Conselho de Segurança da ONU discute crise, mas não deve declarar apoio a Zelaya 25/09/2009
- Folha Online
A pedido do Brasil, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) se reunirá nesta sexta-feira para discutir a crise política em Honduras e o futuro do presidente deposto Manuel Zelaya, que se refugia desde segunda-feira (21) na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Zelaya e o presidente interino Roberto Micheletti disseram nesta quinta-feira em reunião com os candidatos às eleições presidenciais de novembro, que estão dispostos a retomar o diálogo sob mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Árias.
O Conselho de Segurança tinha se mantido até agora praticamente de fora da crise. Um diplomata ligado ao Conselho disse à agência de notícias Reuters que o Conselho não deverá tomar nenhuma ação formal para restituir Zelaya, mas que manteria um diálogo sobre a crise.
A atual presidente do Conselho, a embaixadora americana Susan Rice, convocou a reunião para esta sexta-feira, em Nova York (EUA), com caráter preliminar e consultivo apenas para decidir se o principal órgão da ONU entrará no caso.
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A ONU suspendeu temporariamente a cooperação com a comissão eleitoral de Honduras antes da eleição presidencial programada para novembro, alegando que as condições não eram propícias para uma votação com credibilidade.
Segundo fontes diplomáticas citadas pela agência de notícias Efe, a reunião acontecerá às 12h, a portas fechadas.
Na quarta-feira (23), antes de um encontro com dezenas de chanceleres em Nova York, onde aconteceu a Assembleia Geral da ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu uma reunião do Conselho de Segurança com o objetivo de discutir "a segurança do presidente Zelaya e a integridade física das instalações da Embaixada e de seu pessoal".
O pedido já recebeu apoio dos Estados Unidos e da França.
Zelaya está na embaixada brasileira desde segunda-feira (21), quando retornou a Honduras em busca, segundo ele, de "diálogo direto" para resolver a crise causada por sua deposição, em 28 de junho passado. Por causa da presença de Zelaya, a embaixada está cercada, e as pessoas que permanecem lá dentro estão com dificuldades para receber comida. Muitas não tomam banho há três dias. Não há previsão de quando ele deixará a missão brasileira.
Diálogo
A crise em Honduras parece caminhar para uma solução negociada, após as decisões do governo de fato e do presidente interino, Manuel Zelaya, de retomar o diálogo.
"Obtivemos o compromisso do senhor Micheletti de reiniciar o diálogo com base neste referencial [o plano do presidente da Costa Rica, Oscar Arias] ou em qualquer outro", para buscar uma saída à crise política do país, afirmou o candidato do Partido Liberal, Elvin Santos, um dos aspirantes à Presidência hondurenha.
Arias foi o mediador das primeiras rodadas de negociações em Honduras e elaborou o Acordo de San José, que estabelece o retorno imediato de Zelaya -- ponto que Micheletti diz não estar disposto a aceitar.
Santos, Porfirio Lobo (Partido Nacional), Felícito Avila (Democracia Cristã) e Bernard Martínez (Partido Integração e Unidade) mantiveram uma reunião de mais de duas horas nesta quinta-feira com Micheletti, na Casa Presidencial.
Após o aval de Micheletti, o grupo se encontrou com Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
Simultaneamente, a chancelaria do regime de fato divulgou um comunicado confirmando que Micheletti está aberto a retomar o diálogo para superar a crise.
"O governo confirma que aceitou a proposta do ex-presidente [dos Estados Unidos] Jimmy Carter para que visite nosso país nos próximos dias, com uma missão integrada pelo presidente da Costa Rica, senhor Oscar Arias, e o vice-presidente do Panamá, senhor Juan Carlos Varrela".
O "início do diálogo" já havia sido anunciado por Zelaya, após conversar com o bispo auxiliar de Tegucigalpa, Juan José Pineda, que foi à embaixada do Brasil.
Zelaya revelou que na noite de quarta-feira conversou com "um representante do governo interino", e qualificou a conversa de início "positivo" do diálogo nacional.
O governo interino destacou que diante da decisão de aceitar a visita de Carter e de Arias a Tegucigalpa, pediu o adiamento da viagem que o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, faria neste final de semana a Honduras, à frente de um grupo de chanceleres da região.
"O presidente Roberto Micheletti Baín estará à disposição para receber, posteriormente e em uma data acertada pelos canais diplomáticos, a missão integrada por alguns chanceleres americanos e por funcionários da OEA".