Militares cercam embaixada do Brasil em Honduras e expulsam manifestantes 22/09/2009
- Folha Online com France Presse, Efe e Associated Press
Militares hondurenhos cercaram na manhã desta terça-feira a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa para conter as manifestações em favor do presidente deposto, Manuel Zelaya, que está refugiado na embaixada desde esta segunda-feira.
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Milhares de manifestantes passaram a madrugada desta terça-feira diante do edifício, apesar do toque de recolher imposto pelo governo interino de Roberto Micheletti. Eles passaram a noite cantando, dançando e iluminando as ruas com seus celulares, depois que a polícia cortou a eletricidade do quarteirão inteiro, relata a agência de notícias Associated Press.
O toque de recolher entrou em vigor às 16h desta segunda-feira (19h no horário de Brasília) e foi estendida até as 18h desta terça-feira (21h em Brasília) para, segundo o governo, prevenir distúrbios.
O porta-voz do Departamento de Segurança, Orlin Cerrato, afirmou à agência Associated Press que a área ao redor da embaixada está agora sob controle das autoridades. Não há relato sobre prisões ou distúrbios maiores.
Segundo a agência de notícias France Presse, os soldados e policiais hondurenhos, muitos com os rostos cobertos com gorros, chegaram ao local às 6h (9h no horário de Brasília). Eles lançaram bombas de gás lacrimogêneo e agrediram com cassetetes os quase 4.000 simpatizantes de Zelaya para obrigar uma dispersão da frente do prédio da representação brasileira.
Depois de desalojar os manifestantes, ainda segundo a France Presse, os militares instalaram equipamentos de som direcionados à embaixada brasileira e começaram a tocar em alto volume o hino nacional de Honduras.
"Os militares armados e encapuzados cercaram a embaixada, jogaram gás lacrimogêneo em direção à embaixada e agrediram as pessoas. Foram bem agressivos com as pessoas", afirmou à France Presse o jornalista independente Nelson Oliva, que também está dentro da representação diplomática.
A agência de notícias Efe afirmou que as dezenas de pessoas que estavam em frente à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa foram dispersadas pela tropa de choque da polícia com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
No prédio da representação diplomática brasileira, estão Zelaya, vários familiares e alguns seguidores e jornalistas. Segundo a mulher de Zelaya, Xiomara Castro, as autoridades cortaram na noite desta segunda-feira o fornecimento de luz e água no prédio.
Violência
O governo interino de Honduras disse nesta segunda-feira que responsabilizará o Brasil por possíveis atos de violência como consequência de ter dado refúgio a Zelaya em sua embaixada.
"A tolerância e a provocação que se realiza desde o local dessa representação do Brasil são contrárias às normas do direito diplomático e transformam a mesma e seu governo nos responsáveis diretos dos atos violentos que possam suscitar dentro e fora dela (embaixada)", disse a chancelaria do governo interino, em nota.
O governo interino afirmou ainda que é "inaceitável" que Zelaya possa formular "chamados públicos à insurgência e à mobilização política" da embaixada do Brasil.
Protesto
Zelaya convocou na madrugada desta terça-feira os hondurenhos à capital Tegucigalpa para aumentar a pressão sobre o regime interino de Roberto Micheletti, que deve "ceder" e restaurar a 'constitucionalidade".
"Venham para a capital, porque aqui há de estabelecer-se um diálogo pacífico, mas que deve restabelecer a constitucionalidade", disse Zelaya.
A crise causada pela deposição de Zelaya em 28 de junho passado foi mediada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que apresentou o Acordo de San José, texto que previa a restituição de Zelaya e a renúncia ao referendo pela reeleição que deu início à crise.
Após duas rodadas de negociações, Zelaya disse aceitar o acordo. Já o governo de Micheletti afirmou que a restituição do presidente deposto é inaceitável.
"Se o regime não ceder vão recrudescer as medidas da comunidade internacional. O povo hondurenho também vai adotar medidas", declarou, sem dizer quais medidas seriam.
Zelaya fez as declarações na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado já que o governo interino tem mandado de prisão contra ele.
Histórico
Zelaya foi deposto nas primeiras horas do dia 28 de junho, dia em que pretendia realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais que havia sido considerada ilegal pela Justiça. Com apoio da Suprema Corte e do Congresso, militares detiveram Zelaya e o expulsaram do país, sob a alegação de que o presidente pretendia infringir a Constituição ao tentar passar por cima da cláusula pétrea que impede reeleições no país.
O presidente deposto, cujo mandato termina no início do próximo ano, nega que pretendesse continuar no poder e se apoia na rejeição internacional ao que é amplamente considerado um golpe de Estado --e no auxílio financeiro, político e logístico do presidente venezuelano-- para desafiar a autoridade do presidente interino e retomar o poder.
Isolado internacionalmente, o presidente interino resiste à pressão externa para que Zelaya seja restituído e governa um país aparentemente dividido em relação à destituição, mas com uma elite política e militar --além da cúpula da Igreja Católica-- unida em torno da interpretação de que houve uma sucessão legítima de poder e de que a Presidência será passada de Micheletti apenas ao presidente eleito em novembro. As eleições estavam marcadas antes da deposição, e nem o presidente interino nem o deposto são candidatos.