Fernando Alonso, que venceu a prova beneficiado pelo acidente do então companheiro, não foram suspensos.
O ex-chefe da escuderia, o italiano Flavio Briatore, foi banido da F-1. Pat Symonds, ex-engenheiro chefe do time, foi suspenso da categoria por cinco anos.
Como estava previsto, Nelsinho Piquet e Alonso, além do presidente da Renault F-1, Bernard Rey, compareceram ao Conselho Mundial.
A Renault já havia anunciado que não iria contestar na reunião de hoje as acusações de que orientou Nelsinho a sofrer o acidente e culpou Briatore e Symonds pela suposta armação.
Os dois principais acusados no escândalo revelado por Nelsinho, Briatore e Symonds, não estavam presentes. Os dois foram demitidos da Renault na última semana.
Segundo o depoimento, Nelsinho foi orientado por Symonds a bater entre as voltas 13 e 14 da prova, na curva 17, um local que obrigaria a entrada do safety car na pista. A entrada do carro de segurança naquele momento acabou permitindo a Alonso assumir a liderança da prova e conquistar uma surpreendente vitória.
Confira a íntegra da nota divulgada por Nelsinho Piquet:
"Estou aliviado que a investigação da FIA foi concluída. Aqueles que controlam a equipe Renault F1 agora tomaram a decisão, assim como eu fiz, de assumir que é melhor que a verdade seja conhecida e aceitar as consequências. A coisa mais positiva que pode vir do fato de eu ter levado isso à atenção da FIA é que nada assim vai acontecer novamente.
Me arrependo amargamente de minhas ações para seguir as ordens que me foram dadas. Eu desejo todo dia que eu não tivesse feito isso.
Não sei até que ponto minhas explicações farão as pessoas entenderem porque para muitos ser um piloto de corridas é um privilégio incrível, assim como era para mim. Tudo o que posso dizer a você é que minha situação na Renault se tornou um pesadelo. Depois de ter sonhado ser um piloto de Formula Um e de ter trabalhado tão duro para chegar lá, me encontrei à mercê de Sr. Briatore. Seu verdadeiro caráter, que só foi conhecido anteriormente por pessoas que ele tratou desta forma no passado, é agora conhecido.
O Sr. Briatore foi meu manager e chefe de equipe, ele tinha meu futuro em suas mãos mas ele não ligou nem um pouco para isso. Na época do GP de Cingapura ele me isolou e me levou ao ponto mais baixo em que eu já estive em minha vida. Agora que estou fora daquela situação eu não posso acreditar que concordei com aquele plano, mas quando ele foi colocado para mim e senti que não estava em posição de recusar. Ouvindo agora as reações do Sr. Briatore para minha batida e ouvindo os comentários que ele fez para a imprensa nas últimas duas semanas deixa claro para mim que eu estava simplesmente sendo usado por ele para depois ser descartado e deixado em situação ridícula.
Tive que aprender algumas lições bastante difíceis nos últimos 12 meses e reconsiderei o que é importante na vida. O que não mudou foi meu amor pela Formula Um e a vontade de correr novamente. Eu sei que terei que recomeçar minha carreira do zero. Só o que posso fazer é esperar que um time reconheça o quanto fui reprimido na Renault e me dê a oportunidade de mostrar o que prometi na minha carreira na F3 e na GP2. O que pode ser garantido é que não haverá piloto na Formula Um mais determinado do que eu a provar algo.
Como minhas palavras finais sobre este caso, eu gostaria de repetir que peço desculpas àqueles que trabalham na Formula Um (incluindo muitas pessoas boas na Renault), aos fãs e à entidade reguladora [FIA]. Não espero que isso seja perdoado ou esquecido mas pelo menos agora as pessoas podem chegar às suas conclusões baseados no que realmente aconteceu."